segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Doença de Alzheimer Memória Roubada

Cuidadores fazem a diferença na atenção ao doente
Lucita Briza

Uma das perspectivas de futuro mais animadoras é saber que hoje em dia as pessoas estão vivendo mais. Por trás dessa constatação, porém, dúvidas nos afligem e, uma das maiores é se poderemos envelhecer mantendo nossa integridade mental, sem apresentar quadros de demência - esse grupo de doenças que afetam o cébrebro, levando a um progressivo prejuízo de suas funções. Entre elas, a Doença de Alzheimer (DA), é a mais temida, pois representa 50% a 70% dos casos. 

Essa aflição começou a martelar a cabeça de A.F. há 17 anos, qua\ndo sua mulher Y começou a apresentar estranhos comportamentos: embaralhava idéias, parecia distante ou não entendia o tema das conversas, irritando-se com isso. Levou-a então a um psicólogo, depois a vários neurologistas e psiquiatras e cada vez mais parecia haver uma base física para esses problemas. Os exames se repetiam - mesmo porque, explica A.F., a Doença de Alzheimer não se detecta de um dia para o outro. 

Enquanto a Ciência discute a viabilidade da reposião das células nervosas ou neurônios ( a DA é uma forma de degeneração do sistema nervoso central), a geriatra Márcia Oka, do Hospital Santa Catarina (SP), confirma que a moléstia se inicia de modo incidioso. Em geral, ela é associada à perda de memória, mas nem sempre essa perda é devida À DA.

A perda da memória recente foi uma das primeiras dificuldades apresentadas por Y (não reconhecia ou confundia o nome das pessoas); em seguida, veio a perda de orientação espacial (perdia-se ao sair sozinha, desorientava-se dentro de casa) e temporal (perdeu noção de hora, dia, mês e ano). Esses fatos contaram a favor de um diagnóstico positivo para a doença, mas não sua idade: Y estava ao redor dos 55 anos e o quadro é mais frequente após os 65 anos. "A partir dos 85 anos, pode´se dizer que metade das pessoas tem Alzheimer - o que não é uma fatalidade biológica, já que a outra metade não tem", observa o neurologista Paulo Bertolucci, livre-docente da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

O caso de Y correspondia à descrição que Bertolucci faz da D.A.: uma alteração progressiva da cognição, acompanhada de alterações comportamentais com uma contínua dependência do paciente nas atividades do dia a dia. Ela começou a atrapalhar-se nas compras, nos telefonemas ou para esquentar comida. Depois ficou incapaz de escolher sua roupa, tomar banho, escovar os dentes. Na fase terminal, já incapaz de se comunicar e de alimentar-se sozinha, permanecia deitada e sem controle esfincteriano. 

Y sempre foi dócil, mas a D.A. pode provocar alteraçoes de comportamento como depressão, agitação e agressividade, além de atos repetitivos, como andar de um lado par o outro ou repetir o mesmo som, incomodando quem está em torno. Por todas essas razões, dia a geriatra Márcia, a D.A. envolve família e amigos do doente, que precisam ser orientados para colaborar. 

Não há prevenção total para a D.A., embora hoje exista maior percepção sobre este mal. Sua causa continua desconhecida: sabe-se que os neurônios morrem pelo acúmulo de proteínas não normalmente encontradas no cérebro, tanto dentro (a proteína tau) como fora dos neurônios (a proteína beta-amiloide) - mas não se sabe porque se inicia este processo - e que a D.A. envolve um fator genético (quem tem pai ou máe com a doença tem maior chance de desenvolvê-la, mas isto não significa que apresentará D.A.). Entre os fatores de risco já conhecidos estão: pouca atividade física, reduzida atividade intelectual, baixa escolaridade, tabagismo, envelhecimento, diabetes e/ou hipertensão e obesidade começando na meia-idade (entre 50 e 65 anos).

Se uma pessoa tiver problemas de memória e procurar ajuda médica, caso seja portadora de D.A. terá maior chance de controlar precocemente a doença, adiando por mais 10 ou 15 anos o surgimento de boa parte dos sintomas. Já quando um paciente não dá sinais de perceber suas dificuldades, ou parte delas, o médico terá que dar mais peso ao que seu acompanhante diz. A discrepância entre os dois discursos serve de alerta de que o caso pode ser de demência - e a D.A. é a mais provável delas. 

Para o diagnóstico, a avaliação clínica é fundamental: o médico realiza exames de memoria, linguagem, avalia a capacidade de planejamento e abstração e, em caso de dúvida, pede uma tomografia ou a ressonância magnética. Não há exame específico que comprove a D.A. - a não ser nos raríssimos casos de Alzheimer familiar, que podem ser constatados em um exame genético. 

