segunda-feira, 26 de março de 2012

Vaidade em xeque

Perda dos cabelos pode afetar o lado       
psicológico da mulher




    A alopecia, mais conhecida como calvície, é uma condição ou fenômeno de diminuição ou queda dos cabelos que atinge diretamente a vaidade de seus portadores. É mais comum acontecer no universo masculino, mas não é raro encontrarmos mulheres reclamando do problema.
    O cabelo é considerado a moldura do rosto e representa o objeto principal da vaidade das mulheres. Muitas delas passam horas em salões de beleza, tentando aprimorar a aparência ou aspecto desta “moldura”. Um lindo cabelo é motivo de elogios. A mulher atrai para si olhares que lhe dão segurança e geram emoções positivas tanto para ela como para quem olha.
    A perda dos cabelos, no entanto, pode afetar o lado psicológico da mulher, diminuindo a sua autoestima e tornando o problema ainda mais sério. A alopecia androgênica feminina ou calvície feminina acontece quando uma enzima chamada 5-alfa-redutase age sobre a testosterona, hormônio predominantemente masculino que a mulher tem em menores quantidades, gerando um subproduto chamado dihidrotestosterona – DHT.
    Esse hormônio andrógeno, quando se apresenta em níveis elevados no couro cabeludo, fixa-se nos folículos pilosos e dificulta a passagem de nutrientes vindos do sangue. Os cabelos, então, se afinam e lentamente diminuem seu crescimento, até desaparecerem completamente.
    De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar, o índice de perda de cabelos, em qualquer grau, é bastante representativo entre as mulheres na faixa entre 35 e 40 anos, atingindo até 25% delas. Acima dos quarenta, a situação piora, chegando a 50%. A dermatologista Patrícia Fagundes, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, explica que a calvície começa a despontar após a puberdade, mas, em alguns casos, se torna mais evidente após a menopausa. “Muita gente não sabe que ela existe e é bem menos frequente que a masculina. A mulher vai perdendo o cabelo e consegue visualizar mais facilmente o couro cabeludo. Há menos fios e eles ficam menores e mais finos.”
    Existem muitas causas que levam à calvície feminina. Além dos fatores hormonais, existe o eflúvio telógeno, que representa uma multiplicidade de fatores não genéticos como a calvície ocasionada por tração, normalmente encontrada em pessoas que costumam usar rabo de cavalo ou tranças que puxam o cabelo com muita força; em algum caso traumático como parto, grandes cirurgias, casos de envenenamento ou estresse. A deficiência nutricional, a pílula anticoncepcional e a seborreia também levam à queda dos cabelos. A menopausa e a gravidez são outros fatores hormonais que ocasionam o problema.
    O padrão estético da calvície feminina é diferente do observado na calvície do homem. Os cabelos começam a afinar e diminuir de tamanho de maneira difusa, no centro da cabeça. É muito raro, porém, encontrarmos uma mulher com calvície total, como acontece com os homens.
    Luiz Carlos Cuce, médico e professor de dermatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que os casos de alopecia aumentaram nas mulheres em virtude das mudanças no estilo de vida, com a inserção profissional da mulher na sociedade, o que gerou aumento dos casos por problemas emocionais e de estresse. A pressão da mídia em cima da estética perfeita também funciona como um fator importante, segundo ele. “A mulher se vê obrigada a tornar-se um ‘palito’, muito magra, e muitas vezes, adota dietas não balanceadas, fazendo com que fique subnutrida e mais propensa à calvície”, acrescenta.
    O cuidado com a nutrição do cabelo deve ser feito com doses balanceadas de vitaminas e sais minerais. Os folículos pilosos do couro cabeludo nascerão mais saudáveis e fortes e evitarão que a quantidade de cabelos diminua ou que eles parem de crescer em bom ritmo. Por isso, é importante o consumo de alimentos como frutas e vegetais ricos em vitaminas A, B, C e E.
    É comum a mulher se assustar ao olhar para a escova de cabelo após se pentear ou para o ralo do box do chuveiro após o banho e perceber a quantidade de cabelo depositado nestes locais, mas é preciso saber que uma pessoa tem, em média, de 50 a 100 mil fios de cabelo. É normal uma queda diária de cerca de 50 a 100 fios, o que parece bastante, mas representa apenas 0,1% do total de fios. Esses cabelos são aqueles que estão em fase de repouso e representam 10% do total de cabelos. Os outros 90% são os cabelos que estão em crescimento (em média, 1 cm por mês) e atingirão a fase de repouso após um período que varia de dois a seis anos.
    É sempre bom evitar lavar os cabelos com água muito quente. O alisamento e a escovação exagerada podem também gerar cabelos com pontas duplas e frágeis. Procure um dermatologista quando a queda de cabelo persiste por mais de seis meses.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Beethoven contra o câncer



