quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dirigir

Freie o Medo
Terapia e aulas especiais combatem o pavor

Sudorese, tremor nas pernas, boca seca, tensão muscular em especial na região cervical, mãos frias, calor no rosto, diarreia. Estes são alguns dos sintomas que pessoas com medo de dirigir sentem quando se deparam com o maior “inimigo”: o volante. Atividades comuns para milhões de motoristas como ligar o motor ou sair da garagem são martírio para cerca de 10% dos brasileiros habilitados. A parcela mais afetada é de mulheres entre 30 e 45 anos, de acordo com pesquisa desenvolvida pela psicóloga Neuza Corassa, especialista em medos e fobias e integrante do CPEM – Centro de Psicologia Especializado em Medos (www.medos.com.br), em Curitiba (PR). De cada 10 pacientes que procuram seu consultório, oito já têm a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e automóvel. Segundo a profissional, muitas mulheres acabam deixando o carro em casa para não enfrentar a situação, que denominou Síndrome do Carro na Garagem. “Comecei a estudar o assunto em 1996, com mães que levavam os filhos e seus maridos às consultas porque o carro delas ficava na garagem”, conta a autora do livroVença o medo de dirigir – como superarse e conduzir o volante da própria vida (Editora Gente). Detalhistas, pontuais, extremamente responsáveis e perfeccionistas são as que mais sofrem. “Hoje, as mulheres precisam do carro, mas o medo as domina e se sentem incapazes de estar na rua. Isto se encaixa em dois pontos: o perfil perfeccionista, a ansiedade e o medo de errar e serem repreendidas, além da visão distorcida de que o trânsito não foi feito para elas”, completa Neuza. Os gatilhos podem estar relacionados também a traumas (acidentes, atropelamentos) ou outros medos irracionais, como achar que o auto “tem vida própria” e não conseguem controlá-lo. Um fato interessante recai sobre aqueles que convivem com outros com medo de dirigir. Isso acaba por potencializar a fobia. “É o reforço dos pensamentos negativos em relação àquela situação que a pessoa vivencia no seu dia a dia", analisa a psicóloga Salete Coelho Martins, fundadora da Clínica- Escola Psicotran, também em Curitiba. “Tenho vários relatos de pacientes que mostram ter medo até de andar como passageiros. E isso pode acontecer ora porque o condutor corre muito, ora porque tem comportamento agressivo ao dirigir; ou ainda não tem paciência com outros motoristas”, exemplifica Salete Martins, da Psicotran. Já para Neuza Corassa: “Na maioria dos casos não há nenhuma relação. Muitas pessoas que têm medo de dirigir são ótimas ‘copilotos’, indicam trajetos e ruas, pois se sentem livres da crítica que as atormentam quando estão na direção”. Na série de entrevistas que Salete realiza na clínica-escola, a psicóloga destaca o caso da professora Maria Helena (nome fictício), de 43 anos. Quando ela tentava dirigir, sentia que não fazia parte do trânsito. Para ela, era difícil lidar com o novo, imprevistos e, quando estava dentro do veículo, parecia que não dominava a situação. A médica trabalhou a autoestima dessa paciente, ensinando o domínio do veículo, o que foi fundamental para sua independência. O tratamento para o problema envolve Terapia Cognitiva Comportamental, ou seja, a mudança de comportamento no trânsito. Este é o principal intuito de escolas para pessoas habilitadas. É realizado um estudo individual, em que o paciente conta seu histórico e relação com o auto, além de aulas práticas com auxílio do psicólogo e instrutores capacitados. Salete Martins, da Psicotran, explica: “Antes de iniciar qualquer tratamento, faço uma avaliação individual e crio um plano terapêutico. Saio com o paciente e vou junto fazer suas atividades de carro e de preferência com ele dirigindo. O objetivo é inserir o veículo na vida do paciente gradativamente”, pontua. Os consultórios especializados também trabalham com pessoas não habilitadas, corrigindo a ansiedade no momento dos exames preparatórios para conseguir a habilitação. Fazer relaxamento e trabalhar a respiração, traçar pequenos trajetos, como ir à padaria ou ao supermercado mais próximos, ligar e desligar o motor, entrar e sair do carro, estacionar na garagem são algumas das dicas para conduzir de maneira mais confortável. 

Fonte: + Saúde Magazine. Ano 2, nº5. Janeiro/Fevereiro/Março - 2011

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