quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PERIGO DA LIPOASPIRAÇÃO

A falta de formação especializada pode ocasionar complicações e morte
© Juanmonino | istockphoto.com
A valorização exagerada da estética pela mídia, em geral, os anúncios de página dupla em revistas de clínicas oferecendo lipoaspiração e outros procedimentos em prestações a perder de vista, a frequência cada vez maior de médicos nos meios de comunicação, notadamente em programas femininos de televisão mostrando o “antes e depois” de uma cirurgia, tornou o Brasil o segundo país em realização de cirurgias plásticas.
Diversos médicos se apresentam como especialistas e, portanto, capacitados. O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira, que fiscalizam os cursos de Medicina, no entanto, informam que o médico que põe no consultório a placa “especialista em medicina estética” comete uma infração ética grave. Estes cursos são, na verdade, cursos de dois anos (lato sensu) e que capacitam o médico a executar procedimentos específicos, como aplicação de toxina botulínica, lipoaspiração, implante de mama, plástica de nariz e peeling cirúrgico.

No Brasil, um médico cirurgião pode executar procedimentos cirúrgicos, incluindo as lipoaspirações, em qualquer área, até mesmo na de cirurgias plásticas. No entanto, para que esse procedimento venha a ser feito por um verdadeiro especialista cirurgião plástico, o profissional deve, além de ter feito a faculdade de Medicina, passar por residência de dois anos em cirurgia geral e mais três em cirurgia plástica. Logo após, sendo aprovado em um exame escrito e oral, poderá ser membro da SBPC – Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, órgão que tem o objetivo de promover e avançar no estudo da cirurgia plástica no Brasil.
“O especialista de verdade ganhou uma formação completa na residência, passou por UTI, viu doenças de todos os tipos. Sabe ver se o paciente que vai fazer lipoaspiração tem uma hérnia que precisa ser corrigida. Toma cuidado para não perfurar o intestino. O médico que cursa essas pós-graduações tem formação segmentada. Depois de operar três pacientes ele está apto? Eu acho que não”, diz José Tariki, ex-presidente da SBCP.
Segundo estudo da entidade, 75% dos procedimentos no País são feitos por motivos estéticos e o restante, 25%, em função de necessidades reparadoras. A lipoaspiração responde por cerca de 20% das cirurgias estéticas e deve ser considerada como uma cirurgia normal, que requer anestesia e todos os cuidados próprios de um procedimento de risco.
Diversos casos têm sido divulgados a respeito de lipoaspirações malsucedidas e que resultaram em morte. Um caso recente, ocorrido em janeiro deste ano, vitimou uma jornalista de 27 anos que trabalhava em Brasília, em uma televisão local. Ela morreu em função de uma perfuração equivocada de uma veia e o médico processado por homicídio doloso. 
A lipoaspiração deve ser feita em um centro cirúrgico, com todo o aparato de emergência, equipamentos de anestesia, monitores para verificação contínua do coração, pressão, respiração e saturação de oxigênio, ressuscitador e desfibrilador. É necessária também a presença de uma equipe de profissionais além do médico. Apesar de todos os cuidados, “nenhuma cirurgia tem risco zero”, diz o médico Luiz Eduardo Felipe Ablas, cirurgião plástico da Universidade Federal de São Paulo, “e nem toda cirurgia estética é indicada a todos”. É preciso se submeter inicialmente a exames e possuir uma boa saúde para a realização da lipoaspiração.
A lipoaspiração é uma técnica criada pelo cirurgião plástico Yves Gerard Illouz, em 1978. Ela é feita por uma cânula introduzida na camada subcutânea, onde estão as células de gordura (logo abaixo da epiderme – a mais superficial – e da derme, intermediária), e visa a sua retirada em locais onde os acúmulos gordurosos não somem com dietas ou exercícios. A lipoaspiração não é indicada para quem quer emagrecer e sim para aqueles que possuem peso adequado à altura e desejam melhorar o contorno do corpo. O recomendado pelo Conselho Federal de Medicina é que não se aspire mais que 7% do peso corporal, quando se usar a técnica infiltrativa e 5% quando se usar a técnica não infiltrativa.
O cirurgião plástico Carlos André Meyer, membro da SBCP, explica que “a técnica infiltrativa é aquela em que a lipoaspiração é precedida pela injeção, na gordura que será inspirada, de uma solução composta de soro, vasoconstritores e, às vezes, anestésicos locais. A solução injetada faz com que as células de gordura inchem, facilitando a lipoaspiração e que as artérias e veias se contraiam, diminuindo o sangramento cirúrgico”.
Essa técnica é obviamente a preferida pelos cirurgiões em detrimento da não infiltrativa, onde nada é injetado e não fazem parte dos procedimentos adotados nas chamadas minilipos, lipoaspiração light e hidrolipoaspiração. “Estes termos não são mencionados nas resoluções do Conselho Federal de Medicina, pois simplesmente não existem. Eles foram inventados pelos médicos não especialistas, que, desiludidos com suas carreiras, enveredam pelo universo da medicina estética e, para baixar os custos da lipoaspiração, criam esses termos”, alerta o médico. Essas intervenções prometem redução de pequenos acúmulos de gorduras localizadas em um dia apenas e são realizadas, muitas vezes, nas próprias clínicas desses médicos.
A recomendação é que, para a realização da lipoaspiração, consulte-se um médico da SBCP, que sejam feitos exames pré-operatórios para uma verdadeira cirurgia e que ela seja realizada em locais adequados como um centro cirúrgico, provido de toda a segurança necessária.


Por: Neusa Pinheiro
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº3. Julho/Agosto/Setembro – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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