Usar a música em cultura de células tumorais 
trouxe resultados surpreendentes



    Um trabalho inovador desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a participação da Escola de Música Villa-Lobos, demonstra que a música pode servir como aliada no tratamento do câncer de mama. Testes realizados em culturas de células em laboratório mostraram que, quando células MCF-7 foram expostas à  5a Sinfonia de Beethoven e à composição  Atmosphères, de Gyorgy Ligeti, reduziram de tamanho ou morreram.
    A experiência iniciada há cerca de um ano analisa os efeitos de ondas sonoras audíveis em cultura de células e os resultados surpreenderam ao demonstrar que uma em cada cinco células expostas às composições mencionadas foi extinta. Agora os pesquisadores procuram uma forma de aumentar esse efeito. A ideia é que, no futuro, o grupo possa criar sequências sonoras específicas para ajudar no tratamento do câncer. 
    Estudos realizados anteriormente confirmaram que algumas músicas conseguem diminuir o número de ataques epiléticos e aumentar a capacidade de memória em pacientes com Mal de Alzheimer. A chamada musicoterapia vem sendo aplicada há décadas em doenças de origem neurológica ou em pacientes com transtornos psíquicos, além de ajudar na recuperação de traumas físicos. A ideia de usar a música em cultura de células, porém, é uma novidade.

Efeitos do Som

    A proposta do estudo partiu de uma ideia muito simples. “Se existe um efeito direto de sons audíveis nos seres vivos, poderemos estudá-lo em culturas de células, à semelhança do que já se faz com outros agentes químicos e físicos, como as ondas eletromagnéticas.” A explicação é da professora Marcia Alves Marques Capella, que coordena o trabalho. Ela esclarece, também, que a pesquisa é voltada para o efeito de ondas sonoras em diferentes culturas de células e não apenas nas tumorais. 
    “O nosso objetivo é estudar possíveis efeitos diretos do som (incluindo a música) em diferentes tipos de células, e o trabalho se apoia no fato de que não existe nenhuma razão para que uma célula qualquer do nosso organismo não responda ao som”, avalia. “Os efeitos do ultrassom e do infrassom já são estudados e conhecidos; no entanto, os estudos sobre os efeitos do som audível praticamente se restringem à emoção evocada pela música.” 
    Marcia afirma que ainda não tem uma explicação para o fato de ondas sonoras audíveis promoverem morte em alguns tipos de células tumorais. “Foi uma surpresa para nós, pois estávamos esperando efeitos mais sutis”, revela.
    A redução e morte de células MCF-7 (de câncer de mama humano) obtida pelos pesquisadores também foi testada em células de leucemia, mas o efeito não se repetiu. “No entanto, é possível que outras músicas tenham efeito em mais tipos de células”, acredita.
    Segundo a pesquisadora, já existem outras instituições realizando experiências com ondas sonoras contra o câncer. É o caso do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), que recentemente começou a utilizar um aparelho de ultrassom para o tratamento de alguns tipos de tumores. Ela informa, também, que já foram publicados diversos artigos mostrando efeitos de frequências puras, dentro da faixa audível, em bactérias e em células animais e de vegetais superiores. “Segundo   diversos pesquisadores, é possível observar alteração no metabolismo e no ciclo celular. Mas até onde sabemos, o nosso estudo foi o primeiro a utilizar música em vez de frequências puras.”

Música como Terapia

    A graduação em Física ajudou muito, pois as ondas sonoras têm características mecânicas. Para iniciar o projeto, no entanto, Marcia Capella buscou também adquirir um conhecimento básico sobre teoria musical e, por isso, procurou a Escola de Música Villa-Lobos, onde estudou durante um ano. Foi lá que deu início à parceria com o professor de música que participou da pesquisa inédita.
    “Antes desse trabalho, toda minha experiência usando a música com fins terapêuticos foi como regente em coral com pessoas da terceira idade, não tendo necessariamente relação com doenças humanas”, revela Marcos de Castro Teixeira, formado pelo Conservatório Brasileiro de Música e professor de matérias teóricas e canto. Ele entrou para o universo da pesquisa científica depois de dar aula durante alguns meses para a professora Marcia Capella no curso básico de música. A oportunidade veio em forma de um pedido de orientação no projeto sobre os efeitos de ondas sonoras em células cancerígenas. 
    O professor usou seus conhecimentos na definição das músicas que fizeram parte da experiência e explica que uma delas é a composição já conhecida pelo “Efeito Mozart”, com benefícios comprovados para atenuar e diminuir crises de epilepsia, que recentemente mostrou-se eficiente também na redução da frequência cardíaca. Outros compositores sugeridos por Teixeira foram Beethoven, por ser um dos mais tocados no mundo inteiro, além de Ligeti, por se tratar de um autor contemporâneo que, no caso das células cancerígenas, superaram as composições de Mozart.
    Agora, a ideia da coordenadora do projeto é ampliar a nova linha que está sendo desenvolvida no laboratório para estudos em células não tumorais. Apesar da repercussão positiva que o trabalho obteve, no entanto, Marcia Capella mostra-se cautelosa com relação ao sucesso no meio científico. “Precisamos primeiro ampliar a pesquisa para termos uma ideia da abrangência de nossos achados”, conclui.