terça-feira, 10 de abril de 2012

A velhice tem seus encantos, acreditem



    Todos conhecem os encantos da juventude: agilidade física e mental, desembaraço, disposição para tudo, excitação à flor da pele, sensibilidade intensa, o corpo em desenvolvimento. Ninguém é feio nessa fase da vida. O amor aflora, estimulando todos os nossos desejos. Tem-se fôlego para tudo, até para uma esticada após uma noite inteira de balada. Muitos se orgulham de continuar bebendo na manhã seguinte, como se isso fosse uma grande qualidade ou uma demonstração de boa saúde.
    Na juventude, como se sabe, todos estão aptos a trabalhar,
comemorar, disputar, correr, sem a menor demonstração de fraqueza. Em momentos festivos observamse claramente as demonstrações de juventude. Quando em grupo, então, os homens fazem questão de alardear sua virilidade e as mulheres não se cansam de exibir seus dotes físicos. No litoral, essas demonstrações são ainda mais nítidas, graças aos estímulos do calor, que possibilitam o uso de pouca roupa.
    As demonstrações de senilidade são mais discretas. Na maioria
dos casos, os velhos sequer se expõem, preferindo esconder-se por trás de um aparelho de televisão. Conhecemos os achaques da velhice: diabetes, hipertensão arterial, dores nas costas, enxaqueca, sinusite crônica, depressão – enorme quantidade de males ataca qualquer um depois dos 50, com maior ou menor intensidade. Não há quem não tenha um parente com pelo menos um desses males, ou com todos juntos.
    Raramente se escreve ou se fala dos encantos da velhice.
Admitamos que não se trata, de fato, de encantos, mas pelo menos de vantagens que a idade proporciona. O mais simples deles é andar de graça em ônibus, trem e metrô. Fura-se a fila no caixa dos bancos, dos correios e das loterias, bem como de qualquer Repartição de cujos serviços necessitam. É verdade que em alguns casos não adianta, como na fila dos Precatórios. Nesse caso, o Estado não está nem aí para a idade. Velhos morrem aos 80 ou 90 anos esperando o dinheiro a que teriam direito.
    Para os que ainda conseguem dirigir, há vagas para idosos e
deficientes. Embora nem sempre seja uma vantagem estacionar em tais vagas, que estão mais ou menos na mesma linha de proximidade do supermercado, da farmácia ou do restaurante. Já nos cinemas, o idoso tem desconto de 50% garantido. Nas farmácias oficiais há remédio gratuito, propiciado pelo governo federal.
     Quando o idoso viaja de avião, recebe tratamento especial, ao lado de crianças, portadores de deficiência, grávidas etc. São os primeiros a entrar, a receber as refeições e a sair do avião. Cortesia das empresas na disputa de mercado e também cumprimento das leis que determinam atendimento prioritário aos idosos.
    Não sei por que não se divulgam mais intensamente os benefícios
concedidos aos deficientes, que, em sua maioria, são também idosos. Eles podem adquirir veículos automáticos ou adaptados com desconto de IPI e ICMS, o que significa uma redução aproximada de 25% do valor de mercado. Basta o deficiente submeter-se a um exame e obter uma carteira de habilitação especial. Em seguida, requerer o benefício junto aos órgãos competentes. Não se divulga, ainda, que o deficiente pode livrar-se do rodízio, no caso de São Paulo, se necessita de tratamento permanente, como fisioterapia, hidroterapia, quimioterapia, transfusão de sangue etc. A lei relaciona as doenças e os tratamentos que proporcionam tais benefícios.
    Admitamos que desfrutar de tais regalias não chega a ser um encanto, mas pelo menos é um conforto a mais para quem já está debilitado e muitas vezes deprimido.
    O uso da bengala oferece certo glamour. Nas crianças, desperta
carinho e curiosidade. Em outras pessoas, mesmo desconhecidas, provoca solidariedade. Todos querem ajudar a atravessar a rua, a sentar, levantar, apanhar um objeto, entrar ou sair de um automóvel. Testemunhei essas demonstrações de carinho várias vezes, em diferentes locais e oportunidades. Aí, sim, senti os encantos da velhice.
    Uma recomendação para quem ainda não chegou à velhice: pensar
na possibilidade de manter um plano de saúde, o mais modesto que seja, para as horas de dificuldade. Não sendo possível, inscreva-se num programa de saúde pública (SUS). Questione sempre sua saúde, para seu bem-estar e de sua família.