quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cérebro social




O volume dessa estrutura pode ter relação com a 
socialização do indivíduo
Neusa Pinheiro

    A amígdala cerebral faz parte de um grupo de estruturas que compõe o sistema límbico do cérebro e que inclui, além da própria amígdala,  o hipotálamo, o tálamo e o hipocampo, entre outras. O sistema é responsável pelo comportamento emocional, aprendizado e memória, e ainda da chamada vida vegetativa que abrange a digestão de alimentos, a circulação sanguínea e a excreção. É constituído de células chamadas de neurônios, que são especializadas e responsáveis em captar e transmitir os estímulos recebidos do ambiente para o corpo, através de uma rede neurotransmissora, formando os chamados impulsos nervosos.
    A amígdala é considerada a porta de entrada do sistema límbico. Ao ser estimulada, pode ocasionar algumas experiências de comportamento como raiva, medo, prazer e sexualidade. Também padroniza respostas comportamentais apropriadas para cada ocasião. Existem duas amígdalas, uma para cada hemisfério do cérebro.
    Recentemente, um estudo realizado em 58 adultos saudáveis, por Kevin Bickart e colaboradores, da Universidade de Boston, descobriu que o volume da amígdala tem correlação com o tamanho e a complexidade das redes sociais nos adultos, ou seja, quanto maior é o órgão, maior é a quantidade de amigos e parentes que convivem com o portador dele, embora não se tenha concluído se a amígdala cerebral cresceria em proporção ao número de amigos. 
    Os pesquisadores propuseram, no caso, que o volume da amígdala deve estar relacionado ao tamanho dos grupos sociais, em parte porque o tamanho de uma região do cérebro é um indicador da sua capacidade de processamento.
    “A amígdala medeia o processamento das informações relevantes socialmente e a expressão do comportamento emocional. No entanto, a percepção social e as demandas subsequentes são resultantes da atividade de uma rede neural, e não somente do desempenho funcional de estruturas cerebrais individuais”, diz a médica Roberta Monterazzo Cysneiros, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).  
    A hipótese do “cérebro social”, expressão cunhada por Leslie Brothers em 1990, sugere que evolutivamente quem vive em maiores e mais complexos grupos sociais possuem regiões do cérebro maiores, com maior capacidade para realizar cálculos pertinentes. Este cérebro social define-se como uma complexa rede de áreas cerebrais ou rede neural, que nos permite reconhecer outros indivíduos, avaliar os seus estados mentais (por exemplo, suas intenções, disposições, desejos e crenças), compartilhar sua atenção e se posicionar no lugar do outro. “Esta ’ação’, denominada de percepção social, ocorre por meio de análise e interpretação de pistas biológicas, tais como expressões faciais, gestos, movimentos corporais e tipo e direção do olhar. A partir desta percepção surgem outras demandas, como tomada de decisão, planejamento de ações e estratégias, baseando-se em um sistema de recompensa, para permitir uma ação apropriada para cada situação ou circunstância, garantindo aos membros da espécie uma maior chance de adaptação e de sobrevivência em ambientes complexos”, prossegue a médica.

Distúrbios e desvios

    Lesões no sistema límbico, ou, mais especificamente, na amígdala cerebral, podem levar a alguns desvios de comportamento. Em experimentos, a sua destruição faz com que um animal se torne dócil, sem preferência sexual, descaracterizado afetivamente e, o que é potencialmente perigoso, indiferente às situações de risco. O estímulo da amígdala com impulsos elétricos provoca violenta agressividade. Nos seres humanos o indivíduo perde, com a lesão, a percepção do sentido afetivo vindo de uma informação exterior, como, por exemplo, a aproximação de um amigo. Ele percebe o que está vendo, identifica a pessoa, mas não tem noção se gosta ou não desta pessoa.
    Alguns distúrbios ou transtornos já foram relacionados às lesões da amígdala. Um estudo realizado pela equipe de Murray B. Stein, da Universidade da Califórnia, nos EUA, utilizou uma técnica chamada ressonância magnética funcional para medir a atividade cerebral em pacientes afetados pela TAS (Transtorno de Ansiedade Social) ou FS (Fobia Social) e em indivíduos não portadores do distúrbio.
    Várias fotografias com rostos foram mostradas aos voluntários. Os pesquisadores descobriram que, em relação aos voluntários que não apresentavam o distúrbio de ansiedade, os indivíduos com fobia social tiveram uma resposta hiperativa na amígdala quando viram rostos com expressões de raiva ou arrogância.
    Também já foram encontradas provas, por meio de estudos de neuroimagem (PET-Scan), que avalia a atividade cerebral através do metabolismo de glicose no cérebro, que os pacientes com o Transtorno Bipolar de Humor (antiga psicose maníaco-depressiva, que se caracteriza por períodos de depressão alternados com períodos de mania) possuem maior atividade na estrutura da amígdala cerebral.
    Enfim, pode-se questionar o fato de ser evidente que o cérebro controla o comportamento do indivíduo, e a amígdala, mais especificamente, as relações sociais e emoções. Mas o comportamento pode controlar o cérebro? Roberta Cysneiros responde: “Ao se analisar o contexto do ponto de vista individual, percebemos que nascemos com o potencial para desenvolver as habilidades sociais necessárias para atender às diferentes demandas que o convívio em sociedade exige. No entanto, devemos evitar a premissa imediatista de que os indivíduos já nascem dotados de uma rede neural apta para trafegar em redes sociais amplas e complexas e que, quanto mais desenvolvida ela for, maior e mais complexa será a rede social que iremos participar. Ao invés disso, as habilidades sociais são aprendidas no convívio em sociedade, esculpindo o cérebro, graças à plasticidade neural, e influenciando o indivíduo ao longo da vida”.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Visão distorcida



A doença atinge 1,6 milhão de brasileiros e a
 atenção é mais humanizada

Renata Bernardis

      Visões e vozes são alguns dos sintomas apresentados por pessoas que sofrem de esquizofrenia. Usualmente elas vivem também momentos de apatia e desordem de pensamento, com alterações de juízo, falsas ideias de perseguição e dificuldade em se relacionar. A esquizofrenia é uma doença com manifestações psíquicas cujos sinais e sintomas se dão na área do pensamento, percepção e emoções. Afeta cerca de 1% da população mundial e conta com, aproximadamente, 56 mil novos casos a cada ano no Brasil. No total, estima-se que exista cerca de 1,6 milhão de brasileiros com esquizofrenia, um dos transtornos mais graves na psiquiatria.

