terça-feira, 10 de maio de 2011

Saúde da Pele

Uma questão de pele
Transtornos emocionais podem estar entre as
causas da doença





O vitiligo é uma doença que provoca a perda de pigmentação da pele, atingindo principalmente a face, extremidades dos membros, genitais, cotovelos e joelhos. Em casos graves, a doença pode se alastrar em até 85% do corpo, despigmentando a pele e os pelos nas regiões atingidas. Não há como prever a evolução da doença, que pode permanecer estável durante anos, voltar a se desenvolver ou regredir espontaneamente. Em um mesmo paciente pode ocorrer simultaneamente a regressão de algumas lesões enquanto outras se desenvolvem. Uma característica da doença é que ferimentos na pele podem dar origem a novas lesões. Michael Jackson, o ídolo pop morto em 2009, culpou a doença pelo clareamento gradual de sua pele ao longo dos últimos anos de vida, mas a alegação foi recebida com desconfiança por parte da mídia, que acreditava tratar-se de mais um artifício para o clareamento intencional de sua pele. A  publicação de fotos do filho mais velho do artista em uma praia na Espanha, no último verão europeu, trouxe de volta a questão. Apresentando manchas esbranquiçadas na região das axilas, o garoto levou a mídia a concluir que o branqueamento do cantor foi mesmo causado pelo vitiligo, pois a moléstia tem um forte componente genético. A possibilidade de o vitiligo atingir praticamente todo o corpo, clareando a pele uniformemente, é confirmada pela dermatologista Fabiana Salazar Posso, médica colaboradora da disciplina de Dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia. “Trata-se do vitiligo universal, em que quase a totalidade da pele é acometida”, explica a especialista. “Nesses casos, pode ser proposta a despigmentação das áreas restantes da pele, em vez de tentar recuperar a coloração de uma área tão grande. Mas é importante informar ao paciente que ele terá que evitar a exposição solar para o resto da vida”, alerta. O fato de Michael Jackson ter mantido a doença em segredo inicialmente é compreensível, pois a aceitação do vitiligo é difícil e o preconceito é grande até entre os profissionais que deveriam estar mais bem preparados para lidar com o problema. O alerta foi feito durante a Jornada de Cosmiatria, realizada em São Paulo, em julho passado. Entre os participantes, o dermatologista Samir Arbache classificou o vitiligo como uma das doenças mais temidas da medicina. “Os médicos não têm a ideia do mal que provocam, especialmente nas fases iniciais, quando se mostram pessimistas, transmitindo a informação de que a doença não tem cura e que o melhor a fazer é aprender a conviver com ela”, alertou. O vitiligo atinge 0,5% a 4% da população mundial. No Brasil, ainda não existem dados consistentes sobre sua frequência, mas sua ocorrência varia consideravelmente nos diversos grupos étnicos. Como em outras moléstias, quanto mais cedo se iniciar o tratamento, maior a chance de conter seus estragos, explica Samir Arbache. “Normalmente o vitiligo se inicia com manchas hipocrômicas (mais claras que o tom da pele do paciente), que depois se tornam acrômicas (manchas brancas). Usualmente são assintomáticas, mas alguns pacientes podem apresentar prurido. O uso da lâmpada de Wood (UVA 351nm) auxilia no estágio inicial, para diferenciação de uma hipocromia simples. Arbache garante que a doença é curável e o sucesso do tratamento depende muito de como o paciente é orientado. Por isso, recomenda que o médico que não estiver atualizado sobre as técnicas de tratamento encaminhe o paciente para um dermatologista imediatamente. “O profissional também deve ter muito cuidado com as reações psicológicas do paciente, porque na maioria dos casos o vitiligo é desencadeado inicialmente por transtornos emocionais que mobilizam os linfócitos T a atacarem os melanócitos, responsáveis pela pigmentação”, orienta o dermatologista. Fabiana Posso complementa a informação, explicando que o vitiligo não tem causas conhecidas e acredita-se que exista uma predisposição genética que poderá se manifestar ou não, conforme o histórico de vida do paciente. Entre as explicações para a sua origem, ela enumera a reação autoimune, em que ocorre a formação de autoanticorpos; a neurogênica, na qual um mediador neuroquímico causa a destruição de melanócitos ou inibe a produção de melanina; autocitotóxica, em que ocorre uma atividade aumentada de melanócitos, o que acarreta a produção de substâncias tóxicas capazes de destruí-los, e, por último, o estresse oxidativo, em que ocorre alteração das enzimas bloqueadoras dos radicais livres, provocando a morte celular. Apesar da diversidade das causas, a dermatologista também garante que o vitiligo é curável, mas explica que o tratamento depende de vários fatores. “O paciente precisa ser perseverante e acreditar na cura”, esclarece. “É importante ressaltar que não existe um tratamento único e milagroso, e o que funcionou para um paciente não vai necessariamente funcionar para o outro.” Para enfrentar a doença, pode-se utilizar o tratamento tópico – com o uso de cremes e pomadas à base de corticoides – assim como as medicações via oral (corticoides, psoralenos, vitaminas etc.). Os tratamentos físicos incluem luzes UVA e UVB e a laserterapia, além de tratamentos cirúrgicos com transplantes de melanócitos, microenxertos, raspagens e oclusões. Segundo Arbache, sua experiência mostra que “o melhor tratamento para o vitiligo é a exposição por ultravioleta B, especialmente quando ela é realizada através de laser excimer. Felizmente, o sistema público começou a arcar financeiramente com os custos destes tratamentos”, comemora. Já Fabiana Posso informa que esses tratamentos estão disponíveis nos grandes centros médicos das grandes capitais, embora nem todos sejam cobertos pelo SUS. “Mas alguns serviços médicos universitários de São Paulo, como é o caso da Faculdade de Medicina do ABC, também tornam tratamentos com luz, laserterapia, ou os procedimentos cirúrgicos, acessíveis à população”, esclarece a médica.

Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº4. Outubro/Novembro/Dezembro - 2010

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