quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SONO CONTURBADO

A síndrome atinge de 5% a 15% da população mundial


Descrita pela primeira vez peloneurologista suíço Karl-Axel Ekbom, em 1947, a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) caracterizase por alterações da sensibilidade e desconforto nas pernas, nos braços e, às vezes, até no tronco. A doença acomete, preferencialmente, os adultos e sua incidência aumenta com o envelhecimento. 
O diagnóstico é fundamentalmente clínico e depende de boa avaliação do médico sobre os sintomas do paciente.
Segundo o neurologista Luiz Fabiano Marin, do setor Neuro–Sono da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, a SPI é uma condição médica crônica, caracterizada por desconforto nos membros. “Esse desconforto apresenta-se como dor, queimação, cãibra, pontadas e parestesias (sensações na pele como calor, formigamento, pressão e dormência) que surgem sem estimulação direta sobre o local. Costuma ser localizado nas panturrilhas e é aliviado temporariamente por banhos quentes ou atividade física”, explica o especialista. 
Gilmar Fernandes do Prado, também professor de Neurologia da Unifesp, lembra que a doença ocorre quando o indivíduo interrompe suas atividades para descansar, principalmente à noite, ao dormir. “A SPI traz um comprometimento muito grande à pessoa afetada, pois, se os sintomas forem mais intensos, o paciente pode até não dormir à noite ou dorme apenas algumas horas no final da madrugada”, alerta. 
Essas sensações obrigam o paciente a massagear as pernas, alongar, esticar ou levantar-se e andar pela casa. “O importante é saber que, junto com os sintomas (formigamento, agulhadas, tremores ou choques), associa-se um sentimento de angústia muito grande caso o paciente não mova as pernas”, Neusa Pinheiro explica ainda o professor Fernandes do Prado. Segundo ele, os sintomas da SPI melhoram com os movimentos, principalmente com o andar. 
Algumas vezes o(a) parceiro(a) de cama ajuda informando se o paciente também faz movimentos de pernas à noite. Muitos pacientes com SPI têm os chamados movimentos periódicos dos membros durante o sono. Mas,
os especialistas afirmam que apenas a presença deles não significa que o indivíduo tenha SPI. 
A causa da SPI ainda é desconhecida, mas já se sabe que há uma forma transmitida geneticamente. É comum após o diagnóstico o paciente identificar outros membros da família com SPI. Além disso, já se detectou o envolvimento da dopamina, substância presente no cérebro, na síndrome. Em pacientes com SPI essa substância é deficiente.
"A diminuição da atividade da dopamina ocorre em locais diferentes daqueles pacientes que têm doença de Parkinson, por exemplo. Por isso, sempre informamos aos pacientes com SPI que eles não apresentam maior chance do que outro paciente de desenvolver a doença – já os pacientes com Parkinson, esses sim apresentam chance maior de SPI”, esclarece Marin. 
Pesquisas mais recentes investigam as relações entre o ferro no cérebro, os problemas na medula e a dopamina, responsável pelas informações entre os neurônios que executam movimentos. Quem tem SPI parece ter diferenças no metabolismo do ferro, ou seja, no modo como ele é absorvido, excretado, e como chega ao neurônio. 
Prado esclarece ainda que outras doenças estão associadas à SPI. Entre elas, estão a anemia, insuficiência renal crônica – com o paciente em diálise – e até o estado de gravidez (a incidência chega a cerca de 14% nas grávidas). Doenças neurológicas que afetam a medula espinhal, mal de Parkinson e enfermidades que envolvem os nervos também podem ser relacionadas à SPI. 
O tratamento da síndrome é bastante amplo. Não há cura para a doença, mas é possível controlá-la com muita eficiência dando ao paciente uma grande melhora em sua qualidade de vida. Primeiramente”, esclarece o professor Gilmar Fernandes do Prado, “deve-se dizer ao paciente o que é a doença, oferecer a ele, inclusive, material para a leitura. O site da Abraspi - Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas -, www.sindromedaspernasinquietas.com.br, tem sido bastante útil em prestar essas informações”, diz. 
“Aqui, na Disciplina de Neurologia da Unifesp estamos verificando o quanto é possível melhorar os sintomas da SPI com exercícios físicos regulares. Também estamos verificando se a acupuntura traz algum benefício para os pacientes”, afirma o professor Fabiano Marin. 
Cuidar da alimentação também faz parte do tratamento. É importante saber que alguns alimentos como chocolate, coca-cola, guaraná, chá-mate ou chá preto e café, assim como o cigarro e o álcool, podem piorar a SPI, devendo o paciente estar sempre atento a mudanças clínicas quando passa a tomar, por exemplo, um antidepressivo.


Autora: Neusa Pinheiro

Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº1. Jan./Fev/Mar – 2010.
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br


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