      Descrita pela primeira vez no fim do século XIX, a esquizofrenia ganhou esse nome do psiquiatra suíço Eugen Bleuler, como resultado da junção dos termos gregos  skizo (divisão) e phrenos (espírito), em virtude dos sintomas de dissociação que provoca no paciente. O curso da doença, que começa no final da adolescência ou início da idade adulta – geralmente, depois dos 15 anos e antes dos 30 – é sempre crônico. 
      De acordo com Rodrigo Bressan, psiquiatra e coordenador do Programa de Esquizofrenia (Proesq) – serviço psiquiátrico ambulatorial do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que atende, atualmente, cerca de 300 pessoas –, o diagnóstico é estritamente clínico, pois não existem marcadores biológicos próprios para essa doença nem exames complementares específicos. Mas alerta: “Apesar de não existirem exames que a confirmem, não significa que eles sejam dispensáveis. Por meio deles, é possível descartar outros quadros, o que reforça o diagnóstico da esquizofrenia”, diz, ao explicar que a doença tem causa multifatorial. Ela tem base genética, fatores sociais, familiares e psicológicos. A interação destes fatores é determinante para  desencadear a doença, geralmente percebida em razão de um surto, pois os sintomas da esquizofrenia são, na maior parte das vezes, sutis. 
      “Desse primeiro surto até a primeira visita ao psiquiatra há, geralmente, um intervalo de mais de um ano”, relata Jorge Assis, vice-presidente da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre), entidade criada em 2002 com o intuito de informar, combater o estigma, por meio de ações na mídia, lutar contra a falta de medicação, divulgar materiais educativos no site e desenvolver atividades educativas nas comunidades. “O primeiro atendimento psiquiátrico demora para acontecer, pois, na maioria das vezes, a família não aceita a doença e busca vários médicos na esperança de receber um diagnóstico diferente”, explica. A esquizofrenia é uma doença crônica que ainda não tem cura, mas é tratada com remédios que, segundo Assis, garantem bons resultados e menos efeitos colaterais. “A indústria farmacêutica tem evoluído muito, assim como o conhecimento médico acerca do cérebro.” 
      Os medicamentos antipsicóticos para tratar a esquizofrenia, surgidos nos anos 1950, evoluíram e estão cada vez mais específicos e seguros no controle dos sintomas da doença, também controlada por atendimentos clínicos frequentes. 
      No Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo o tratamento é multifatorial, com psicoterapia. Realizado em longo prazo, o tratamento é mantido mesmo fora dos momentos de crise com o intuito de garantir à pessoa com esquizofrenia uma vida estável. O professor Helio Elkis, que é coordenador do Programa de Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria (IPq), do HC, conta que os mais de 500 pacientes atendidos pela entidade são chamados de refratários, pois não respondem aos psicóticos de primeira e segunda geração e, por isso, são tratados com clozapina. “Cerca de 30% das pessoas com esquizofrenia não respondem aos psicóticos de primeira e segunda geração”, diz, ao relatar que a entidade poderia receber novas pessoas refratárias dessa grande parcela de pessoas com esquizofrenia se a rede pública conseguisse absorver os pacientes do HC que hoje apresentam quadro estável.
      Contudo, alguns medicamentos não estão disponíveis nas unidades básicas de saúde e nem sempre há disponibilidade para a realização de hemogramas, exame frequentemente realizado em pessoas tratadas com clozapina, medicamento que em dosagem errada pode causar deficiência de glóbulos brancos. 
      Para Assis, da Abre, o atendimento em saúde é deficitário de maneira geral em todo o Brasil e na saúde mental não é diferente. “Entre 10 pessoas com esquizofrenia, não é exagero afirmar que um é tratado. E, em caso de crise psicótica, a dificuldade aumenta, pois as internações são difíceis de serem conseguidas.”
      A boa informação é que as internações, que por muito tempo foram utilizadas de forma incorreta e abusiva, em hospitais psiquiátricos que apresentavam condições desumanas, mudaram em muitos locais. Os próprios Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que atendem pessoas com  transtornos mentais graves, como psicoses e neuroses, incluindo a esquizofrenia, garantem internações bem mais humanizadas. A reforma psiquiátrica, iniciada há cerca de vinte anos e formalizada pela Lei no 10.216/01, impulsionou a construção de um modelo mais humanizado de atenção integral na rede pública de saúde, que mudou o foco da hospitalização como centro ou única possibilidade de tratamento aos pacientes.
      De acordo com o Ministério da Saúde, que prevê investir 1,8 bilhão de reais na área de saúde mental em 2011, existem hoje 1.650 CAPS, presentes em todos os estados da federação.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Trauma grave



Quedas e acidentes de trânsito são as principais
causas de lesões na coluna

Keli Vasconcelos


        Quem nunca se empolgou e deu um mergulho de cabeça na piscina? E, na pressa de chegar a um compromisso, se esqueceu de colocar o cinto de segurança? Ou, ainda, subiu no telhado da casa sem proteção alguma? Ações como estas podem custar a coluna vertebral, causando lesões graves como trauma raquimedular (TRM). Segundo dados do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), 56% dos acidentados acreditavam que a causa do acidente estava na sua falta de atenção e 43% não tinham ideia da gravidade de se machucar a coluna. A pesquisa foi realizada entre 2007 e 2008 com pacientes atendidos na instituição diagnosticados com trauma de coluna.
        Outro dado importante é que vítimas de acidentes represen-taram 90% dos atendimentos em urgências e emergências, sendo quedas e acidentes de trânsito as principais causas. Os resultados foram obtidos pelo Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), do Ministério da Saúde, no levantamento feito em 74 serviços de saúde de 23 capitais e Distrito Federal, entre setembro e novembro de 2009. O estudo VIVA apontou ainda que, entre os homens, quedas (31,8%) e transporte (29,6%) foram as duas principais causas de acidentes. Além disso, entre as pessoas que buscaram atendimento, 22,9% do total de vítimas são jovens de 20 a 29 anos. Os estudos revelam ainda que o TRM atinge mais pacientes do sexo masculino na faixa entre 20 e 40 anos.
        Mergulho em águas rasas, direção negligente, armas de fogo, realização de obras sem os devidos cuidados e sem os chamados equipamentos de proteção pessoal (EPIs), que abrangem os acidentes de trabalho, são algumas das situações que resultam em lesões graves – e, por muitas vezes, irreversíveis – na coluna.   
        Adriana Rosa Cristante, fisiatra da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), explica que a coluna vertebral é constituída pela parte óssea (vértebras), ligamentos entre as vértebras, discos intervertebrais e no canal raquiano (formado pelas vértebras), a medula espinhal.
        “Com o trauma, pode ocorrer fratura da coluna sem lesar a medula espinhal ou fratura da coluna associada à lesão da medula espinhal, que constitui o trauma raquimedular propriamente dito, no qual a pessoa já nota déficit de força e sensibilidade abaixo do nível da lesão”, conta. Nesse momento, completa a profissional, a medula já sofre a lesão pelo próprio trauma em si (chamada de lesão primária) e imediatamente segue-se uma série de reações inflamatórias que vão gerar um quadro de edema, inicialmente na medula, que aumenta sua área (lesão medular secundária).
        O TRM compreende as lesões na extensão da coluna vertebral, que abrangem partes vasculares e ósseas, a própria medula e ligamentos, entre outras regiões, comenta Fabiano Nunes Faria, ortopedista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Esse problema pode desencadear uma interrupção fisiológica e temporária da função medular, conhecida pelos médicos como choque medular, em que, clinicamente, o paciente apresenta quadro de anestesia e paralisia abaixo do nível da lesão. Na fase inicial, que dura dias ou até semanas, não é possível obter um prognóstico completo sobre a região lesionada. “Após o término (do choque medular), podemos caracterizar se houve lesão definitiva, classificada em completa ou incompleta, conforme a presença ou ausência de função sensitiva e motora”, pontua o ortopedista do Hospital Beneficência Portuguesa. 
        De acordo com os especialistas, a avaliação da extensão da lesão medular é feita por meio de aspectos de força, sensibilidade e reflexos, segundo o protocolo internacional da American Spinal Injury Association (ASIA), classificando nível e grau de lesão. “Considerando que a lesão pode ocorrer em qualquer nível da coluna e ser de natureza completa ou incompleta”, acrescenta Adriana Cristante da AACD, “existe uma variabilidade  grande de apresentações clínicas entre as vítimas de TRM, como tetraplégicos completos e incompletos, paraplégicos completos e incompletos. Portanto, em alguns casos, pode haver recuperação dos déficits, mas em outros pode não haver quaisquer recuperações.”
        A terapia para reabilitação e plus na qualidade de vida dos pacientes lesionados engloba uma equipe multidisciplinar e não apenas o papel de fisioterapia. Ortopedista, neurocirurgião, fisiatra, fisiologista, terapeuta ocupacional, enfermeiro e psicólogo, entre outros, estão no time de médicos que vão auxiliá-los. 
        Vale lembrar que esse problema não é apenas motor e que outras sequelas são referidas, como em relação ao controle na bexiga e intestino, por exemplo. A readaptação é um processo constante que garante o ganho de independência nas atividades que são consideradas corriqueiras para muitos. Porém, são novos desafios para os afetados pelo TRM.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A voz do bebê



Quando chora, o bebê expressa suas necessidades básicas

        O momento em que o casal mais espera ouvir o choro do bebê é na hora do parto, pois a ideia recorrente é que, quanto mais o bebê chora, mais saudável é. Mas depois, em casa, isso vira motivo de aflição, principalmente no caso do primeiro filho, quando o casal demora a se acostumar e a interpretar o significado dos sons. A conclusão é da enfermeira obstetriz Simone Rocco, esclarecendo que o normal nos primeiros dias é que o bebê só chore quando tem alguma necessidade. “Ele dorme muito e, quando acorda, começa a resmungar porque esta é a maneira de mostrar que precisa ser alimentado ou trocado. Geralmente o bebê chora até completar um ano, quando então começa a se expressar e entender os sinais externos”, resume a profissional.
        O bebê chora ao nascer para desobstruir as vias aéreas e colocar em ação um novo padrão respiratório. A laringe precisa pôr em prática imediatamente a sua eficiência orgânica, além de servir como o órgão das emoções, pelo qual o bebê vai manifestar diferentes sentimentos. Nos primeiros meses de vida o bebê depende de suas modulações vocais, um meio de comunicação muito importante e eficaz para manifestar o que está sentindo e mostrar suas necessidades.
        A voz do recém-nascido é caracterizada por uma tonalidade vocal descrita como delgada, pela pouca capacidade de ressonância. Nessa fase, o bebê apresenta quatro sinais vocais característicos. O primeiro é o sinal de nascimento, com média de um segundo de duração, descrito como um som surdo, tenso ou estridente, que serve para a expulsão do líquido amniótico. O segundo é o sinal de dor, de mais longa duração, que também é estridente e apresenta queda de frequência na sustentação. Em seguida, vem o sinal de fome, que aparece com pequenas unidades vocais, com frequência variável, e passa de grave para agudo rapidamente. Mas existe também o sinal do prazer e sua principal característica é o que os fonoaudiólogos classificam de “hipernasalidade”, com total sonoridade glótica, e é resultado apenas da vibração das pregas vocais.


