segunda-feira, 28 de março de 2011

Estimulantes

Liberados para atleta
Creatina e cafeína, antes proibidos nos suplementos alimentares, foram liberados pela Anvisa.



Quem frequenta shopping centers várias vezes se depara com algumas lojas cujas vitrines exibem potes e mais potes com imagens de atletas com corpos perfeitos e músculos tonificados e bem delineados. São embalagens de todos os tamanhos e para todos os fins, voltadas a um público que se formou, basicamente nas últimas décadas, ávido por um corpo saudável e esteticamente perfeito. Esses atletas buscam alternativas e complementações nutricionais que o exercício físico regular, regrado e bem praticado, em boa parte das vezes, necessita.
A orientação alimentar não é exatamente uma novidade dos tempos atuais. Ela existe há muitos séculos. Na Grécia antiga, por exemplo, Diógenes Laertius (220 a.C.) sugeria aos atletas uma alimentação à base de queijo úmido, nata e figos secos. Alguns autores af irmam que nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, muitos atletas consumiam diariamente 125 gramas de manteiga ou óleo de algodão, doces, um litro e meio de leite e três ovos diariamente. O esforço concentrado, as “explosões” musculares exigidas em atividades esportivas e a necessidade de resistência física levaram à necessidade de maiores quantidades de alimentos bem como de uma alimentação por vezes menos saborosa, constituindo-se um dos principais desafios do profissional responsável pela alimentação. “Nutrir o atleta é uma arte. O limite da irresponsabilidade e do sucesso esbarra em compromissos éticos e pleno conhecimento dos nutrientes”, diz Celso Cukier, nutrólogo esportivo do Hospital do Coração – HCor, de São Paulo.
A suplementação alimentar é mais recente. Em geral, são substâncias produzidas quimicamente e que têm a propriedade de complementar a ação dos alimentos naturais, dando ao atleta mais força e energia. Alguns laboratórios ou fabricantes as indicam também para a redução de peso e ganhos de massa muscular. Normalmente, os usuários mais comuns são nadadores, jogadores de vôlei, basquete, fisiculturistas, corredores e outros.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou os suplementos de creatina e cafeína para incrementar o rendimento de atletas durante a atividade física. A liberação ocorreu neste momento porque só agora foi comprovada cientificamente a segurança desse tipo de substância como alimento. Segundo a diretora da Anvisa, a farmacêutica e bioquímica Maria Cecília Brito, essas substâncias não devem ser consumidas por quem pratica atividade física ocasionalmente. “Uma dieta balanceada e diversificada já é suficiente e recomendável para atender às necessidades nutricionais”, prossegue. A creatina tem origem endógena (formada pelo próprio organismo) e é encontrada principalmente no músculo esquelético das pessoas. É originalmente sintetizada no fígado e no pâncreas, por meio dos aminoácidos arginina, glicina e metionina, mas também pode ser adquirida com a ingestão de carnes ou pela suplementação. É importante fonte de energia química para contração muscular, pois facilita a transferência de energia dentro das células.
Os músculos são constituídos por 70% de água e a creatina ajuda a introduzir a água nas células musculares, dando-lhes aparência de inchados e maior volume. “O processo ajuda na síntese de proteína, proporciona maior duração da atividade física de alta intensidade e ainda diminui o lactato muscular”, explica Tatiana Dall Agnol, nutricionista e mestre em nutrição esportiva pela Escola Paulista de Medicina. A dose recomendada em protocolos é de 20 gramas por dia de creatina por um período de seis dias, seguida de uma dose de manutenção de três a cinco gramas diárias por um determinado período. Ingerida com soluções de carboidrato, o efeito é potencializado.
A outra substância liberada é a cafeína, que atua no sistema nervoso e acelera o metabolismo. Ela é um estimulante, mas não melhora o desempenho atlético, necessariamente. O efeito é individual, depende de cada organismo. “Ela é uma das principais xantinas, substâncias que são encontradas em estado natural numa série de plantas como café, chás, mate, cacau e guaraná, entre outras. É acrescentada a bebidas energéticas e alguns remédios”, afirma a nutricionista Tatiana. A cafeína fortalece o sistema cardíaco, melhorando o seu rendimento, e prolonga e intensifica o estado ativo das fibras musculares, aumentando sua força e freqüência de contração. As bebidas energéticas fornecem cafeína como um recurso ergogênico (forma de facilitar e otimizar o trabalho) utilizado no sentido de potencializar o desempenho de resistência. A literatura diz que, em relação aos exercícios físicos de longa duração, o uso da cafeína promove melhoria na eficiência metabólica dos sistemas energéticos durante o esforço, contribuindo para um melhor desempenho físico.
No entanto, essas substâncias não estão livres de reações adversas: “A utilização indiscriminada de creatina pode trazer comprometimento do fígado e dos rins e a da cafeína pode causar irritação, nervosismo, alterações no sono e, até mesmo, o aumento da pressão arterial”, diz Alessandra Paula Nunes, professora do curso de nutrição do Centro Universitário São Camilo. Aquele que ingere a creatina pode sentir efeitos colaterais como náusea, desconforto estomacal, tonturas e diarreias. O uso prolongado da substância deve ser acompanhado por profissionais de saúde e nutrição para monitoramento de suas funções no organismo. A utilização indiscriminada dos suplementos de creatina e cafeína pode, ao invés de nutrir e beneficiar o organismo, causar problemas metabólicos e até cardíacos graves.

Por: Neuza Pinheiro
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº4. Outubro/Novembro/Dezembro - 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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