Como não existe tratamento curativo para a D.A., o que há são drogas que retardam os sintomas da doença, como os inibidores da acetil-colinesterase - remédios caros, mas disponíveis  na rede pública de saúde. Também é importante o tratamento não farmacológico, envolvendo profissionais como fisioterapeuta, fonoaudiólogo, etc. 

Fechado o diagnóstico de Y, A.F. concluiu que o melhor a fazer era "dar a ela uma boa qualidade de vida. Foi o que tentei, durante 15 anos (até Y falecer em 2010). Fez um curso de cuidador4 e assumiu totalmente a função administrando os remédios, cuidando da higiene pessoal e da alimentação de Y. Já aposentado, continuou trabalhando duas horas por dia - quando era substituído por um dos auxiliares que encaminhou para o mesmo curso que havia feito na Associação Brasileira de Alzheimer (www.abraz.com.br).
Em 80% dos casos, os cuidadores são familiares dos pacientes, diz Vera Caovilla, presidente da seccional da ABRAz em São Paulo, que também cuidou de seu pai com D.A. Como consultora da área de saúde, Vera viu a importância de formar esses cuidadores - que precisam de orientação e também de cuidados para enfrentar o desgaste e os sentimentos de (tristeza e raiva à impotência) que a função provoca. Tanto a ABRAz como a APAz (www.alz.org), sediada no Rio de Janeiro, organizam grupos de apoio a famílias e cuidadores de pacientes de D.A..

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vida controlada


Dietas e a prática de exercícios físicos regulares 
ajudam a prevenir a doença



Neusa Pinheiro

    Para o diabético, a distância entre uma vida normal, com qualidade, sem grandes complicações de saúde, e outra com muitas privações  depende de se controlar ou não os fatores de risco da doença. 
    O acompanhamento da doença por meio de aparelhos de medição e os novos conhecimentos sobre o assunto são amplamente divulgados e as precauções têm que ser tomadas, mediante o controle rígido das taxas de glicose no sangue, com injeção de insulina, em alguns casos, além de dietas e a prática de exercícios físicos regulares.
    Os sintomas podem demorar muito a aparecer e o preço do desconhecimento pode ser alto.
    O diabetes é causado pelo aumento da glicose no sangue, que acontece pela falta de um hormônio produzido pelo pâncreas, chamado insulina. O pâncreas tem como principal função levar o hormônio até as células. Se este transporte não for realizado, o açúcar se acumula na corrente sanguínea.
    Em muitos casos, o organismo deixa de fabricar a insulina ou a produz em níveis muito baixos – é o que acontece no diabetes tipo 1, quando é necessário tomar injeções diárias do hormônio.
    Ainda é desconhecida a causa deste tipo de diabetes. Não se sabe se acontece pela existência de um determinado gene, por problemas emocionais ou agentes externos como algum vírus. Geralmente, ele acomete pessoas abaixo de 35 anos e não tem cura. O próprio organismo identifica a insulina como um corpo estranho e a destrói.
    Já o diabetes tipo 2 é menos agressivo, mas não menos perigoso. O pâncreas continua a fabricar a insulina, mas em níveis abaixo do necessário, e o excesso de glicose, que não vai para as células, também fica circulando nos vasos sanguíneos.
    Esse tipo tem mais relação com a obesidade e o sedentarismo. O endocrinologista Augusto Pimazoni-Netto, da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo –, explica: “Ainda não é possível prevenir o diabetes tipo 1, mas o tipo 2, que atinge a maior parte da população, pode ser prevenido por alterações no estilo de vida, como a adoção de uma dieta saudável e a prática de atividades físicas”.
    Alguns sintomas são comuns para a detecção do diabetes, sendo eles a perda de peso, cansaço, vontade de urinar frequente, fome em excesso, sensação de dormência nas mãos e pés, dores no estômago e feridas de cicatrização difícil. Quem tem o diabetes tipo 1 deve medir diariamente (e mais de uma vez até) a taxa de glicose no sangue, que não deve passar, em jejum, de 110 mg/dl. Esta taxa também serve de referência para o diabetes tipo 2.
    A doença pode causar complicações graves, como a perda da visão, de um membro (em função de necroses), impotência e AVC – acidente vascular cerebral. Estima-se que no Brasil existam perto de 10 milhões de diabéticos, dos quais 90% têm o tipo 2. Para sua prevenção, é necessário que anualmente sejam feitos exames como o de pressão arterial, de colesterol, o acompanhamento rotineiro das taxas de açúcar no sangue e que se verifique, logo no início, se já houve algum dano à saúde.
    Uma vez que a doença se configura como glicose demais no sangue, é claro que a precaução básica é evitar alimentos que contenham açúcar e carboidratos simples. Os carboidratos são fontes de energia para o corpo, essenciais para a prática de atividades físicas. No entanto, bolos, biscoitos, chocolates, arroz, batata cozida e outros alimentos são proibidos. 
    De acordo com a médica nutróloga Tamara Mazaracki, membro titular da Associação Brasileira de Nutrologia, são recomendados os carboidratos complexos, ricos em fibras e proteínas encontrados nas verduras e legumes, nas oleaginosas (castanha, noz, avelã), nas leguminosas como a ervilha, lentilha, grão-de-bico e nos cereais integrais como a aveia e massas. Segundo ela, os alimentos diet, ao contrário do pensamento comum, devem ser evitados, pois aguçam a vontade do paciente de ingerir açúcar e, geralmente, possuem alto valor calórico, dificultando a manutenção de peso.
    Tomar insulina nem sempre é recomendado, apenas em casos do tipo 1, mas a dieta rígida e a prática de atividade física é boa para todos os diabéticos. Os exercícios físicos, principalmente os aeróbicos, trazem inúmeros benefícios. Estimulam a produção da insulina, aumentam a capacidade dos músculos de absorver a glicose, diminuem a gordura corporal e previnem complicações associadas à doença.
    O professor e educador físico Alexandre Vieira, da Uniban, afirma que o excesso de atividades físicas pode, por outro lado, prejudicar a saúde do doente. Pois é possível gerar o efeito inverso de falta de açúcar no sangue, a hipoglicemia. Portanto, o monitoramento deve ser sempre realizado antes, durante e depois da atividade física.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pilates - Paulo Castelo Branco


