sexta-feira, 19 de novembro de 2010

NECESSIDADE OU VOCAÇÃO?

O segredo, dizem os especialistas, é ter planejamento e conhecimento do mercado
© Michaeldb | Dreamstime.com


A falta de emprego, a busca por melhores salários e qualidade de vida e o crescente interesse pela cultura do empreendedor em escolas e universidades têm impulsionado o empreendedorismo no Brasil. Dados da Global Entrepreneuship Monitor (GEM)* de 2008, pesquisa realizada anualmente em 40 países, apontam o Brasil na nona posição entre as pessoas que mais abrem negócio no mundo. Os jovens brasileiros estão à frente nessa estatística. Segundo levantamento do Banco Mundial, o País é o terceiro no ranking mundial de jovens empreendedores.
O grupo dos mais experientes – a partir de 45 anos – também busca uma alternativa profissional por meio do empreendedorismo. São os aposentados, desempregados ou pessoas que almejam uma segunda oportunidade no mundo dos negócios e partem para consultorias e serviços.
A história de Oswaldo Ferreira, 57 anos, diretor comercial da Design On, empresa especializada em divisórias, é um bom exemplo de empreendedor que carrega no sangue a vocação e muita experiência. Depois de 25 anos na gerência de vendas em empresas do setor, decidiu não se render à escassa renda de uma aposentadoria e focou na realização do tão sonhado negócio próprio. “Foram duas tentativas frustradas por falta de experiência, uma delas no segmento de importação e exportação de componentes eletrônicos – que eu conhecia pouco –, mas que renderam grande aprendizado”, conta Ferreira. A persistência levou Ferreira a buscar alternativas de investimento em uma empresa do ramo que conhecia – a Design On Divisórias – e a renovou, transformando-a em fabricante e lançando produtos inovadores. Hoje, cinco anos depois, é o único dono de uma empresa que fatura R$ 25 milhões/ano e emprega 70 funcionários, contra oito que existiam inicialmente. “A empresa já ocupa o segundo lugar no mercado e busca mais”, enfatiza.
O executivo explica que começou observando as deficiências do setor. “Pesquisei bastante, percebi muitas falhas no atendimento dos concorrentes e as acertamos. Em apenas três anos, nos tornamos uma das líderes do setor.” Atualmente, Ferreira diz que a empresa se prepara para parcerias internacionais. Conquistou por três anos seguidos o prêmio Top Marca, categoria Divisórias, conferido pelo Arcoweb, o maior portal de arquitetura da América Latina, e pela Arco Editorial, organizadora do prêmio e responsável pela revista Projeto Design.
O segredo, afirma Ferreira, foi ter um grande conhecimento do mercado e um bom planejamento, desde o processo de instalação da fábrica até a abordagem do mercado, passando pelas metas de crescimento. “Para ser empreendedor não se deve depender do resultado financeiro da empresa, mas atentar à concorrência, conhecer o segmento e planejar.” Segundo ele, é uma tarefa difícil e requer força de vontade, disposição, estrutura emocional para administrar adversidades e uma boa área de RH. “Este é um bom momento para se pensar em empresa. O mercado está carente de bons profissionais e bons produtos.”
Pesquisa realizada pelo Grupo HSBC com pequenas e médias empresas de mercados emergentes em 21 países – Brasil, México, Hong Kong, China, Malásia, Indonésia, Cingapura, Vietnã, Índia, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Taiwan, Egito, Quatar, França, Turquia, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Argentina e Panamá –, divulgada na última quinzena de janeiro, mostra um cenário positivo para investimentos e contratações em 2010. É a maior pesquisa internacional do segmento, da qual participaram mais de 6.300 empresas, sendo 300 do Brasil. Na pesquisa, o Brasil se estabeleceu como segundo país mais confiante da América Latina, atrás apenas do Panamá.
Para Daniel Zabloski, diretor de Pequenas e Médias Empresas do HSBC no Brasil, “a crise para o empreendedor brasileiro é um capítulo encerrado e o cenário é extremamente positivo para 2010. Estamos vendo uma retomada efetiva, que pode ser percebida na confiança do empreendedor para os próximos meses”. 
Renato Fonseca, consultor do Sebrae-SP, acredita que o brasileiro tem uma vocação empreendedora marcante. Só no Estado de São Paulo são abertas 130 mil empresas por ano. “Mas é a combinação de variantes como necessidade, vocação, estímulo, acesso às informações, opção de vida profissional e percepção de oportunidade que levam as pessoas a buscar o próprio negócio”, diz. 
A pesquisa “10 anos de Monitoramento da Sobrevivência e Mortalidade das Empresas”, realizada no Estado de São Paulo pelo Sebrae entre 2000 e 2005 e divulgada em 2008, ouviu dois mil empreendedores. O estudo indica que 35% dos entrevistados têm vocação empreendedora e 32% identificaram uma oportunidade de lucro no mercado. Igual pesquisa foi refeita com os mesmos empresários, mas levando-se em conta o método do GEM, e apurou-se que dois terços dos entrevistados, ou seja, 66% abriram empresas porque vislumbraram oportunidade de negócio e 34% por necessidade. “No Brasil, atualmente, a cada dois brasileiros que abrem uma empresa formal por oportunidade existe um que o faz por necessidade”, informa Fonseca.
Ainda de acordo com a mesma pesquisa, 46% dos entrevistados declararam não conhecer os clientes e os seus hábitos; 32% dizem não ter informação dos fornecedores; 29% não sabem o número de concorrentes e 27% não estudaram a melhor localização para seu negócio.
Para Pedro Gonçalves, também consultor do Sebrae-SP, das 130 mil empresas abertas por ano em São Paulo, 27% fecham no primeiro ano de vida. “Entre as principais causas estão a falta de planejamento prévio e a má gestão”, explica. O empreendedor tem que estar atento aos negócios, a mudanças de hábitos do consumidor, à concorrência e a fatores como cenário econômico interno e externo e tributação.


*O projeto é realizado em diversos países, a partir de um modelo da London School of Business (Inglaterra) e Babson College (EUA). No Brasil, o projeto GEM é de responsabilidade da unidade nacional do Sebrae e do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP).



Por: Silvana Orsini
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº2. Abril/Maio/Junho – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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