segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ALÉM DA BELEZA

Há quase 30 anos o medicamento é usado para tratar algumas doenças
© Xavigm | Dreamstime.com



Apesar do alerta sobre os riscos do uso excessivo do botox, divulgado pela FDA – agência norte-americana de controle de medicamentos e alimentos –, o produto derivado da toxina botulínica continua ganhando espaço. Mais conhecido pelos seus efeitos estéticos e de rejuvenescimento facial, o medicamento Eli Serenza acumula resultados positivos em diversas áreas da medicina. Já revolucionou alguns tratamentos clínicos e obteve quase 100% de sucesso na redução de sintomas, ainda que temporários, de doenças graves e incuráveis, como é o caso da esclerose múltipla e da distonia muscular, incluindo o blefaroespasmo, por exemplo, que pode levar à cegueira funcional.
O uso da toxina botulínica tipo A na medicina foi aprovado pela primeira vez no mundo em 1989, nos Estados Unidos, como uma alternativa não cirúrgica para tratar o estrabismo. Desde então, o medicamento foi aprovado em 80 países para 21 indicações diferentes. No Brasil, a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – autorizou seu uso clínico a partir de 1992, para o tratamento da distonia e de estrabismo.
Hoje o tratamento terapêutico com a toxina botulínica é disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em hospitais de todo o País e o medicamento é reembolsado pelos planos de saúde. Isso só não ocorre ainda no tratamento da disfunção miccional, provocada pela bexiga hiperativa e no controle da hiperidrose, ou o suor excessivo nos pés, mãos e axilas, tratamento pelo qual o paciente paga caro, pois o botox ainda é o único derivado da toxina botulínica com uso aprovado no País.
A toxina não trata as causas das doenças, mas atenua os sintomas e sequelas, o que ajuda os pacientes a recuperarem a qualidade de vida, na opinião dos especialistas de diversas áreas médicas, pois, em geral, as doenças que podem ser tratadas com botox comprometem significativamente o bem-estar dos pacientes.

Bexiga hiperativa
Em janeiro de 2009, o botox recebeu a aprovação da Anvisa para tratamento de bexiga hiperativa neurogênica. O problema, que atinge cerca de três milhões de brasileiros, já vinha sendo tratado em outros países com aplicações da toxina botulínica há pelo menos sete anos, com resultados comprovados nos casos de pacientes que sofrem de incontinência urinária de urgência (aqueles que perdem urina antes mesmo de chegar ao banheiro).
A idade agrava o risco para a incontinência, que costuma atingir duas mulheres para cada homem, segundo Fernando Almeida, urologista responsável pelo Setor de Disfunções Miccionais e Urologia Feminina da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo. Ele explica que os tratamentos usuais incluem exercícios de fisioterapia para fortalecer a musculatura pélvica e os chamados medicamentos anticolinérgicos, que servem para inibir a contração muscular. “O botox é indicado para os casos em que esses procedimentos não surtem efeito, pois a substância é aplicada diretamente no músculo, promovendo relaxamento temporário da bexiga e minimizando contrações indesejadas e a rigidez excessiva do músculo.”

Hiperidrose
A médica Ada Trindade de Almeida, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Sociedade Internacional de Hiperidrose, explica as vantagens do tratamento. “A toxina botulínica tipo A é aplicada diretamente na região em que o suor é produzido e seu uso pode ser feito no consultório, sem necessidade de anestesia ou maiores riscos para o paciente, ao contrário da opção mais invasiva e cirúrgica (simpatectomia), que pode resultar no efeito compensatório, ou seja, a migração da sudorese para outras partes do corpo”, esclarece. Ela defende também que, no caso desse distúrbio, “o conceito de qualidade de vida se torna muito importante, já que a secreção da glândula sudorípara produz desconforto e efeito psicoemocional mais graves que as alterações físicas da própria doença”.
Andréia Bezerra teve acesso ao tratamento da hiperidrose durante uma campanha promovida no posto de saúde do bairro paulista de Heliópolis há cerca de três anos. “A dor provocada pelas 25 picadas para a aplicação do botox em cada axila não foi nada diante do resultado”,
garante ela, que sof re com o problema de transpiração excessiva desde o início da adolescência. Depois de 10 dias da aplicação, Andréia passou nove meses sem o excesso de suor.

Distonia
A distonia muscular é uma doença neurológica que produz contrações involuntárias em determinadas regiões do corpo quase sempre acompanhadas de dor. Os espasmos podem afetar uma pequena parte do corpo como os olhos, pescoço ou mão (distonias focais), duas partes vizinhas como o pescoço e um braço (distonias segmentares), um lado inteiro do corpo (hemidistonia) ou todo o corpo (distonia generalizada).
O tratamento com a toxina botulínica tipo A reduz muito esses sintomas e, no caso da blefaroespasmo, sua eficácia é praticamente de 100%, segundo o professor Delson Silva, neurologista coordenador do Centro de Referência em Transtornos do Movimento do Núcleo de Neurociências do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. Ele destaca que os recursos oferecidos pelo governo para o tratamento da distonia são de pr imeiro mundo, mas é preciso conscientizar a população sobre a existência da doença e dos tratamentos.
“A aplicação da toxina botulínica atenua as contrações e as dores, além de ajudar os pacientes a corrigirem a postura e a recuperarem o bem-estar. Mas, como em outras aplicações, o efeito é temporário e o tratamento deve ser repetido aproximadamente a cada três ou quatro meses de acordo com as necessidades dos pacientes”, conclui.

Por: Eli Serenza
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº1. Jan./Fev/Mar – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário