quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Faltou encaixe



A doença pode causar de alterações morfológicas a 
problemas articulares

Camila Pupo

    Sempre escutamos que o corpo humano é como uma máquina e que cada peça se completa para um ótimo funcionamento, não é mesmo? O problema é que nem sempre essas partes se unem com tanta perfeição e isso pode causar alguns danos. A oclusão dental é definida pela relação estabelecida entre os dentes da arcada superior (maxila) com os da arcada inferior (mandíbula), tanto na posição do fechamento bucal, quanto nos movimentos que ocorrem no ciclo mastigatório. Quando ocorre alguma alteração desses fatores, pode haver a maloclusão.
    Segundo Fernando da Cunha Ribeiro, cirurgião-dentista, mestre em Clínicas Odontológicas pela FOUSP – Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, a maloclusão pode estar relacionada com diversos problemas, tais como: desconforto e distúrbios dos músculos mastigatórios, disfunções das articulações temporomandibulares, alterações no crescimento facial, problemas fonéticos e respiratórios, cefaleias e outros.
    “Em muitos casos, a maloclusão pode causar desde simples alterações morfológicas até grandes problemas articulares e funcionais. É frequentemente encontrada em pacientes com apertamento dentário (bruxismo), disfunções temporomandibulares, fraturas dentárias, sendo responsabilizada, muitas vezes, como principal agente etiológico (causador) desses problemas”, esclarece Luciana Arcas, cirurgiã-dentista e consultora da ABO – Associação Brasileira de Odontologia.
    “A maloclusão pode ser herdada ou adquirida. A primeira é aquela em que os desvios da normalidade decorrem de fatores preponderantemente genéticos, tais como o tamanho dos dentes, discrepâncias da base óssea maxilomandibular, presença de dentes supranumerários ou anadontias (falha na formação dos dentes) etc. Já a maloclusão adquirida é a que decorre dos fatores do desenvolvimento do indivíduo após o nascimento, como hábitos de chupar dedo ou chupeta, acidentes/traumas, problemas posturais etc.”, explica Ribeiro.
    De acordo com Luciana, o tratamento não deve ser feito mediante uma análise simplista de posicionamento dentário, mas é preciso uma avaliação da articulação temporomandibular, da musculatura da face, das bases ósseas do crânio, além da análise facial. Tudo isso é necessário, pois algumas maloclusões, quando corrigidas sem o diagnóstico correto, podem, por exemplo, deixar os dentes bem articulados, entretanto, ter como resultado uma face esteticamente sem harmonia.
    O tratamento das maloclusões pode ser preventivo, interceptativo ou curativo, como esclarece Ribeiro: “No tratamento preventivo são tomadas atitudes que visam eliminar os fatores que sabidamente são nocivos e estão relacionados ao desenvolvimento de maloclusões. Dentro deste segmento existem, por exemplo: a) os hábitos orais, como o uso exagerado ou prolongado das chupetas; b) os problemas funcionais, como a deglutição atípica e a respiração bucal; c) o controle das doenças bucais, como as cáries e a doença periodontal. No interceptativo são tomadas atitudes que buscam minimizar os danos já constatados, normalmente relacionados a problemas hereditários, que, se não forem interceptados, poderão levar a situações de maior gravidade ao longo processo de crescimento e desenvolvimento da criança. Já o tratamento curativo procura corrigir ou, ao menos, minimizar os desvios da normalidade, isto é, quando a maloclusão já está instalada”.
    Vale ressaltar que o ser humano possui uma capacidade de adaptação muito grande que o permite superar certas limitações; por isso, mesmo que uma oclusão não seja considerada ótima, não significa que ela pode causar danos ou problemas ao indivíduo, mas, justamente por esse motivo, é preciso um diagnóstico completo feito por um profissional.