sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PÉS DOLORIDOS

Calçados inadequados e fatores genéticos causam essa “pedra no sapato”
© Carolinasm | Dreamstime.com

Terezinha Palácio Leite tem 33 anos e é dona de casa. De uns tempos para cá, algo começou a atrapalhar sua vida atribulada: dores nos dois pés, principalmente quando usa sapatos apertados. Ela observou alguns desvios do dedão, em especial no pé esquerdo. “Sinceramente, não sei quando começou. Se uso sapatos apertados, sempre sinto dor porque
pressiona. Meu pai tem o problema em um dos pés, já eu tenho nos dois. Nunca procurei um médico para tratar”, conta. A dona de casa recorre às “rasteirinhas” para aliviar o incômodo. “Geralmente quando os sapatos apertam, eu faço de tudo para tirá-los logo. De dez minutos a meia hora sem eles já ameniza bastante a dor”, lamenta.
Esses são alguns dos sinais de joanete, mal que atinge mulheres e homens – na proporção de oito para um –, com manifestação, em geral, na adolescência e vida adulta, e também com casos na infância. É caracterizada pela saliência na cabeça do primeiro osso metatársico, próximo à base do dedão do pé, chamado cientificamente de halux valgo.
Segundo a ortopedista Cibele Réssio, especialista em pé e tornozelo da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp, o primeiro indício do joanete é a dor. “O joanete, o halux valgo, só ocorre no dedão do pé e, em consequência, pode deformar outros dedinhos laterais, que chamamos de dedos em garra”, explica.
O desvio do primeiro dedo, que fica fora da rotação de eixo, gera mais dores com comprometimento das articulações, completa Marcos Kardequi Silva Raquel, ortopedista do Hospital Beneficência Portuguesa de Santo André (SP). “Outros problemas, devidos à incongruência articular e má distribuição de carga durante a marcha, podem ocorrer como calosidades na estrutura do pé por conta dessas alterações”, acrescenta.
A predisposição genética é um dos fatores preponderantes para o aparecimento dos indesejáveis joanetes. Outro vilão é o uso prolongado de sapatos inadequados, que provocam pressões nos dedos. Um exemplo é o irresistível salto alto. De acordo com os especialistas, o tolerável é que o salto tenha entre três e quatro centímetros no máximo, para não sobrecarregar a parte dianteira dos pés. “Sapato inadequado é aquele que tem salto muito alto e apertado. As queixas de joanete aparecem mais entre as mulheres porque calçados incorretos são os que elas mais gostam e usam”, aponta Marcos Raquel. A dica é alternar os dias de usar salto
alto e adotar os calçados mais baixos e confortáveis.
No consultório, o diagnóstico do joanete é feito por meio de exame físico em que se verificam as condições dos pés, além de radiografias para conferir o nível de deformidade que varia de leve a grave. “A primeira orientação depois do diagnóstico é o uso de sapato adequado. Se
houve a evolução do problema, a cirurgia é a mais indicada”, continua o ortopedista do Beneficência Portuguesa de Santo André. 
Vale lembrar que pessoas com doenças reumát icas podem ter deformidades nos pés, que se assemelham ao joanete, mas não há qualquer relação. “Doenças reumáticas podem causar deformidades articulares, mas não são consideradas como o joanete simples. O nome é diferente – chamamos de pé reumatoide – e o método cirúrgico também”, informa Marcos Raquel. 
As técnicas cirúrgicas abrangem a remoção da deformidade, o realinhamento ou reconstrução das articulações, dependendo de cada caso. “Não existe um tratamento clínico eficiente para melhorar a deformidade. A cirurgia faz a correção e, dependendo do seu grau, aplica-se o método mais apropriado”, elucida Cibele Réssio. A recuperação ocorre de três a seis semanas, complementa a ortopedista da Unifesp. Repouso e também a utilização de calçado pós-cirúrgico, conhecido como sandália de Barouk, na qual o paciente apoia o calcanhar e deixa a região operada para fora, são outros cuidados.
“No caso leve, a recuperação vai de três semanas, usando o sapato especial, e seis semanas no caso mais grave. Recomenda-se também fisioterapia, entre 17 e 20 dias depois da cirurgia. O joanete só volta se o método utilizado for mal realizado. Após a recuperação a pessoa tem a vida normal, podendo praticar esportes e usar qualquer tipo de calçado”, finaliza Cibele Réssio.


Por: Keli Vasconcelos
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº3. Julho/Agosto/Setembro – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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