terça-feira, 29 de novembro de 2011

Trauma grave



Quedas e acidentes de trânsito são as principais
causas de lesões na coluna

Keli Vasconcelos


        Quem nunca se empolgou e deu um mergulho de cabeça na piscina? E, na pressa de chegar a um compromisso, se esqueceu de colocar o cinto de segurança? Ou, ainda, subiu no telhado da casa sem proteção alguma? Ações como estas podem custar a coluna vertebral, causando lesões graves como trauma raquimedular (TRM). Segundo dados do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), 56% dos acidentados acreditavam que a causa do acidente estava na sua falta de atenção e 43% não tinham ideia da gravidade de se machucar a coluna. A pesquisa foi realizada entre 2007 e 2008 com pacientes atendidos na instituição diagnosticados com trauma de coluna.
        Outro dado importante é que vítimas de acidentes represen-taram 90% dos atendimentos em urgências e emergências, sendo quedas e acidentes de trânsito as principais causas. Os resultados foram obtidos pelo Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), do Ministério da Saúde, no levantamento feito em 74 serviços de saúde de 23 capitais e Distrito Federal, entre setembro e novembro de 2009. O estudo VIVA apontou ainda que, entre os homens, quedas (31,8%) e transporte (29,6%) foram as duas principais causas de acidentes. Além disso, entre as pessoas que buscaram atendimento, 22,9% do total de vítimas são jovens de 20 a 29 anos. Os estudos revelam ainda que o TRM atinge mais pacientes do sexo masculino na faixa entre 20 e 40 anos.
        Mergulho em águas rasas, direção negligente, armas de fogo, realização de obras sem os devidos cuidados e sem os chamados equipamentos de proteção pessoal (EPIs), que abrangem os acidentes de trabalho, são algumas das situações que resultam em lesões graves – e, por muitas vezes, irreversíveis – na coluna.   
        Adriana Rosa Cristante, fisiatra da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), explica que a coluna vertebral é constituída pela parte óssea (vértebras), ligamentos entre as vértebras, discos intervertebrais e no canal raquiano (formado pelas vértebras), a medula espinhal.
        “Com o trauma, pode ocorrer fratura da coluna sem lesar a medula espinhal ou fratura da coluna associada à lesão da medula espinhal, que constitui o trauma raquimedular propriamente dito, no qual a pessoa já nota déficit de força e sensibilidade abaixo do nível da lesão”, conta. Nesse momento, completa a profissional, a medula já sofre a lesão pelo próprio trauma em si (chamada de lesão primária) e imediatamente segue-se uma série de reações inflamatórias que vão gerar um quadro de edema, inicialmente na medula, que aumenta sua área (lesão medular secundária).
        O TRM compreende as lesões na extensão da coluna vertebral, que abrangem partes vasculares e ósseas, a própria medula e ligamentos, entre outras regiões, comenta Fabiano Nunes Faria, ortopedista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Esse problema pode desencadear uma interrupção fisiológica e temporária da função medular, conhecida pelos médicos como choque medular, em que, clinicamente, o paciente apresenta quadro de anestesia e paralisia abaixo do nível da lesão. Na fase inicial, que dura dias ou até semanas, não é possível obter um prognóstico completo sobre a região lesionada. “Após o término (do choque medular), podemos caracterizar se houve lesão definitiva, classificada em completa ou incompleta, conforme a presença ou ausência de função sensitiva e motora”, pontua o ortopedista do Hospital Beneficência Portuguesa. 
        De acordo com os especialistas, a avaliação da extensão da lesão medular é feita por meio de aspectos de força, sensibilidade e reflexos, segundo o protocolo internacional da American Spinal Injury Association (ASIA), classificando nível e grau de lesão. “Considerando que a lesão pode ocorrer em qualquer nível da coluna e ser de natureza completa ou incompleta”, acrescenta Adriana Cristante da AACD, “existe uma variabilidade  grande de apresentações clínicas entre as vítimas de TRM, como tetraplégicos completos e incompletos, paraplégicos completos e incompletos. Portanto, em alguns casos, pode haver recuperação dos déficits, mas em outros pode não haver quaisquer recuperações.”
        A terapia para reabilitação e plus na qualidade de vida dos pacientes lesionados engloba uma equipe multidisciplinar e não apenas o papel de fisioterapia. Ortopedista, neurocirurgião, fisiatra, fisiologista, terapeuta ocupacional, enfermeiro e psicólogo, entre outros, estão no time de médicos que vão auxiliá-los. 
        Vale lembrar que esse problema não é apenas motor e que outras sequelas são referidas, como em relação ao controle na bexiga e intestino, por exemplo. A readaptação é um processo constante que garante o ganho de independência nas atividades que são consideradas corriqueiras para muitos. Porém, são novos desafios para os afetados pelo TRM.

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