Decidi interromper os exercícios de musculação
e procurar nova modalidade de atividade que
pudesse me garantir uma velhice saudável




    Dia desses, li no site do mestre Hélio Fernandes – www.tribunadaimprensa.com.br – um texto do Eduardo König que tratava da velhice. Eduardo, que é engenheiro, fez um roteiro para idosos no qual ensina que a poupança garante uma velhice melhor, desde que não seja muito, pois você pode desembarcar deste mundo num segundo e deixará a grana para a alegria dos herdeiros. Diz, ainda, que os idosos não devem ficar pensando na descendência com fixação, afinal, como pais, já devem ter oferecido tudo para que os filhos possam tocar suas vidas.
    Para completar, Eduardo orienta que nós, os ex-velhos, ex-terceira idade e hoje idosos, devemos ter uma vida saudável, sem exagerar nos exercícios, nos alimentos, na bebida alcoólica e mesmo na atividade sexual. Tudo deve ser feito com moderação. Dirigir, só até o dia em que se sinta seguro nas dificuldades do trânsito. Nada de estresse, e cuidado com as “mulheres gasolina”. Depois de arrolar uma série de ações que tor-nam a vida dos idosos mais feliz, o autor recomenda uma frase como resposta à inevitável pergunta: – O que você fez na vida? Responda: – Vivi!
    Foi com essas palavras atormentando a minha cabeça que decidi interromper os exercícios de musculação e procurar nova modalidade de atividade que pudesse me garantir uma velhice saudável. O primeiro passo foi em direção à meditação. Orientou-me uma especialista que me levou às profundezas em busca do meu eu. Não me encontrei, apesar de reconhecer a seriedade da meditação e da importância para muitas pessoas atoladas em problemas. 
    Segui outro rumo com um grupo de praticantes de ioga. Quando prestei o serviço militar, conheci um mestre que dava um show nas nossas horas de atividade física. Eu achava o soldado “De Rose” um espanto com a sua concentração e imaginava que, um dia, eu pudesse praticar exercícios com tanta perfeição. Desisti, pois, também não era a minha vocação, como não foi na juventude.
    Mas não desisti de todo. E encontrei, depois de outras tentativas, o exercício que me tem proporcionado uma vida saudável e divertida. Foi no “Pilates” que, af inal , consegui acalmar os meus músculos e nervos, além de me divertir muito com a forma de as professoras conduzirem a aula. Eu, um idoso, nunca havia experimentado exercícios e orientações tão sutis e engraçadas nas aulas a que tenho me submetido duas vezes por semana na “Salute”, logo eu que de salute só conhecia o Royal. A professora começa a aula determinando que eu respire profundamente. Mas não é uma respiração qualquer não. É preciso inspirar com concentração e, em seguida, expirar, soltando o ar e, acreditem, levantando o púbis em direção ao umbigo, e ir subindo o bumbum até não aguentar mais. Em seguida, dar uma inspiradinha e voltar a expirar descendo o bumbum pelas costelas, uma a uma, até colar a coluna no chão. Parece difícil na primeira aula, mas não é; a dificuldade continua por todos os dias. Depois dos exercícios de alongamento, é a vez de outros executados nuns aparelhos cheios de molas que devemos puxar com os pés e braços. Por fim, o exercício de alongamento das pernas que devem ficar esticadas sobre um baú e que chamo de “esticando as canelas”. Quando você pensa que acabou, vem o prêmio. Deitado no chão, sua coluna é alongada por duas mãos fortes que o esticam como se você tivesse crescido uns dez centímetros em um segundo.
    Estou feliz com o “Pilates”. A mobilidade voltou, a mente ficou mais leve e acho que vou me matricular numa escola de dança de salão. Aí, sim, acho que terei uma velhice tranquila e, como disse o König, quando chegar a minha hora de desembarcar, prestarei contas com grande flexibilidade, o que espero, também, do meu Interlocutor.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A velhice tem seus encantos, acreditem



