quinta-feira, 2 de setembro de 2010

RESPIRAÇÃO EM PERIGO

A doença crônica exige mudança de hábitos para controlá-la
© Keeweeboy | Dreamstime.com



A asma, caracterizada pela inflamação dos brônquios e obstrução das vias respiratórias, é a doença crônica mais comum na infância, atingindo de 10% a 15% da população nessa fase. Ao longo da vida, a falta de tratamento adequado
pode levar ao agravamento da enfermidade, que tem três estágios diferentes: considerada leve nos casos de crises esporádicas, facilmente controladas, com uma ou duas ocorrências mais agudas ao longo do ano; moderada, quando as crises são mais frequentes e já afetam a capacidade pulmonar; e grave, quando o sistema respiratório está comprometido de tal foPrma, que o doente tem que fazer uso permanente de medicação e precisa de internação hospitalar para reverter as crises.
Segundo o médico Rafael Stelmach, ex-presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, no Brasil são gastos por ano R$ 100 milhões com internações de pacientes com asma, apenas na rede do Sistema Único de Saúde. Esse valor, no entanto, já foi bem maior, considerando-se que houve uma redução de 125 mil na média anual de doentes hospitalizados em consequência da asma, tomando como base os números registrados entre 2000 (400 mil internações) e 2007 (275 mil internações/ano).
Como se trata de uma doença crônica e incurável, de causas ambientais e forte incidência hereditária, ele considera a redução das internações como um bom indicat ivo da evolução dos medicamentos e da eficácia dos tratamentos preventivos no controle das crises agudas e de quadros graves. Ao contrário de outras moléstias, tratamento preventivo, no caso de asma,não significa impedir a existência da doença, mas reduzir os episódios e evitar que as vias respiratórias sof ram obstrução progressiva e irreversível.
Mesmo com a redução significativa nos números registrados pelo SUS, no entanto, a chamada doença pulmonar obstrutiva crônica, ou DPOC, é a quarta causa de internação registrada no país, abaixo apenas da pneumonia, insuficiência cardíaca e fraturas. O índice de mortalidade felizmente é bem mais baixo, ficando em 31o lugar do ranking, com 3.111 óbitos no último levantamento realizado, o que significa uma média de 8,5 mortes por dia. Mas o problema ocorre em todo o mundo e tem maior incidência em regiões urbanas e em países desenvolvidos, atingindo entre 30% e 40% da população do Canadá e da Grã-Bretanha, enquanto na África, por exemplo, a asma não ataca mais que 3% ou 4% dos habitantes, ainda que possa haver subnotificação da doença.
Segundo o pesquisador Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo – que desenvolve pesquisas com o objetivo de fornecer informações sobre quem está produzindo a poluição, seus efeitos e seus custos –, o programa Impacto Global da Doença, criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Banco Mundial, permite calcular os custos com a saúde de forma bem mais abrangente do que os índices do SUS, incluindo perda de produtividade e redução de expectativa de vida. “Por esses cálculos, a cidade de São Paulo chega a perder até US$ 1 bilhão por ano, valor que permitiria construir 10 quilômetros de metrô no mesmo período, reduzindo uma das principais fontes de poluição do ar, que é a frota de veículos”, conclui o pesquisador. 


Avanço nos tratamentos 
A asma não tem cura, mas tem controle. Os médicos que lidam com a doença são unânimes em afirmar que atualmente existem tratamentos eficazes e seguros que ajudam diminuir a inflamação dos brônquios e, com isso, os deixam mais resistentes, permitindo ao paciente levar uma vida normal e ativa, sem entrar em crise. “Não deixe a asma tomar conta de você... tome sim, você, conta dela!” Esta é a mensagem que a pneumologista pediátrica Fabiola Villac Adde, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICHCFM-USP), gosta de passar para os seus pacientes. “Procuro consolidar essa ideia durante o atendimento na consulta e ao longo do tratamento, pois existem muitos mitos em relação a efeitos colaterais da medicação, que levam muitos pacientes ou seus familiares a não seguirem adequadamente as indicações ou até a abandonarem os remédios, prejudicando sua função preventiva”, esclarece.
Segundo ela, o tipo de tratamento anti-inflamatório mais efetivo é à base de corticoides inalatórios, formulados em spray ou em pó, que já vem num dispositivo próprio para ser inalado. “A forma inalável e as pequenas doses reduzem significativamente os efeitos colaterais e apresentam maior eficácia na prevenção de crises.” 
Há mais tempo no mercado, os broncodilatadores se apresentam em xaropes, gotas (para inalação) ou também em forma de spray (bombinhas). Em qualquer uma dessas formas, “é o remédio que deve ser usado nas crises, para abrir os brônquios que se fecharam, melhorar a tosse, o chiado e a falta de ar”, explica a médica. “Todo broncodilatador acelera um pouco o coração e causa alguns tremores. Mas isso não vai ser perigoso e não vai prejudicar o coração quando usado na dose e intervalos corretos, conforme recomendação do médico.” A combinação de antiinflamatórios e broncodilatadores em um único medicamento, como no caso dos produtos mais recentes no mercado, tem a vantagem de os fármacos serem utilizados em dose única, nas crises de asma de nível moderado ou grave, o que não é indicado para os pacientes infantis, esclarece a doutora Fabiola.  
Além dos remédios, o controle da asma exige mudanças de hábitos. “É preciso evitar o contato com os fatores que desencadeiam o processo, não mantendo em casa coisas que acumulem pó, como carpetes, tapetes, cortinas pesadas ou muitos bichos de pelúcia. É recomendável, também, fazer limpeza com pano úmido para o pó não levantar, não usar produtos de limpeza fortes, como removedores, desinfetantes ou cera.” A doutora Fabiola também faz restrições a animais domésticos, principalmente os que têm pelos ou penas, e é categórica ao afirmar que ninguém deve fumar em casa. “O cigarro é um importante irritante para os pulmões de qualquer um, principalmente das crianças e mais ainda das crianças asmáticas”, alerta.


Por Eli Serenza



Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº1. Jan./Fev/Mar – 2010.
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br




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