Identificando cada som


        Mas antes de a criança aprender a se comunicar, como é possível identificar o choro do bebê, entender seus significados, saber se está com fome, dor ou sono? Segundo a maioria dos especialistas e dos pais experientes, o importante é saber que o bebê pode chorar mesmo com todas as suas necessidades satisfeitas, principalmente entre 3 e 12 semanas. O pediatra americano Berry Brazelton inclui, ainda, a possibilidade de o choro ser também um “desabafo” do sistema nervoso imaturo contra a sobrecarga de estímulos que o bebê recebe ao longo do dia. Por isso, apesar da angústia e ansiedade que o choro provoca nos pais ou responsáveis pelo cuidado do bebê, é preciso manter a calma para identificar o motivo e não piorar tudo com estresse desnecessário.
        A alternativa mais comum para identificar a causa do choro é a eliminatória, ou seja, a mãe vai verificando cada item para conseguir saber qual a causa do incômodo. Mas hoje já existe um método que ensina a desvendar a linguagem do choro dos bebês, diferenciando os sons que eles emitem em cada situação. Quem decodificou essa linguagem foi a australiana Priscilla Dunstan que, por meio da observação do seu próprio bebê, começou a perceber que existiam cinco padrões de choro que se repetiam sempre nas mesmas situações. Posteriormente, ela analisou mais de 1.000 bebês e chegou à conclusão de que, independentemente da raça e da cultura, os cinco sinais são semelhantes em todos os bebês até completarem três meses.
        Segundo Rafaela Rosa, fisioterapeuta especialista em saúde da mulher, os choros identificados por Priscilla Dunstan são baseados nos reflexos do bebê. “Quando o bebê chora porque está com fome, o som que emite é ‘Neh’, semelhante ao provocado pelo esforço que faz ao sugar. O segundo choro classificado tem o som de ‘Owh’, com o qual o bebê diz ‘estou cansado’ e é baseado no reflexo de bocejar, manifestado também pelo formato da boca, que fica ovalar”, explica.
        Outros choros classificados pelo método indicam desconforto, traduzido pelo som de “He” ou um R puxado e contínuo e o choro do arroto, ou dos gases, quando o bebê contrai o tórax e o abdômen para soltar o ar e emite um som semelhante a “Eairh”, curto e interrompido. O quinto som é provocado pelo sintoma mais comum nos bebês nas primeiras semanas, a cólica. “Esse é também o choro mais sofrido, mais gritado, nervoso e agudo, com um R acentuado no final, ou algo como ‘Her, Her, Her’”, ensina Rafaela.
        Para ajudar casais “grávidos” ou pais de recém-nascidos, a terapeuta oferece um curso rápido e disponibiliza o DVD desenvolvido para ajudar no treinamento de identificação dos tipos de choro e aprender a lidar com cada um deles. O curso, pelo qual já passaram mais de 50 casais em apenas um ano, tem duração de aproximadamente quatro horas e poder ser feito individualmente ou em grupo.
        “O método se aplica até o terceiro mês, pois o choro do recém-nascido é baseado em reflexos que se perdem com o crescimento e a maturidade do bebê”, explica Rafaela. “Se for bem utilizado e os pais responderem aos tipos de choro, no entanto, o bebê sente segurança e, aí sim, pode repeti-los de maneira consciente, como forma de se comunicar.”


Dicas para entender a linguagem dos bebês


• Durante a fase pré-choro, o som que o bebê faz é mais facilmente identificável, ou seja, antes de o choro ficar histérico. Por isso, procure identificar o que o bebê quer e aja de acordo, antes que ele fique desesperado.
• Se ouvir mais do que um tipo de choro, procure identificar qual é o mais dominante e aja de acordo com este som.
• Se não conseguir entender o choro do bebê, tente mudá-lo de posição, eleve-o e coloque-o no colo, pois a mudança vai trazer mais conforto.
• Tente identificar a sutileza entre um som e outro, pois será a grande diferença na hora de entender o que incomoda o seu bebê.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Entrevista: QUEBRANDO MITOS

  

                                     Alysson Muotri


 Só quem descobre cedo que “a vida agarra-se ao difícil” poderia escolher o desafio de estudar a mais grave síndrome do espectro autista e alcançar, em apenas três anos, resultados revolucionários.
 Estamos falando do professor da Universidade da Califórnia Alysson Muotri, biólogo molecular formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com doutorado em Genética pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em Neurociência e Células-Tronco no Instituto Salk de Pesquisas Biológicas, nos Estados Unidos.
 Esse jovem cientista brasileiro ganhou notoriedade mundial, em novembro de 2010, ao publicar seu trabalho na Cell, renomada revista científica internacional, em que divulgou três feitos inéditos.
 Primeiro, Muotri e sua equipe de pesquisadores criaram neurônios autistas em laboratório. Extraíram células da pele de pacientes e induziram-nas a se transformar em células-tronco embrionárias pluripotentes (as chamadas iPSC – induced Pluripotent Stem Cells, capazes de originar vários tipos de tecidos). Em seguida, demonstraram que os neurônios autistas diferem dos normais desde o início do desenvolvimento, derrubando assim um mito sobre as causas do distúrbio.

 “Mostramos que os defeitos eram, de fato, genéticos e não frutos de algum fator ambiental”, o pesquisador declara. Por fim, o grupo chegou ao alvo principal: conseguiram reverter o estado deficiente do neurônio autista em neurônio normal. Assim, abriram a perspectiva de cura para um dos mais estigmatizados transtornos humanos. Atingir tão significativa descoberta aos 36 anos de idade tem seus segredos.
 A fórmula mistura paixão pela ciência com dedicação obcecada ao trabalho. E como ninguém é de ferro, Muotri busca descanso e inspiração na prática da ioga e nas ondas do surfe. Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que ele concedeu a esta revista.

Entrevista



Em novembro do ano passado, o senhor publicou um estudo que abriu perspectivas de tratamento do autismo. Como se desenvolveu essa pesquisa? O objetivo foi o de desenvolver um modelo para estudo de doenças mentais humanas. Aproveitamos a tecnologia de reprogramação genética (desenvolvida pelo pesquisador Shinya Yamanaka), aplicando-a numa síndrome do espectro autista. Reprogramamos células da pele de pacientes com Síndrome de Rett e de crianças não afetadas pela doença, transformando-as em células pluripotentes. A partir daí, diferenciamos essas células em neurônios e comparamos o grupo de pacientes com o controle. Observamos diferenças bem específicas entre os grupos. Neurônios derivados de crianças com o espectro autista apresentaram soma menor e reduzida densidade de espinhos, além da dramática diminuição na capacidade de formar sinapses excitatórias. Isso foi confirmado com experimentos desenhados para testar a conectividade entre os neurônios, revelando que as redes neuronais do autista estavam realmente se comportando de forma deficiente. Após essa constatação, testamos algumas drogas e conseguimos reverter esse “estado” deficiente do neurônio de volta ao normal.

Quanto tempo passou do início de sua pesquisa até alcançar a reversão do neurônio autista? Do conceito até a publicação final, levamos três anos. Tínhamos alcançado os resultados de reversão já no segundo ano. Mas até que isso fosse aceito pelos rigorosos padrões de publicação internacional passou mais um ano. Foram feitos diversos outros testes com outros controles para confirmar o resultado.