    Todos conhecem os encantos da juventude: agilidade física e mental, desembaraço, disposição para tudo, excitação à flor da pele, sensibilidade intensa, o corpo em desenvolvimento. Ninguém é feio nessa fase da vida. O amor aflora, estimulando todos os nossos desejos. Tem-se fôlego para tudo, até para uma esticada após uma noite inteira de balada. Muitos se orgulham de continuar bebendo na manhã seguinte, como se isso fosse uma grande qualidade ou uma demonstração de boa saúde.
    Na juventude, como se sabe, todos estão aptos a trabalhar,
comemorar, disputar, correr, sem a menor demonstração de fraqueza. Em momentos festivos observamse claramente as demonstrações de juventude. Quando em grupo, então, os homens fazem questão de alardear sua virilidade e as mulheres não se cansam de exibir seus dotes físicos. No litoral, essas demonstrações são ainda mais nítidas, graças aos estímulos do calor, que possibilitam o uso de pouca roupa.
    As demonstrações de senilidade são mais discretas. Na maioria
dos casos, os velhos sequer se expõem, preferindo esconder-se por trás de um aparelho de televisão. Conhecemos os achaques da velhice: diabetes, hipertensão arterial, dores nas costas, enxaqueca, sinusite crônica, depressão – enorme quantidade de males ataca qualquer um depois dos 50, com maior ou menor intensidade. Não há quem não tenha um parente com pelo menos um desses males, ou com todos juntos.
    Raramente se escreve ou se fala dos encantos da velhice.
Admitamos que não se trata, de fato, de encantos, mas pelo menos de vantagens que a idade proporciona. O mais simples deles é andar de graça em ônibus, trem e metrô. Fura-se a fila no caixa dos bancos, dos correios e das loterias, bem como de qualquer Repartição de cujos serviços necessitam. É verdade que em alguns casos não adianta, como na fila dos Precatórios. Nesse caso, o Estado não está nem aí para a idade. Velhos morrem aos 80 ou 90 anos esperando o dinheiro a que teriam direito.
    Para os que ainda conseguem dirigir, há vagas para idosos e
deficientes. Embora nem sempre seja uma vantagem estacionar em tais vagas, que estão mais ou menos na mesma linha de proximidade do supermercado, da farmácia ou do restaurante. Já nos cinemas, o idoso tem desconto de 50% garantido. Nas farmácias oficiais há remédio gratuito, propiciado pelo governo federal.
     Quando o idoso viaja de avião, recebe tratamento especial, ao lado de crianças, portadores de deficiência, grávidas etc. São os primeiros a entrar, a receber as refeições e a sair do avião. Cortesia das empresas na disputa de mercado e também cumprimento das leis que determinam atendimento prioritário aos idosos.
    Não sei por que não se divulgam mais intensamente os benefícios
concedidos aos deficientes, que, em sua maioria, são também idosos. Eles podem adquirir veículos automáticos ou adaptados com desconto de IPI e ICMS, o que significa uma redução aproximada de 25% do valor de mercado. Basta o deficiente submeter-se a um exame e obter uma carteira de habilitação especial. Em seguida, requerer o benefício junto aos órgãos competentes. Não se divulga, ainda, que o deficiente pode livrar-se do rodízio, no caso de São Paulo, se necessita de tratamento permanente, como fisioterapia, hidroterapia, quimioterapia, transfusão de sangue etc. A lei relaciona as doenças e os tratamentos que proporcionam tais benefícios.
    Admitamos que desfrutar de tais regalias não chega a ser um encanto, mas pelo menos é um conforto a mais para quem já está debilitado e muitas vezes deprimido.
    O uso da bengala oferece certo glamour. Nas crianças, desperta
carinho e curiosidade. Em outras pessoas, mesmo desconhecidas, provoca solidariedade. Todos querem ajudar a atravessar a rua, a sentar, levantar, apanhar um objeto, entrar ou sair de um automóvel. Testemunhei essas demonstrações de carinho várias vezes, em diferentes locais e oportunidades. Aí, sim, senti os encantos da velhice.
    Uma recomendação para quem ainda não chegou à velhice: pensar
na possibilidade de manter um plano de saúde, o mais modesto que seja, para as horas de dificuldade. Não sendo possível, inscreva-se num programa de saúde pública (SUS). Questione sempre sua saúde, para seu bem-estar e de sua família.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Vaidade em xeque

