terça-feira, 19 de outubro de 2010

MENSAGEIRA VITAL

Pequena glândula que, quando em disfunção, pode se tornar grande vilã
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A tireoide, uma das glândulas mais importantes do corpo humano, pode ser grande vilã do organismo e comprometer a qualidade de vida de mulheres e homens. Sua principal função é produzir os hormônios triiodotironina (T3) e tetraiodotironina (T4), que agem em praticamente todos os órgãos, estimulando várias funções, como uma espécie de combustível do corpo. Os hormônios tireoidianos são responsáveis, entre outras ações, por controlar os batimentos cardíacos, funcionamento do intestino, temperatura corporal, humor e memória, além de outras funções cognitivas. Agem também nos ossos, músculos e no tecido adiposo. Nas mulheres, esses hormônios controlam ainda o ciclo menstrual e a ovulação.
Quando a glândula tireoide produz menos ou mais hormônios do que o necessário, o organismo desenvolve disfunções graves conhecidas como hipotireoidismo e hipertireoidismo, respectivamente. Essas disfunções podem ser desenvolvidas tanto pelo estilo de vida do paciente como também podem ser herdadas geneticamente. 
O hipotireoidismo é caracterizado, principalmente, por provocar cansaço, desânimo, podendo evoluir até para depressão, sonolência, pele seca e fria, queda de cabelo, irregularidade menstrual, diminuição da libido, edemas (inchaço), alteração da memória, intolerância ao frio (sente-se mais frio do que o normal). O paciente pode apresentar também bócio (aumento da glândula tireoide) e lentidão dos reflexos profundos.
Já o “hiper” causa irritabilidade, dificuldade de concentração, agitação, perda de peso, intolerância ao calor (sente-se mais calor do que o normal), tremor de extremidades, pele quente, sudorese excessiva, insônia, queixa de ardência ocular e intolerância à claridade. Quando realizado exame físico, o paciente pode apresentar ainda bócio, pele quente e úmida, tremor nas mãos, aumento do globo ocular (proptose ocular) e hiperemia de conjuntiva (olhos vermelhos).
Formada por dois lobos (metades), conectados pelo istmo (parte central), a tireoide fica localizada na base do pescoço, abaixo do pomo de Adão. Conforme explica Gisah Amaral de Carvalho, médica endocrinologista e membro do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e chefe do Ambulatório de Tireoide do Serviço de Endocrinologia e Metabologia da Universidade Federal do Paraná (SEMPR), tanto o “hipo” quanto o “hiper” são considerados doenças autoimunes. “Isso acontece quando o próprio organismo produz anticorpos que combatem a glândula e bloqueiam ou estimulam o seu funcionamento, respectivamente”, explica.
Segundo um estudo da NHANES (Nat ional Health and Nut r it ion Examinat ion Sur vey), divulgado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o hipotireoidismo está presente em 3% a 5% da população. E é considerado a doença tireoidiana mais prevalente no mundo. As mulheres são mais propensas a desenvolver a disfunção, principalmente no período pós-parto e na menopausa. Neste período a doença chega a acometer de 12% a 15% da população feminina.
As alterações hormonais são um fator importante para desencadear disfunções na tireoide. De acordo com Magnus R. Silva, médico endocrinologista e membro do Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), é possível que as razões estejam relacionadas ao papel facilitador do hormônio estrógeno, mais abundante em mulheres. “É importante lembrar que o percentual de hipotireoidismo aumenta com a idade, tanto em mulheres quanto em homens com mais de 60 anos”, comenta Magnus. A pesquisa revela ainda que o hipertireoidismo é menos prevalente que o hipo e, em geral, está presente em 1% da população. Neste caso, as mulheres também são mais propensas que os homens a desenvolver a doença.
O tratamento em ambos os casos é simples, como explica o endocrinologista. “No hipotireoidismo o paciente deve ser tratado com reposição hormonal, um comprimido de levotiroxina – um sal hormonal sintético –, que pode ser ingerido via oral, de forma regular e diária. Já no hipertireoidismo devem ser usadas drogas que fazem o bloqueio da síntese excessiva de hormônio endógeno, ou ainda reduzir a glândula tireoide hiperfuncionante com iodo radioativo. Também pode ser realizada cirurgia para retirada da glândula. As doses iniciais desses medicamentos, assim como o ajuste continuado, são específicas para cada paciente, respeitando-se a idade, peso, doenças associadas e os exames laboratoriais de acompanhamento”, afirma o especialista.
Para a endocrinologista Gisah Amaral de Carvalho, quanto mais cedo se descobrir a doença, melhor será a resposta ao tratamento e, consequentemente, a melhora da qualidade de vida. “O paciente sente melhora clínica em poucos dias, em geral entre uma e duas semanas do início do tratamento, mas os exames laboratoriais devem ser repetidos após seis semanas – exceto nos casos mais graves em que este monitoramento é mais intenso”, reforça Gisah. Ela chama atenção ainda para o aumento, no Brasil e no mundo, da prevalência das disfunções da tireoide. “Isto se deve a múltiplos fatores, como a maior ingestão de iodo, tipo de alimentação, fatores ambientais e estresse, entre outros”, conclui a endocrinologista.

Por: Elisandra Escudero
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº2. Abril/Maio/Junho – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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