Quais consequências a reversão de um neurônio autista em neurônio normal poderá produzir? Essa descoberta significa um caminho para a cura da doença?
Doenças psiquiátricas ou que possuem um componente de interação social afetado são doenças tipicamente humanas, ou seja, não existem modelos ideais para estudar autismo ou esquizofrenia, por exemplo. Sem modelos, não dá para entender como o transtorno surge ou mesmo desenhar estratégias de cura ou tratamento. Os resultados do estudo são revolucionários porque mostram que é possível encontrar padrões em neurônios derivados de pessoas com doenças mentais. Talvez o mais importante seja o fato de nossos dados sugerirem fortemente que a doença não é permanente, mas pode ser reversível.

Na hipótese de se desenvolver um medicamento, dá para prever como se comportaria uma pessoa autista? A capacidade de comunicação e aprendizagem se restauraria de imediato? E as habilidades já desenvolvidas pelos autistas se perderiam? A reversão dos problemas sinápticos obtida em cultura por meio de drogas abriu as portas para uma perspectiva impensável: podemos curar o autismo. Na hipótese de termos um medicamento em mãos que funcione, é difícil prever os resultados. Vejo dois cenários: os defeitos serão corrigidos, preservando memórias e habilidades. Por outro lado, pode ser que a correção apague o que o cérebro já aprendeu e se reorganize novamente, seria como um renascimento. Não sei o que esperar realmente, é possível que diferentes medicamentos atuem em regiões diferentes do cérebro, com resultados distintos. Tudo isso nos aguarda num futuro próximo. Sou otimista.




Estudar os neurônios autistas desenvolvidos em laboratório a partir de células-tronco é igual a observar os neurônios funcionando dentro do cérebro de um autista? Não sei, nunca tivemos a oportunidade de observar neurônios humanos nesse nível de detalhe antes. Não seria ético fazer isso in vivo. Por outro lado, testes com neurônios de camundongos derivados de célulastronco foram comparados com neurônios de camundongos in vivo e a conclusão é que se comportam como se fossem neurônios fetais. Não vejo razão para pensar que em humanos seria diferente.

Por que escolheu pesquisar a Síndrome de Rett? Na continuidade da pesquisa, o senhor pretende estudar as outras formas mais comuns de autismo? A Síndrome de Rett está no extremo mais grave do espectro autista. Os neurônios são afetados de forma mais rigorosa, funcionando como o protótipo ideal e facilitando reconhecer os defeitos celulares. Além disso, a maioria dos pacientes Rett possui mutações conhecidas. Isso foi essencial para mostrarmos que os defeitos eram, de fato, genéticos e não frutos de algum fator ambiental. Atualmente estamos trabalhando com outros pacientes do espectro autista, buscando confirmar se existe uma sobreposição de defeitos que indiquem vias moleculares comuns. Se for verdade, a mesma droga pode funcionar para diversos pacientes.



A técnica utilizada em sua pesquisa poderá ser aplicada no estudo sobre depressão e bipolaridade,
doenças cada vez mais prevalentes na atualidade? Com certeza. Já fomos contatados por diversos grupos estudando outras doenças psiquiátricas como esquizofrenia, depressão e bipolaridade. Estamos auxiliando esses grupos a estabelecer esses modelos. Acredito que, em breve, estudos semelhantes vão ser publicados para essas doenças.

De que forma a pesquisa com células-tronco poderá contribuir para o desenvolvimento de medicamentos, ferramentas de diagnóstico e terapias para as diferentes doenças? Quando se fala em células-tronco, a grande maioria pensa em transplante. Na verdade, para mim, o transplante celular vai ser a última das aplicações das células-tronco. A primeira vai ser oral – uma pílula! Isso porque a tecnologia de triagem de drogas é algo que a academia e as biotechs sabem fazer. Já temos know-how para isso. Mostramos que as iPSC (células-tronco embrionárias induzidas) de autistas são um ótimo modelo. Foi a prova de princípio. Agora existem alguns passos que precisam ser otimizados para que isso seja feito em larga escala. O uso de iPSC para diagnóstico vai também ser implementado num futuro não muito longe. A associação dessa tecnologia de fenótipos celulares com o genoma é o futuro para uma medicina personalizada.


Em um dos artigos publicados no seu blog, o senhor sugeriu que os países deveriam formar e financiar os seus pesquisadores nos grandes centros internacionais. Qual seria a vantagem para o Brasil incentivar a chamada “fuga de cérebros”? Parece uma lógica não intuitiva, mas a colocação de profissionais brasileiros em centros de pesquisa com destaque mundial é essencial para que estes funcionem como “olheiros” de tecnologia. Isto também pode facilitar a transferência da tecnologia, auxiliando nas colaborações e conselhos especializados. Essa prática acontece com quase todos os países em desenvolvimento. Em geral, esses países identificam seus “cérebros” e oferecem uma posição de diplomata científico, permitindo que o indivíduo até tenha dois laboratórios. Nunca vi esse tipo de iniciativa no Brasil. Veja bem, não estou falando de centros medíocres no exterior, nem de profissionais medíocres. Isso só vai funcionar com os melhores, a nata da ciência nacional. Ainda outro dia durante uma conferência internacional, vi uma megaempresa de biotecnologia anunciar uma parceria com a Índia. Indaguei o porquê da Índia e não o Brasil, por exemplo. O CEO rebateu na hora: “Você é o único brasileiro que eu conheço fazendo ciência de ponta. Nunca tive interação com brasileiros antes, mas converso com indianos todos os dias”. Essa realidade tem que mudar, precisamos de mais cérebros fora.

Como o senhor avalia o atual estágio da pesquisa científica no Brasil? Estamos de cinco a dez anos atrás do Japão e EUA. Um pouco menos, se compararmos a alguns países europeus. Acho que o maior problema é a falta de interação internacional. Nosso provincianismo científico afeta muito a qualidade e o impacto dos trabalhos no Brasil. Outro problema que eu vejo é a estabilidade do pesquisador nas universidades brasileiras. Esse cargo já foi listado como um dos melhores do mundo! Como isso é possível? Aqui nos EUA a história é completamente diferente, não existe essa estabilidade garantida. O pesquisador é avaliado a todo momento. Tem que estar no topo sempre. Não sei se é realmente a melhor opção. Acho que algo no meio-termo seria o ideal. Por fim, aponto a falta de autonomia dentro das universidades. Os departamentos não podem simplesmente contratar quem quer, tem que passar por um ultrapassado concurso público que nem sempre premia o melhor.

O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, propôs que bancos financiadores sejam
sócios no produto final da inovação dentro das empresas. Assim, compartilham o risco, mas, se der certo, também compartilham os ganhos. Como o senhor avalia essa ideia? A ideia é boa. É o que acontece nos EUA, por exemplo. Não tem nada de novidade. Temos mesmo é que mudar a cultura de investimento e de capital de risco. Se o governo puder ajudar nessa integração, legal! Se não atrapalhar, já ajuda também.

Quando e por que escolheu seguir a carreira de pesquisador? “A vida agarra-se ao difícil.” Esta frase do Rilke (Cartas a um jovem poeta) mudou a minha forma de ver as coisas. Concluí que a vida só valeria a pena se fosse vivida ao máximo. Para isso, queria um desafio enorme. Pensei, então, qual seria a profissão mais difícil do mundo? Concluí que era pesquisador, ajudar milhares de pessoas só com sua criatividade e capacidade de execução. Ainda penso assim. Joguei-me de cabeça, apaixonado. Hoje sou um obcecado.

Entre tantos campos de pesquisa, por que escolheu a neurociência? E como chegou até o Instituto Salk? Difícil explicar com clareza. Acho que sempre vi o cérebro como o portal para se entender diversas coisas. Assim, entendendo o cérebro, estaria mais perto de entender a humanidade e a mim mesmo. Depois do meu doutoramento em genética pela USP, fui até aos EUA em busca de emprego. Visitei diversos laboratórios e apresentei minhas propostas e ideias. Fui convidado a voltar e trabalhar em todos que
visitei. Mas me apaixonei pela pesquisa que acontecia em San Diego, particularmente no Instituto Salk. O
estilo de vida do sul da Califórnia, unindo surfe, ioga e vinhedos, me atraiu muito. Além disso, o jeito irreverente e descontraído de se fazer ciência em San Diego é imbatível. Tinha que voltar. Voltei e decidi ficar
para montar o meu próprio laboratório. Hoje faço parte de um consórcio de institutos focados em células-tronco e neurociência. É o melhor lugar no mundo para fazer isso.