Perda dos cabelos pode afetar o lado       
psicológico da mulher




    A alopecia, mais conhecida como calvície, é uma condição ou fenômeno de diminuição ou queda dos cabelos que atinge diretamente a vaidade de seus portadores. É mais comum acontecer no universo masculino, mas não é raro encontrarmos mulheres reclamando do problema.
    O cabelo é considerado a moldura do rosto e representa o objeto principal da vaidade das mulheres. Muitas delas passam horas em salões de beleza, tentando aprimorar a aparência ou aspecto desta “moldura”. Um lindo cabelo é motivo de elogios. A mulher atrai para si olhares que lhe dão segurança e geram emoções positivas tanto para ela como para quem olha.
    A perda dos cabelos, no entanto, pode afetar o lado psicológico da mulher, diminuindo a sua autoestima e tornando o problema ainda mais sério. A alopecia androgênica feminina ou calvície feminina acontece quando uma enzima chamada 5-alfa-redutase age sobre a testosterona, hormônio predominantemente masculino que a mulher tem em menores quantidades, gerando um subproduto chamado dihidrotestosterona – DHT.
    Esse hormônio andrógeno, quando se apresenta em níveis elevados no couro cabeludo, fixa-se nos folículos pilosos e dificulta a passagem de nutrientes vindos do sangue. Os cabelos, então, se afinam e lentamente diminuem seu crescimento, até desaparecerem completamente.
    De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar, o índice de perda de cabelos, em qualquer grau, é bastante representativo entre as mulheres na faixa entre 35 e 40 anos, atingindo até 25% delas. Acima dos quarenta, a situação piora, chegando a 50%. A dermatologista Patrícia Fagundes, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, explica que a calvície começa a despontar após a puberdade, mas, em alguns casos, se torna mais evidente após a menopausa. “Muita gente não sabe que ela existe e é bem menos frequente que a masculina. A mulher vai perdendo o cabelo e consegue visualizar mais facilmente o couro cabeludo. Há menos fios e eles ficam menores e mais finos.”
    Existem muitas causas que levam à calvície feminina. Além dos fatores hormonais, existe o eflúvio telógeno, que representa uma multiplicidade de fatores não genéticos como a calvície ocasionada por tração, normalmente encontrada em pessoas que costumam usar rabo de cavalo ou tranças que puxam o cabelo com muita força; em algum caso traumático como parto, grandes cirurgias, casos de envenenamento ou estresse. A deficiência nutricional, a pílula anticoncepcional e a seborreia também levam à queda dos cabelos. A menopausa e a gravidez são outros fatores hormonais que ocasionam o problema.
    O padrão estético da calvície feminina é diferente do observado na calvície do homem. Os cabelos começam a afinar e diminuir de tamanho de maneira difusa, no centro da cabeça. É muito raro, porém, encontrarmos uma mulher com calvície total, como acontece com os homens.
    Luiz Carlos Cuce, médico e professor de dermatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que os casos de alopecia aumentaram nas mulheres em virtude das mudanças no estilo de vida, com a inserção profissional da mulher na sociedade, o que gerou aumento dos casos por problemas emocionais e de estresse. A pressão da mídia em cima da estética perfeita também funciona como um fator importante, segundo ele. “A mulher se vê obrigada a tornar-se um ‘palito’, muito magra, e muitas vezes, adota dietas não balanceadas, fazendo com que fique subnutrida e mais propensa à calvície”, acrescenta.
    O cuidado com a nutrição do cabelo deve ser feito com doses balanceadas de vitaminas e sais minerais. Os folículos pilosos do couro cabeludo nascerão mais saudáveis e fortes e evitarão que a quantidade de cabelos diminua ou que eles parem de crescer em bom ritmo. Por isso, é importante o consumo de alimentos como frutas e vegetais ricos em vitaminas A, B, C e E.
    É comum a mulher se assustar ao olhar para a escova de cabelo após se pentear ou para o ralo do box do chuveiro após o banho e perceber a quantidade de cabelo depositado nestes locais, mas é preciso saber que uma pessoa tem, em média, de 50 a 100 mil fios de cabelo. É normal uma queda diária de cerca de 50 a 100 fios, o que parece bastante, mas representa apenas 0,1% do total de fios. Esses cabelos são aqueles que estão em fase de repouso e representam 10% do total de cabelos. Os outros 90% são os cabelos que estão em crescimento (em média, 1 cm por mês) e atingirão a fase de repouso após um período que varia de dois a seis anos.
    É sempre bom evitar lavar os cabelos com água muito quente. O alisamento e a escovação exagerada podem também gerar cabelos com pontas duplas e frágeis. Procure um dermatologista quando a queda de cabelo persiste por mais de seis meses.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Beethoven contra o câncer



