terça-feira, 31 de agosto de 2010

TAL PAI, TAL FILHO

Nutricionistas orientam pais a adotar bons hábitos alimentares desde cedo


© ilona75 | istockphoto.com
Qual pai não passou pelo momento de enfrentar o filho que recusa o alimento? Ou qual adulto já não implorou para que a criança comesse, usando de todo artifício possível para convencê-la, como se ela não comer, não vai crescer; se limpar o prato, vai ganhar um presente; ou fazendo aquele já tradicional “aviãozinho”? Pois esses artifícios não são nada aconselháveis de serem usados com os    pequenos, principalmente quando se utiliza a chantagem ou barganha para convencê-los a comer.
De acordo com o nutrólogo e pediatra da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), Mauro Fisberg, a seletividade é uma fase normal do desenvolvimento infantil. “Porém, é uma fase que tende a passar. Por outro lado, algumas crianças adotam esse comportamento de maneira exacerbada e começam a apresentar baixo peso, falta de atenção, desenvolvimento lento no aprendizado, deficiência de nutrientes como ferro, vitaminas e sais minerais”, diz o especialista.
Os nutricionistas, assim como os médicos, têm a opinião de que os bons hábitos alimentares devem ser estimulados desde a infância. A alimentação deve incluir frutas, legumes e verduras. E as guloseimas devem ser deixadas de lado.
Mas como estimulá-las ou despertá-las para uma alimentação saudável e equilibrada se os próprios pais se alimentam de maneira inadequada? Como convencer os filhos a não incorporarem o fast food ou junk food como parte de sua rotina se nem eles mesmos possuem bons hábitos alimentares? Segundo o médico, a família é o modelo para a criança. “Se as refeições não são feitas à mesa, se os pais e os irmãos mais velhos só comem lanches, dificilmente a criança vai gostar de alimentos como frutas, verduras e legumes”, alerta. 
Brigitte Olichon, professora do curso de Nutrição da Faculdade Arthur Sá Earp Neto (FASE), de Petrópolis (nota máxima – cinco, na última avaliação do MEC), diz que“a criança deve ser apresentada aos alimentos saudáveis como algo que faz parte da vida familiar. Só depois de, no mínimo, sete vezes ter experimentado o alimento, é que podemos considerar que ela pode não gostar de algum tipo específico de comida”. Ainda segundo a nutricionista, “o que a criança come é de responsabilidade dos adultos. Ela não tem discernimento suficiente para fazer escolhas acertadas. Os pais devem ser firmes em sua posição de educadores”. 
A alimentação errada na infância, como o excesso de gorduras e falta de nutrientes, como os do junk food ou comida lixo, na tradução, pode vir a provocar a obesidade em crianças maiores e, principalmente, nos adolescentes, e assim antecipar em até 20 anos o aparecimento de doenças cardiovasculares, como o enfarte e acidente vascular cerebral.
A razão disso é a aterosclerose, ou o envelhecimento precoce das veias. De acordo com o cardiologista Wilson Salgado, médico assistente da unidade clínica do InCor, “o jovem obeso está com os mesmos índices de uma pessoa até 20 anos mais velha”. A opinião é compartilhada pela médica e diretora da ABN – Associação Brasileira de Nutrologia, Márcia de Castro Sebastião, que diz que a obesidade hoje atinge cerca de 30% dos jovens. Segundo ela, “a maioria das crianças não toma café da manhã antes de ir para a escola, come frituras e bebe refrigerante”. 
As atribulações da vida moderna e a consequente falta de tempo dos pais fazem com que deem comidas impróprias aos seus filhos. É mais prático, menos trabalhoso. Entretanto, esta “comodidade” só prejudica. “Os pais devem impor limites como horários para as refeições, locais  apropriados e ritmo de alimentação sem exageros na duração (30 minutos são o ideal)”, diz Fisberg. Algumas orientações são comuns entre médicos e nutricionistas. Na hora da refeição, é preciso evitar distrações, oferecer alimentos coloridos e que despertem o apetite das crianças. A introdução de novos alimentos deve ser feita de maneira sistemática, assim como oferecer sempre frutas, verduras e legumes, servir a refeição em conjunto com os familiares e limitar o consumo de líquidos.
A ausência de controle por parte dos pais, assim como o modelo de inspiração inadequada de alimentação que podem vir a dar aos filhos, é uma possível explicação do aumento da obesidade entre as crianças. A outra seria a genética. As crianças hoje são muito ligadas a televisores, computadores e videogames. A vida urbana e o medo das ruas as forçam ao confinamento do lar. Em tempos remotos, as crianças queimavam mais calorias. Brincavam na rua, no quintal, reuniam-se com a turma para andar de bicicleta, jogar futebol.
Antigamente, a gordura era padrão de beleza e de sucesso. O desejável para a mãe era que os filhos fossem gordinhos, robustos e corados, mas não havia conhecimento que o fator obesidade poderia se tornar um problema sério de saúde. Os erros mais comuns são cometidos pelos pais, quando, desde a mamadeira, inserem na alimentação de seus filhos o açúcar e a gordura do leite de vaca, muitas vezes acompanhados de farináceos.
“Há uma prevalência de diabéticos, hipertensos e obesos na vida adulta que foram precocemente apresentados a alimentos não saudáveis. O que plantamos nas crianças, hoje, é o que colheremos amanhã no adulto”, afirma a nutricionista Brigitte.
Estudos publicados na revista norte-americana Pediatrics, em sua edição de fevereiro, demonstram o papel negativo do merchandising nos maus hábitos alimentares das crianças. Segundo a pesquisa, a maioria dos filmes infantis é financiada pelas indústrias de alimentos não saudáveis, como doces e balas, salgadinhos e bebidas açucaradas. Foram analisados mais de 200 filmes entre os anos de 1996 e 2005 e a maioria, ou seja, 69% apresentavam pelo menos uma vez a imagem desses alimentos.
Portanto, pais, cuidado com o que comem durante as refeições, principalmente ao lado de seus filhos.

Autora: Neusa Pinheiro
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº2. Abril/Maio/Junho – 2010.
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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