Por: Sueli Zola


Fonte: + SAÚDE Magazine | Ano2 - N° 6 | Abril, Maio, Junho 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Autismo: Um jeito diferente se ser


Isolamento social e dificuldade na comunicação são inabilidades do autismo

 Fruto de uma gravidez desejada,Pedro foi um bebê precoce. Comapenas cinco meses de vida já engatinhava e, aos nove meses, começoua andar. Apenas um detalhe no seu comportamento chamou a atenção de sua família: ele não desenvolvia a linguagem. “As outras crianças falavam palavras e até frases e meu filho apenas balbuciava”, diz Rosane Barreto, mãe de Pedro, que hoje está com cinco anos.
 A ausência da fala contrastava com a impressionante capacidade motora do menino. Preocupados, os pais levaram a queixa ao pediatra. Na falta de uma resposta convincente, procuraram um fonoaudiólogo e continuaram sem explicação. A hipótese diagnóstica só surgiu quando, aos dois anos, Pedro passou a apresentar condutas incomuns, como brincar sempre sozinho e andar nas pontas dos pés. As atitudes indicavam autismo.
 Ao contrário do que muitos pensam, o autismo não é doença. “Trata-se de um transtorno caracterizado pela forma comportamental diferente da criança se relacionar com as outras pessoas”, afirma Vicente José Assencio Ferreira, neuropediatra, doutor em medicina pela Universidade de São Paulo e diretor clínico do CEMTE – Centro Educacional Municipal Terapêutico Especializado da cidade de Taubaté.
 Presentes desde o nascimento, os traços autistas são mais bem observados após um ano de idade e antes do
três anos. “No primeiro ano de vida, os sinais são pouco evidenciáveis. O bebê não chora ao ser deixado no berço, não olha para a mãe ao ser amamentado, não apresenta o sorriso social e nem demonstra angústia diante de estranhos”, esclarece Assencio Ferreira. Mesmo quando os indícios deixam de ser tão sutis, não é fácil fechar o diagnóstico. “A criança apresenta inabilidades para se comunicar e não interage. A família traz as queixas, mas a grande maioria passa despercebida até para os pediatras”, afirma Tânia Sbervelieri Ojeda, fonoaudióloga que está se especializando em distúrbios da aprendizagem.
 O caso de Pedro Barreto é um exemplo claro disso. Até ter certeza de qual transtorno afetava a criança, a família percorreu diferentes médicos. “Foram rios de dinheiro em consultas particularese exames. Só soubemos, de fato, que meu filho era portador de autismo após ser examinado, em conjunto, por médico
psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional”, conta Rosane. “O diagnóstico deve ser feito por equipe multidisciplinar”, confirma Tânia.

O desafio da inclusão

 Um dos aspectos que dificultam a identificação do autismo é a diversidade nas formas de apresentação do transtorno. Há desde quadro leve, em que a pessoa acometida tem inteligência normal, trabalha, namora, casa, até casos extremos de completa dependência física e mental.
 Segundo o neuropediatra Assencio Ferreira, ao se supor a hipótese diagnóstica, o importante é observar a
presença da tríade: preferência por isolamento social, déficit na comunicação interpessoal e inabilidade para jogos em geral. As três condições são prevalentes em todo o espectro autista.
 Para tratar essas inabilidades, é necessária uma abordagem terapêutica multidisciplinar, que inclui a intervenção de especialistas em fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, pedagogia e psicopedagogia.
“Buscamos fazer a inclusão social da criança autista, propondo o convívio e o aprendizado nas escolas comuns. Mas a tarefa não é simples. Existem ainda muitos tabus a serem superados”, comenta Tânia.
 Numa megalópole tão repleta de alternativas como São Paulo, a fonoaudióloga nem sempre consegue localizar escolas inclusivas, que aceitem e saibam lidar com o autista. Se na maior capital do país há obstáculos, dá para imaginar a situação em outras cidades do Brasil. “Quando morei em Fortaleza, Pedro
frequentou uma escola com corpo docente especializado. Era maravilhoso. Mas, após mudarmos para Brasília, passamos a enfrentar barreiras. As instituições educacionais são obrigadas, por lei, a fazer a inclusão, mas não têm experiência e nem capacidade para fazer um trabalho eficaz com as crianças”, enfatiza Rosane.
 Descrito pela primeira vez em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner, o autismo tem sido objeto de muitos estudos. Até os anos 1970, acreditava-se que o transtorno decorria de atitudes inadequadas dos pais, que levavam a criança a se isolar. “Quanto sofrimento e culpa infringimos aos pais (principalmente às mães) ao julgar que o autismo era adquirido num ambiente familiar ausente de carinhos verdadeiros”, salienta Assencio Ferreira.
 Hoje os conceitos mudaram. Já se sabe que as características autistas são inatas, como bem comprovou o estudo de Alysson Muotri, que iremos postar na próxima matéria, da semana que vem.

Fonte: +SAÚDE Magazine  |  Ano 2 - N° 6  |  Abril, Maio, Junho 2011


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Inovação: parceria oferece ainda mais saúde

 A Porto Alegre Clínicas e a Radiológica & Diagnósticos por Imagem consolidam parceria, aliando tecnologia e ainda mais qualidade e conforto aos atendimentos médicos.

 O ano de 2011 pode ser considerado um marco na história de duas empresas atuantes na área de saúde no estado do Rio Grande do Sul: a parceria entre a Porto Alegre Clínicas e a Radiológica. As duas empresas alcançaram os melhores resultados e também o maior crescimento em seus respectivos segmentos na última década, além dos números de clientes em suas carteiras, instalações e profissionais qualificados em seus quadros.
 Com o objetivo de ampliar a qualidade dos atendimentos, aliando tecnologia de ponta e estruturas físicas que são referências em qualidade por estarem de acordo com as normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a RDC 050 (Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde), os sócios fundadores das duas empresas, Alexandre Diamante e Rafael Kern Sant’Anna, profissionais com visão empresarial de futuro, concretizaram esta parceria que foi projetada e analisada por eles e suas equipes de colaboradores desde 2010, desenhando o que seria a arquitetura do projeto, no qual o objetivo central visa agregar valor oferecendo ainda mais qualidade ao atendimento dos clientes.
                                            
 Os pacientes agora contam com modernos equipamentos de densitometria óssea, ecografia, ecodoppler,
mamografia, radiologia geral e também exames de alta complexidade, tais como: ressonância nuclear magnética e tomografia computadorizada.
 O novo centro de diagnósticos da Radiológica está localizado na Avenida Farrapos, 579, ao lado da sede da Porto Alegre Clínicas, na capital do Estado. Telefone: (51) 3311-0992 ou 3311-0804.

Fonte: Revista + SAÚDE  | Ano2  | Nº 6  |  Abril, Maio, Junho 2011




segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CÁLCULO RENAL - Pedra danosa


Alguns fatores genéticos, de idade, raça e hábitos alimentares podem causar a doença.