Usar a música em cultura de células tumorais 
trouxe resultados surpreendentes



    Um trabalho inovador desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a participação da Escola de Música Villa-Lobos, demonstra que a música pode servir como aliada no tratamento do câncer de mama. Testes realizados em culturas de células em laboratório mostraram que, quando células MCF-7 foram expostas à  5a Sinfonia de Beethoven e à composição  Atmosphères, de Gyorgy Ligeti, reduziram de tamanho ou morreram.
    A experiência iniciada há cerca de um ano analisa os efeitos de ondas sonoras audíveis em cultura de células e os resultados surpreenderam ao demonstrar que uma em cada cinco células expostas às composições mencionadas foi extinta. Agora os pesquisadores procuram uma forma de aumentar esse efeito. A ideia é que, no futuro, o grupo possa criar sequências sonoras específicas para ajudar no tratamento do câncer. 
    Estudos realizados anteriormente confirmaram que algumas músicas conseguem diminuir o número de ataques epiléticos e aumentar a capacidade de memória em pacientes com Mal de Alzheimer. A chamada musicoterapia vem sendo aplicada há décadas em doenças de origem neurológica ou em pacientes com transtornos psíquicos, além de ajudar na recuperação de traumas físicos. A ideia de usar a música em cultura de células, porém, é uma novidade.

Efeitos do Som

    A proposta do estudo partiu de uma ideia muito simples. “Se existe um efeito direto de sons audíveis nos seres vivos, poderemos estudá-lo em culturas de células, à semelhança do que já se faz com outros agentes químicos e físicos, como as ondas eletromagnéticas.” A explicação é da professora Marcia Alves Marques Capella, que coordena o trabalho. Ela esclarece, também, que a pesquisa é voltada para o efeito de ondas sonoras em diferentes culturas de células e não apenas nas tumorais. 
    “O nosso objetivo é estudar possíveis efeitos diretos do som (incluindo a música) em diferentes tipos de células, e o trabalho se apoia no fato de que não existe nenhuma razão para que uma célula qualquer do nosso organismo não responda ao som”, avalia. “Os efeitos do ultrassom e do infrassom já são estudados e conhecidos; no entanto, os estudos sobre os efeitos do som audível praticamente se restringem à emoção evocada pela música.” 
    Marcia afirma que ainda não tem uma explicação para o fato de ondas sonoras audíveis promoverem morte em alguns tipos de células tumorais. “Foi uma surpresa para nós, pois estávamos esperando efeitos mais sutis”, revela.
    A redução e morte de células MCF-7 (de câncer de mama humano) obtida pelos pesquisadores também foi testada em células de leucemia, mas o efeito não se repetiu. “No entanto, é possível que outras músicas tenham efeito em mais tipos de células”, acredita.
    Segundo a pesquisadora, já existem outras instituições realizando experiências com ondas sonoras contra o câncer. É o caso do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), que recentemente começou a utilizar um aparelho de ultrassom para o tratamento de alguns tipos de tumores. Ela informa, também, que já foram publicados diversos artigos mostrando efeitos de frequências puras, dentro da faixa audível, em bactérias e em células animais e de vegetais superiores. “Segundo   diversos pesquisadores, é possível observar alteração no metabolismo e no ciclo celular. Mas até onde sabemos, o nosso estudo foi o primeiro a utilizar música em vez de frequências puras.”

Música como Terapia

    A graduação em Física ajudou muito, pois as ondas sonoras têm características mecânicas. Para iniciar o projeto, no entanto, Marcia Capella buscou também adquirir um conhecimento básico sobre teoria musical e, por isso, procurou a Escola de Música Villa-Lobos, onde estudou durante um ano. Foi lá que deu início à parceria com o professor de música que participou da pesquisa inédita.
    “Antes desse trabalho, toda minha experiência usando a música com fins terapêuticos foi como regente em coral com pessoas da terceira idade, não tendo necessariamente relação com doenças humanas”, revela Marcos de Castro Teixeira, formado pelo Conservatório Brasileiro de Música e professor de matérias teóricas e canto. Ele entrou para o universo da pesquisa científica depois de dar aula durante alguns meses para a professora Marcia Capella no curso básico de música. A oportunidade veio em forma de um pedido de orientação no projeto sobre os efeitos de ondas sonoras em células cancerígenas. 
    O professor usou seus conhecimentos na definição das músicas que fizeram parte da experiência e explica que uma delas é a composição já conhecida pelo “Efeito Mozart”, com benefícios comprovados para atenuar e diminuir crises de epilepsia, que recentemente mostrou-se eficiente também na redução da frequência cardíaca. Outros compositores sugeridos por Teixeira foram Beethoven, por ser um dos mais tocados no mundo inteiro, além de Ligeti, por se tratar de um autor contemporâneo que, no caso das células cancerígenas, superaram as composições de Mozart.
    Agora, a ideia da coordenadora do projeto é ampliar a nova linha que está sendo desenvolvida no laboratório para estudos em células não tumorais. Apesar da repercussão positiva que o trabalho obteve, no entanto, Marcia Capella mostra-se cautelosa com relação ao sucesso no meio científico. “Precisamos primeiro ampliar a pesquisa para termos uma ideia da abrangência de nossos achados”, conclui.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Faltou encaixe



A doença pode causar de alterações morfológicas a 
problemas articulares

Camila Pupo

    Sempre escutamos que o corpo humano é como uma máquina e que cada peça se completa para um ótimo funcionamento, não é mesmo? O problema é que nem sempre essas partes se unem com tanta perfeição e isso pode causar alguns danos. A oclusão dental é definida pela relação estabelecida entre os dentes da arcada superior (maxila) com os da arcada inferior (mandíbula), tanto na posição do fechamento bucal, quanto nos movimentos que ocorrem no ciclo mastigatório. Quando ocorre alguma alteração desses fatores, pode haver a maloclusão.
    Segundo Fernando da Cunha Ribeiro, cirurgião-dentista, mestre em Clínicas Odontológicas pela FOUSP – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, a maloclusão pode estar relacionada com diversos problemas, tais como: desconforto e distúrbios dos músculos mastigatórios, disfunções das articulações temporomandibulares, alterações no crescimento facial, problemas fonéticos e respiratórios, cefaleias e outros.
    “Em muitos casos, a maloclusão pode causar desde simples alterações morfológicas até grandes problemas articulares e funcionais. É frequentemente encontrada em pacientes com apertamento dentário (bruxismo), disfunções temporomandibulares, fraturas dentárias, sendo responsabilizada, muitas vezes, como principal agente etiológico (causador) desses problemas”, esclarece Luciana Arcas, cirurgiã-dentista e consultora da ABO – Associação Brasileira de Odontologia.
    “A maloclusão pode ser herdada ou adquirida. A primeira é aquela em que os desvios da normalidade decorrem de fatores preponderantemente genéticos, tais como o tamanho dos dentes, discrepâncias da base óssea maxilomandibular, presença de dentes supranumerários ou anadontias (falha na formação dos dentes) etc. Já a maloclusão adquirida é a que decorre dos fatores do desenvolvimento do indivíduo após o nascimento, como hábitos de chupar dedo ou chupeta, acidentes/traumas, problemas posturais etc.”, explica Ribeiro.
    De acordo com Luciana, o tratamento não deve ser feito mediante uma análise simplista de posicionamento dentário, mas é preciso uma avaliação da articulação temporomandibular, da musculatura da face, das bases ósseas do crânio, além da análise facial. Tudo isso é necessário, pois algumas maloclusões, quando corrigidas sem o diagnóstico correto, podem, por exemplo, deixar os dentes bem articulados, entretanto, ter como resultado uma face esteticamente sem harmonia.
    O tratamento das maloclusões pode ser preventivo, interceptativo ou curativo, como esclarece Ribeiro: “No tratamento preventivo são tomadas atitudes que visam eliminar os fatores que sabidamente são nocivos e estão relacionados ao desenvolvimento de maloclusões. Dentro deste segmento existem, por exemplo: a) os hábitos orais, como o uso exagerado ou prolongado das chupetas; b) os problemas funcionais, como a deglutição atípica e a respiração bucal; c) o controle das doenças bucais, como as cáries e a doença periodontal. No interceptativo são tomadas atitudes que buscam minimizar os danos já constatados, normalmente relacionados a problemas hereditários, que, se não forem interceptados, poderão levar a situações de maior gravidade ao longo processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Já o tratamento curativo procura corrigir ou, ao menos, minimizar os desvios da normalidade, isto é, quando a maloclusão já está instalada”.
    Vale ressaltar que o ser humano possui uma capacidade de adaptação muito grande que o permite superar certas limitações; por isso, mesmo que uma oclusão não seja considerada ótima, não significa que ela pode causar danos ou problemas ao indivíduo, mas, justamente por esse motivo, é preciso um diagnóstico completo feito por um profissional.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pele em erupção