 O cálculo renal, vulgarmente chamado de “pedra no rim”, atinge milhares de pessoas em todo o mundo e, em nosso país, a incidência de pessoas com este mal tem aumentado a cada dia. Modificação no padrão alimentar, com a ingestão de produtos industrializados, pouco consumo de água e perda excessiva de líquidos pela transpiração são algumas das causas deste problema. A correção de alguns hábitos de vida, em especial no padrão alimentar, pode ser bastante eficaz na solução da enfermidade, sendo certo que o estudo do cálculo também auxilia na informação sobre qual substância está causando a formação de cálculo renal.
 A médica nefrologista Deborah Pinto explica que o sistema renal é importantíssimo no controle da excreção
de substâncias metabólicas e controle da pressão arterial. “Durante a vida, o homem expele pelo sistema urinário uma infinidade de substâncias, entre elas, ácido úrico, sais de cálcio e oxalatos.
Em dado momento, é possível que o excesso de tais substâncias em um processo de saturação leve à formação de cálculos, que nada mais são do que uma formação sólida, com aparência de pedra, e que causam muita dor ou desconforto aos pacientes”, diz ela.
 Além dos fatores mais comuns para a formação de cálculos, há também fatores genéticos, de idade, raça e
hábitos alimentares, que podem contribuir para a formação deles. Segundo a nefrologista, na maioria das vezes, os pacientes já apresentam pelo menos dois fatores e, com isso, se tornam propensos ao desenvolvimento da doença.
 A especialista exemplifica que, nos dias atuais, uma diminuição do volume urinário, aliada à alteração da composição da urina, pode ser um fator preponderante na formação de cálculos. “Na vida moderna, e em
especial em um país tropical, onde o calor muitas vezes é intenso e o clima extremamente seco, as pessoas dedicam pouco tempo para se hidratar da forma correta. Ingerem pouca água, perdem bastante líquido na transpiração, comem alimentos industrializados, ricos em proteínas, sais e hidratos de carbono, o que acaba por contribuir com a formação do cálculo”, explica a médica.
 Mas não é só isso. Deborah Pinto esclarece que existem doenças e disfunções metabólicas que também
colaboram para a formação de “pedra no rim”, como a hipercalciúria e hipercalcemia (aumento da quantidade de cálcio na urina e no sangue, respectivamente), alterações anatômicas do trato urinário, enfermidades que causam desequilíbrio urodinâmico etc.
 A diminuição de fatores inibidores da formação de cálculo, como magnésio, pirofosfato e nefrocalcina, também pode propiciar, consideravelmente, a formação da doença. A médica informa que é possível
hoje a realização de um estudo do cálculo, com o objetivo de analisar sua composição e, após o resultado,
verificar quais são os fatores que podem estar relacionados à sua formação, procurando desenvolver hábitos ou tratamentos a fim de evitar novos episódios. “O estudo do cálculo, na prevenção de novos quadros, é muito importante. Ele serve para nortear os profissionais de saúde sobre qual o melhor caminho adotado para prevenir novas formações”, completa.
 O médico urologista Rafael Capobianco explica que há inúmeras complicações que podem surgir da formação do cálculo renal. É possível que o paciente apresente, em razão do cálculo renal, um quadro de infecção urinária, hipertensão arterial (aumento de pressão) e, em alguns casos mais graves, obstruções renais que podem causar futura insuficiência renal crônica e até mesmo levar à perda do rim, pela destruição causada nas células ou pela infecção acentuada.
 Segundo o médico, há vários tratamentos para a doença, que dependerão do quadro apresentado pela pessoa. “Em geral, espera-se que o paciente seja capaz de expelir o cálculo. No entanto, isto irá depender de vários fatores, como a localização do cálculo, tamanho, forma etc. As pessoas podem ter tido cálculos renais e expelir a pedra sem ao menos perceber que tiveram”, exemplifica o especialista. Mas, quando este cálculo traz problemas, em geral dor (cólicas), normalmente na região lombar, acompanhada ou não de

vômito, agitação, mal-estar, ou irritação ao urinar e sangue na urina (hematúria), é necessário o acompanhamento médico ou mesmo intervenção médica. “Nos casos de dor, em um primeiro momento,
é administrado analgésico, para depois submeter o paciente a exames clínicos, que vão desde o exame de urina até outros métodos como o ultrassom e a tomografia, para analisar qual a intervenção necessária”, completa.
 Quando não é possível tratar com medicamentos ou aguardar que o paciente venha a expelir a pedra,
são necessários métodos cirúrgicos, objetivando a retirada do cálculo, ou métodos extracorpóreos, como a
litotripsia, e endoscópicos, que, por vezes, envolvem a colocação de um cateter (duplo jota), retirado posteriormente.

Fonte: Revista + SAÚDE  | Ano 2  | N° 6  |  Abril, Maio Junho 2011


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Visão Subnormal: Capacidade Reduzida


 Pessoas com cerca de 30% ou menos de visão no melhor olho apresentam o problema.

 A visão subnormal, também conhecida como baixa visão, é um comprometimento da função visual que impossibilita a pessoa ter uma visão clara para realização de suas atividades diárias. A baixa visão gera inúmeros transtornos e constrangimentos, e a falta de conhecimento da população em geral acaba por confundir o portador da baixa visão com a cegueira. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal, em média, 70% a 80% de crianças diagnosticadas como cegas, na verdade, possuem certa capacidade visual.
 Mas a visão subnormal não atinge somente crianças. Adultos podem desenvolver baixa visão ao longo da vida. No entanto, quem apresenta baixa visão não pode ser considerado cego, já que possui visão, ainda que diminuída. Várias doenças estão relacionadas à baixa visão, e o tratamento destas doenças de base são fundamentais para melhor qualidade de visão.
 A pessoa com baixa visão deve saber que existe no mercado uma série de equipamentos voltados à adaptação e que permitem condições melhores de vida, além de certos cuidados e procedimentos que podem auxiliar essas pessoas na ressocialização, melhorando sua qualidade de vida e facilitando a execução de suas atividades diárias.
 Para Eliana Cunha Lima, ortoptista - especialista em deficiência visual - e coordenadora dos Programas de
Educação Especial e Clínica de Visão Subnormal da Fundação Dorina Nowill para Cegos, a visão subnormal
e a baixa visão são sinônimos e, por definição, são uma anomalia de pessoas que apresentam cerca de 30% ou menos de visão no melhor olho após todos os procedimentos clínicos, terapêuticos, e uso de óculos convencionais. Segundo ela, essa perda da visão pode ser classificada em  moderada, grave ou profunda.
 O médico oftalmologista Alexandre Costa Lima Azevedo, atual presidente da Sociedade Brasileira de Visão Subnormal do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, esclarece que muitas doenças podem ocasionar o quadro de visão subnormal. “Em geral, as doenças que causam visão subnormal, até o momento, não têm
cura, porém há tratamentos clínicos e medicamentosos que podem proporcionar estabilidade do quadro,
cabendo ao oftalmologista avaliar e escolher os procedimentos mais adequados.” “Em nosso país, as doenças mais comuns responsáveis pelo desenvolvimento da baixa visão na infância são: catarata congênita, glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade e toxoplasmose ocular congênita. 
 Na idade adulta, outras tantas, como retinopatia diabética, glaucoma, retinose pigmentar e degeneração macular relacionada à idade”, diz Eliana Cunha Lima. 
 As pessoas com baixa visão enfrentam inúmeros problemas: “Estas pessoas enxergam de forma diferente nas diversas distâncias, seja de perto, à meia distância ou de longe. Sua percepção visual também varia conforme
a doença, o nível de perda visual e as condições de iluminação do ambiente. Isso traz problemas tanto nas execuções de suas atividades, como também na compreensão por parte das pessoas que convivem com elas”, explica a ortoptista.
 Para ilustrar melhor as peculiaridades desse tipo de transtorno, ela acrescenta: “Os doentes enxergam a lousa, mas não o que está escrito; veem as pessoas, porém não reconhecem sua fisionomia; em geral, conseguem ler somente as manchetes dos jornais, mas não as notícias. Essas situações geram grande constrangimento e dúvidas na família, na escola, no trabalho e nos ambientes sociais que frequentam”, completa a especialista.

Equipamentos úteis

Para amenizar essa situação, existem hoje vários produtos desenvolvidos para adaptar as condições e aproveitar o residual visual que as pessoas com baixa visão possuem, voltados à ampliação das imagens e melhor eficiência visual. Para perto, existem óculos esferoprismáticos, lupas manuais (de apoio e iluminadas)
e lupas de pescoço, entre outros. “Já para longe, telelupas de aumentos variados (mais utilizados para leitura de lousa, letreiros de ônibus e placas de rua); Max TV para assistir à televisão etc.”, relata a profissional. 
 Há também recursos eletrônicos como o chamado cctv e lupas eletrônicas, livros digitais, softwares e livros falados. Em São Paulo, esses produtos são encontrados em impor tadoras, ót icas especializadas e instituições que atendem pessoas com deficiência visual, completa.
 Os médicos reconhecem que a tecnologia vem contribuindo cada vez mais na reabilitação das pessoas com deficiência visual. Existem lupas eletrônicas que são amplamente utilizadas pr incipalmente pelas pessoas com baixa visão grave e profunda. É importante informar que o uso da visão residual não é prejudicial. Muito ao contrário, a utilização da visão proporciona melhor desempenho e eficiência da visão. E mais: a participação e a compreensão da família são fundamentais no processo de desenvolvimento das pessoas com deficiência visual e no resgate de sua autoestima.