Regiões com muitos pelos são alvo para 
manifestação dessa infecção provocada por bactérias



    Ela é sorrateira. E, quando menos se espera, a pele já está infectada, pois no folículo piloso, lugar onde nascem os pelos, formaram-se nódulos avermelhados e bem doloridos quando comprimidos. Estamos falando do temido furúnculo, problema provocado pela bactéria Staphylococcus aureus. Em alguns pacientes, apontam estudos, a S. aureus pode estar presente na pele e mucosa nasal. 
    “Furúnculo é uma infecção bacteriana da pele que se caracteriza pela presença de um ou mais nódulos  inflamatórios, ou seja, com vermelhidão, calor e dor. Com o passar do tempo eles ‘amolecem’ na parte central (flutuação), e surge sua abertura espontânea com saída de secreção purulenta”, explica a dermatologista Fátima Rabay, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-SP). 
    Segundo a médica, o furúnculo manifesta-se com mais frequência nos membros inferiores – coxas, virilha e nádegas –, e também aparece em qualquer lugar do corpo rico em pelos, com transpiração significativa e sujeita aos atritos – as axilas são exemplos.
    As pessoas mais propensas a ter furúnculo são homens após a puberdade, em virtude da quantidade de pelos, informa Adriana Cristina Caldas, de São José do Rio Preto (SP), especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. “O furúnculo em si não é hereditário, porém a predisposição que algumas pessoas têm em adquirir essa infecção é que pode ser herdada”, completa a profissional.
    O diagnóstico do furúnculo baseia-se na análise clínica e, dependendo de cada caso, colhe-se cultura da secreção para identificação do micro-organismo causador. A sugestão médica é tomar cuidado com a manipulação e higiene dos nódulos, portanto, não vale espremer nem coçar os furúnculos. 
    “Como é causado por uma bactéria”, diz Adriana Caldas, “o fato de manipular as lesões pode facilitar que essa bactéria penetre em outro folículo, levando à formação de novos furúnculos”, reforça a dermatologista, acrescentando que, de uma pessoa para outra, também é possível uma contaminação, embora não seja tão fácil. “É importante que haja uma atenção especial para as crianças, pois essa transmissão pode ser mais eficaz”, pontua. 
    Outra complicação cutânea é a furunculose. Trata-se da recorrência de vários furúnculos repetidamente, sendo associada, entre inúmeros fatores, a problemas de defesa do organismo em impedir a infecção nos folículos.
    Antibióticos tópicos, compressas mornas e uso de sabonetes antissépticos são ferramentas empregadas para evitar a disseminação da bactéria na extensão cutânea. “O tratamento é feito com antibióticos orais ou injetáveis e drenagem cirúrgica, caso não ocorra sua saída espontaneamente”, indica Fátima.
    Mas há como prevenir esse incômodo? A chave está na assepsia. Estão na lista de recomendações as roupas limpas, incluindo toalhas, lençóis e travesseiros, e vestimentas não muito apertadas, que atrapalhem a respiração dos folículos, além de secar bem o corpo e as áreas de dobras da pele. “A prevenção é feita com boa higiene pessoal e com as roupas. Lavar bem as mãos quando manipular as lesões, aplicação de curativos fechados e antibióticos locais nos orifícios naturais, como no nariz e ânus”, finaliza a dermatologista Fátima Rabay.