Dicas para melhorar a visão subnormal:

 Para aperfeiçoar o resíduo visual das pessoas com baixa visão, nos diferentes ambientes, a ortoptista
Eliana Cunha Lima dá várias dicas. Veja abaixo:
1. Além da ampliação das imagens obtidas com os recursos ópticos e tecnológicos, é fundamental uma iluminação adequada, aumento de contraste, como, por exemplo, louças com cores fortes sobre toalhas claras ou vice-versa.
2. Aproximar os olhos do material de leitura e escrita.
3. Evitar superfícies muito polidas e brilhantes.
4. Para leitura e escrita utilizar lápis 6B e 4B, ou caneta hidrográfica preta, cadernos com pautas escurecidas e mais largas.
5. Sempre que possível , ampliar o tamanho das letras.
6. Em todas as idades, apoiar o interesse e a habilidade da pessoa com baixa visão a executar atividades e tarefas do cotidiano.

Por: Jeferson Mattos

Fonte: Revista + SAÚDE  | Ano 2  | N°6  | Abri, Maio, Junho 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Crônica: VULTO

        

              Quase despida, começou a dançar. José, quase hipnotizado, começou a sonhar...



 No dia em que ela saiu, José sentiu um pouco de alívio. Há algum tempo percebera que Efigênia dava mostras de não estar gostando da vida em comum. Na idade em que estavam, nem pensavam em discutir a relação, como dizem nas novelas. Cada um para o seu lado, dissera Fi, como a chamava carinhosamente.   Tudo bem, respondeu resmungando.
 Na varanda, bebendo vinho e com o velho cachorro aos seus pés, José ficou olhando o infinito, que nada
mais era do que a janela do apartamento em frente. – O que é mesmo que estou fazendo aqui? Não temos
mais nada em comum. Amanhã, quando Fi voltar da sua vigésima viagem, vou combinar uma saída honrosa para nós dois. E continuou bebendo.
 A noite desceu rapidamente. No apartamento em frente, as luzes se acenderam por trás das cortinas desbotadas. Um vulto de mulher passou lentamente como num filme de Almodóvar. Em movimentos cadenciados, uma mulher tirou a blusa e a jogou no chão. Fez com a saia a mesma coisa, a diferença é que foi se contorcendo até que a saia caísse.

 Quase despida, começou a dançar. José, quase hipnotizado, começou a sonhar. Em seus sonhos, não quis ser partner nos braços daquele vulto, preferiu abrir as gavetas do tempo e questionar o passado. Desiludido,
perguntava a si mesmo onde ficou a magia daqueles momentos que tivera com sua mulher.
 Tempos aqueles em que tudo tinha uma conotação especial, bastava ser parte integrante de seu pequeno universo particular. Houve tempos em que discutia com os amigos que não acreditavam que a felicidade tem cor, a saudade tem aromas e que a música também causa dor. Cansado, não deu mais importância para seus saudosismos, embora sentisse na alma cada reflexo luminoso do sorriso de sua amada, sentia até hoje o cheiro especial da festa em que a conheceu e chorava cada minuto de saudade dos momentos mais felizes de sua vida.

 Mais um gole de vinho. O vulto de mulher já dança há horas. José foi longe e sequer sabe descrever a performance da dançarina. Só questiona e imagina: que vida bela ali tão perto mora! E aqui, o que se vive? O passado já não importa, o presente não existe e o futuro chegará a nós, mas nós não estaremos nele, seremos meros passageiros de malas e destinos vazios.
 Ouve um barulho. Por um minuto pensa que Fi estivesse de volta e que pudessem resgatar cada segundo
esquecido e maltratado pela indiferença. Mas que nada. O barulho que interrompe seu momento não passava de um vento que tocou forte a cortina, fazendo despedaçar o porta-retrato que eternizava a união de José e sua eterna amada. Diante daquela situação, José ainda pensa em juntar os estilhaços no chão, porém, volta ao seu canto de reflexão e, decidido, se justifica para as decisões que pretende tomar.
 Nada acontece por acaso. O que se quebra, mesmo que colado novamente, não terá inteireza, haverá sempre fissuras que se deixarão contaminar. A música ainda toca, mas o vulto de mulher já não dança mais. José não mais imagina que a felicidade mora ao lado. O vento da noite já sopra mais frio, porém José não tem nem hora, nem por que se apressar para entrar. Amanhã será tudo igual, o sol irá nascer mesmo sem
sua permissão.
 Tudo irá caminhar, e noite novamente chegará. Antes que isto aconteça, José fecha os olhos e adormece.

Paulo Castelo Branco

Fonte: Revista +SAÚDE  |  Ano 2 | N° 6 |  Abril, Maio, Junho 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Diminuindo o passivo das empresas


   No nosso país, pode existir a lei, mas, se não for fiscalizada, ela “não pega”.

 A confecção do PCMSO e do PPRA já deveria ser algo corriqueiro, uma vez que a lei obriga a que todas as “empresas públicas e privadas, órgãos públicos de administração direta e indireta, bem como órgãos dos poderes legislativo e judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT” tenham nessa lei observância obrigatória. Por que vemos crescer a procura pela confecção de PPRA, PCMSO, PPP apenas de 10 anos para cá, se a Lei 6.514, que regulamenta esses documentos, completa 43 anos no próximo dia 22?

 No nosso país, pode existir a lei, mas, se não for fiscalizada, ela “não pega”. “A Lei 6.514 está pegando!”
Efetivamente, o que temos visto, nesses últimos anos, é crescer a nossa demanda por esses documentos.   Entre o final de 2008 e metade de 2010, a Medicina do Trabalho cresceu 100%. Estamos com uma lista de espera de mais de 30 PCMSO aguardando para serem confeccionados! Por quê? Será porque a lei está sendo fiscalizada só agora? Será que os “rigores da lei” estão sendo aplicados em todas as micro, médias e macroempresas? Ou será que os empresários entraram num consenso para cumpri-la? Ou a DRT está com funcionários sobrando para fiscalizar tudo isso? Entendo que nenhum desses fatores isolados responde às
perguntas. Uma associação de todos, talvez.
 Mas o mais importante: os empresários deram-se conta que fazer um PPRA e um PCMSO poupa dores de cabeça futuras, pois diminui o número de problemas com a justiça do trabalho. Principiando que o juiz vê
diferente o empresário que já comparece à audiência com os documentos exigidos e atualizados. Encerrando que um PPRA e um PCMSO de qualidade e a guarda dos documentos adequada respondem e, quase sempre, isentam de culpa a maioria de quesitos periciais. Isso sem grande estresse, sem recorrer a profissionais caros e estratégias duvidosas.
 A resposta é simples. Diminuição do passivo da empresa! A verdade é que os empresários estão descobrindo que o PCMSO e o PPRA diminuem, e muito, o passivo da empresa. Tudo absolutamente dentro da Lei. Tudo muito claro, objetivo, e com preços razoáveis.

Dra. Maria Borges - CREMERS 15212 - Médica do Trabalho

Fonte: Revista + SAÚDE |  Ano2  |  Nº 6  | Abril, Maio, Junho 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Universidade para viver melhor

  
                Cursos para a 3a idade ensinam a ter vida mais ativa.



 O Brasil tem 190,7 milhões de pessoas, segundo o Censo do ano passado. Deste total, 11,16% têm idade acima de 60 anos. Isso representa um crescimento de quase 3% entre os idosos, somente na última década.        A expectativa de vida também cresceu: atualmente o brasileiro vive em média 73 anos e, entre as quase 20 milhões de pessoas classificadas como idosas, 23.760 já superam a marca dos 100 anos. Isso significa que, cada vez mais, a longevidade passa a ser algo comum entre os brasileiros e que também há mais chances de se envelhecer, e de modo cada vez mais saudável. Por outro lado, como disse o filósofo italiano Norberto Bobbio, “o velho sabe, por experiência, aquilo que os outros ainda não sabem e precisam aprender com ele, seja na esfera ética, seja nos costumes, seja nas técnicas de sobrevivência”. Esta frase coincide com a opinião do médico Wilson Jacob Filho, idealizador e coordenador da Universidade Aberta para o Envelhecimento Saudável (Unapes) e professor titular de Geriatria na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
 É essa imagem que ele quer que os idosos tenham, não só diante dos mais jovens, mas entre as pessoas
que estão envelhecendo e que – por medo, insegurança ou preconceito – se afastam da vida social à medida
que a idade avança. Por isso, Jacob Filho prefere investir nos pacientes mais velhos que procuram o serviço do Hospital das Clínicas da FMUSP (HCFMUSP), para que participem das atividades do programa iniciado em 2008 – oficinas de atividades físicas, dança e expressão corporal; alimentação saudável; informática, comunicação e dinâmicas de grupo – e se transformem em multiplicadores das técnicas para um envelhecimento ativo. “Nada melhor que uma pessoa mais velha para mostrar que é possível vencer as barreiras que o próprio idoso se impõe”, avalia o geriatra.

Efeitos positivos
 Segundo o médico do HCFMUSP, entre os efeitos positivos observados nos grupos, destacam-se a elevação da autoestima, a redução de peso e a melhora na disposição geral dos idosos, à medida que praticam atividades físicas e são estimulados para uma alimentação mais saudável.
 Outros pontos observados pelo serviço de geriatria são a redução das consultas médicas e de procura
ao pronto-socorro sem causas justificadas. “As pessoas mais ativas sentem menos necessidade de procurar o médico, ao mesmo tempo em que querem ficar com o físico em ordem porque percebem que o excesso de peso e o sedentarismo são fatores limitantes para o desenvolvimento de atividades sociais.” Os cursos da Unapes são semestrais e abertos a pessoas a partir dos 60 anos. As turmas têm início em março e agosto e as aulas teóricas acontecem todas as segundas, das 14 às 16 horas. Os outros dias da semana são ocupados pelas aulas práticas, sempre no mesmo horário. A equipe é multidisciplinar e inclui

nutricionistas, fisioterapeutas, professores de dança e de computação. São oferecidas 60 vagas para as atividades que acontecem no Espaço Propes (Programa de Promoção do Envelhecimento Saudável) do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas.
 O projeto se apoia na política do envelhecimento ativo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que prega o envolvimento do governo e da sociedade no desenvolvimento de programas que estimulem a participação em atividades sociais, físicas e culturais, como forma de manter uma vida saudável. Essa foi a abordagem da tese de doutorado “Educar para o autocuidado na terceira idade” – desenvolvida em conjunto por Kátia Lílian Sedrez e Alexandra Bordin, do curso de enfermagem da Universidade Regional Integrada de
Erechim, no Rio Grande do Sul. No trabalho, elas atestam que a maioria dos idosos apresenta algum tipo
de doença crônica, mas concluem que é possível continuar vivendo com qualidade, desde que essas doenças sejam controladas. “A ação educativa tem papel preponderante no aumento da expectativa e na qualidade de vida, assim como na manutenção da saúde do idoso”, garantem.

Modelo francês
 O modelo da universidade aberta à terceira idade foi criado nos anos 1970, na Universidade de Toulouse
(França), envolvendo cur sos de atualização cultural, orientações na área de saúde e algumas atividades
socioculturais. No Brasil, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas foi pioneira em cursos do gênero, a partir de 1991, antecipando-se à promulgação do Estatuto do Idoso, que estabeleceu que “O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as pessoas idosas”.
 Hoje, o Estado de São Paulo conta com a Associação das Universidades Abertas à Terceira Idade, reunindo várias instituições superiores de ensino que adotam uma pedagogia para o envelhecimento com foco na manutenção da qualidade de vida. Na USP – a Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) completou 18 anos em 2010, envolvendo várias faculdades no campus da Cidade Universitária e da USP-Leste, somando quase 10 mil alunos em 2009, sem contar com o programa especial da Faculdade de Medicina.
 Na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o programa teve início em 1999, na capital paulista. Atualmente se estende à Baixada Santista, com o objetivo de proporcionar mais qualidade de vida física e mental às pessoas com idade a partir de 50 anos. No Rio de Janeiro, a Universidade Veiga de Almeida mantém cursos para idosos, com destaque para Noções de Geriatria e Gerontologia. Todo aluno matriculado no curso tem acesso à orientação e ao atendimento odontológico, fisioterápico e fonoaudiológico.
 A mais recente iniciativa é da Universidade Federal de Alagoas, que inaugurou seu programa em fevereiro último, com a proposta de incentivar um estilo de vida ativo para as populações idosas, buscando alterar comportamentos que podem ser verdadeiros fatores de risco para a saúde.

Fonte: Revista + SAÚDE | Ano 2 Nº 6 | Abril - Maio - Junho 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Câncer da desinformação



        "É difícil permanecer imperador na presença do médico e mais difícil permanecer homem (...).”
 Marguerite Yourcenar, em Memórias de Adriano, relata o triste fim do Imperador, que se defronta com a condição humana, na doença. Este livro sempre me impressionou pela maneira crua com que retrata os últimos dias de um homem e o quanto, não importa as riquezas que acumulemos, somos todos iguais na doença. Em frente ao médico, estamos nus, despidos de quaisquer outras máscaras, enfrentando solitariamente o diagnóstico que informará o que acontece com nosso corpo. Inicio com este trecho porque
o diagnóstico de câncer sempre impressiona e soa como uma sentença de morte indefectível. Diante do câncer era difícil permanecer homem. Eu disse era porque inúmeros avanços na Medicina hoje permitem que um paciente com câncer não se sinta mais um solitário à espera do fim. Novos tratamentos e a importância da detecção da doença em uma fase inicial permitem tratamentos não mais tão agressivos e já com grandes chances de recuperação.
 Bem, se já sabemos que ser portador de câncer não é mais sinônimo do fim, sabemos também que os pacientes dessa enfermidade seguramente enfrentarão dias difíceis e despenderão recursos financeiros para restabelecer a saúde. A Medicina encontrou meios de amenizar, curar e extirpar. Encontrou mecanismos para garantir uma vida plena àqueles portadores dessa doença que já foi assustadora. De outro lado, a lei assegurou, ainda que tardiamente, alguns benefícios para que aqueles que apresentam a moléstia possam concentrar esforços única e exclusivamente no tratamento médico. Com efeito, recebo, em meu escritório, diariamente, pacientes portadores de câncer. Buscam o cumprimento mínimo de seus direitos, como, por
exemplo, garantia de medicamentos, de atendimento e internação. A maior parte deles, entretanto, infelizmente desconhece que tem direito a algumas isenções legais de impostos que, lamentavelmente, nem sempre são concedidas de forma automática.
 Assim, em época de ajustar as contas com o Leão, achei conveniente lembrar que os pacientes com câncer
que recebem rendimentos decorrentes de aposentadoria, pensão ou reforma, incluindo a complementação recebida de entidade privada – PGBL e a pensão alimentícia têm direito à isenção de Imposto de Renda em seus proventos, mesmo que a doença tenha se manifestado após a aposentadoria. E, importante, aqueles pacientes que ainda assim tiveram valores descontados a título de imposto de renda podem reaver estes valores, pagos indevidamente, abrangendo o período concernente aos cinco anos anteriores.
 Em suma, o que se busca é priorizar a saúde e a vida, desonerando o contribuinte enfermo, ainda que sua
enfermidade seja assintomática, ou seja, ainda que não apresente sintomas. Presume-se que, diante da batalha pela vida, o inativo deva ser poupado de descontos em seus rendimentos para que possa investir em saúde! E esta não é a única isenção de que um paciente com diagnóstico de câncer pode usufruir, havendo outros direitos, tais como isenção na contribuição previdenciária, liberação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, liberação do PIS/PASEP, isenção de ICMS, IPI e IPVA, estes sujeitos à análise de outras condições.
 Assim, concluo que atualmente somente um mal pode ser fatal ao enfermo: a desinformação. Dispondo a Medicina de métodos dia a dia mais eficazes no tratamento do câncer, é necessário que o paciente faça valer
a desigualdade a que faz jus, ou seja, que, recebendo do Estado tratamento diferenciado, seja colocado em condição de igualdade à de indivíduos que não são acometidos pela moléstia.

Fonte: Revista + SAÚDE | Ano 2 | N° 6 | Dra. MireleAlves Braz - OAB/RS 47.717