sexta-feira, 22 de outubro de 2010

QUANDO FALTA VONTADE

O problema ainda é tabu e exige muita sensibi-lidade do médico
© DrGrounds | istockphoto.com
A sexualidade feminina ganha cada vez mais espaço nos consultórios, com um número crescente de mulheres à procura de soluções e respostas para suas dif iculdades em manter relações satisfatórias. Boa parte das pacientes que buscam ajuda de um profissional está preocupada em salvar o casamento, uma relação em crise ou até mesmo conseguir engravidar. Os problemas de libido aparecem em todas as faixas etárias, embora a iniciativa de ir ao médico seja mais comum entre as mulheres mais jovens.
Por envolver questões culturais e de comportamento, o assunto ainda é considerado tabu para muitas pacientes, o que exige atenção e sensibilidade do médico para descobrir se o problema é causado por alteração hormonal, depressão ou decorrente de algum tratamento medicamentoso.
Descartadas essas hipóteses, o desinteresse e a apatia que resultam da perda da libido podem caracterizar a Síndrome do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo, conforme classificação da Organização Mundial da Saúde – problema que afeta cerca de 10% da população adulta feminina do planeta.
Computadas todas as outras causas da falta de libido, a porcentagem de mulheres com dificuldades sexuais aumenta para 30% ou 40% do total da população. E mais: o restante não é garantia de satisfação sexual, pois inclui mulheres que não têm vida sexual, não atingem o orgasmo e não se incomodam com isso.

Idade e libido
Segundo a diretora da Clínica de Reprodução Humana Chedid Grieco, a ginecologista Sivana Chedid, o envelhecimento físico traz alguns problemas como as cardiopatias ou diabetes, que podem afetar o desempenho sexual. Mas a idade por si só não justifica a queda da libido, o que está muito mais relacionada à vida do casal e ao relacionamento estabelecido entre os parceiros. A médica constata que a fadiga e o estresse são as principais causas para o desinteresse sexual entre as suas pacientes. Em segundo lugar estão os problemas familiares e conjugais – o que inclui a disfunção sexual do parceiro; em terceiro, os problemas orgânicos já mencionados e, em último lugar, baixa autoestima e vergonha do próprio corpo.
“Entre as situações de todos os tipos, é possível até mesmo encontrar casais que convivem bem com a falta de sexo e estabelecem outras formas de relacionamento. Esse tipo de paciente procura ajuda médica apenas para engravidar”, revela a médica. Outra constatação da especialista é que a mulher pode chegar ao orgasmo sem ter desejo pelo parceiro e também pode ter desejo e não atingir o orgasmo, mas mesmo assim se sentir satisfeita com a relação e consumar o ato sexual.

Diferenças biológicas
No homem o processo tem uma sequência mais definida, como observa a psiquiatra Carmita Abdo, que coordena o ProSex – Projeto Sexualidade, implantado em 1993 pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “No sexo masculino o desejo funciona como uma espécie de gatilho, que leva à excitação, seguida pela ereção, que vai desencadear no orgasmo, permitindo consumar a relação”, descreve a psiquiatra.
Por conta dessas diferenças biológicas, Carmita Abdo e Silvana Chedid concordam que a baixa libido ou a ausência de orgasmo na mulher só necessitam de tratamento quando geram angústia e frustração. “Quando isso não incomoda a mulher nem prejudica seu relacionamento, não existe problema”, garantem as duas especialistas.
Mas, para as mulheres que querem incrementar ou preservar a vida sexual, a medicina dispõe de um arsenal variado de tratamentos, que pode incluir psicoterapia, reposição hormonal, mudança de hábitos e alguns medicamentos, embora não tratem diretamente a disfunção sexual feminina. 
Atualmente o ProSex registra uma média de mil atendimentos por mês, começando pela triagem, que inclui consulta com clínico geral, investigação ginecológica, exames de endocrinologia e avaliação psicológica. Apesar de funcionar no Instituto de Psiquiatria da USP, a equipe tem formação multidisciplinar e um dos recursos que o programa adota é a terapia cognitivo-comportamental que, em geral, fornece respostas mais rápidas e imediatas que a psicoterapia tradicional. “O objetivo é identificar e ajudar a paciente a encontrar maneiras de mudar de atitudes que bloqueiam sua libido ou interferem no desempenho sexual”, esclarece Carmita Abdo. A médica observa, ainda, que problemas psicológicos podem ser causa ou consequência de estados depressivos e, nesses casos, a terapia inclui medicamentos. 
A ginecologista Silvana Chedid, no entanto, alerta para o risco de certas medicações terem efeito colateral sobre a libido da mulher, o que inclui alguns antidepressivos, além de anticoncepcionais, remédios para hipertensão ou para outros problemas orgânicos. “Nesses casos, cabe ao médico regular as dosagens dos remédios utilizados ou avaliar a prioridade do tratamento”, complementa a médica.

Tratamentos
Entre os tratamentos disponíveis para melhorar a disposição sexual feminina, está a reposição hormonal, que tem como foco equilibrar as dosagens de estrogênio e progesterona, os chamados hormônios ovarianos, assim como a testosterona, hormônio predominante no homem, mas que também afeta o desempenho da mulher. A utilização dos hormônios sintéticos, no entanto, só é recomendada nos casos em que a produção natural é afetada por algum desequilíbrio orgânico ou no climatério, quando a queda da produção hormonal é acentuada, culminando com a menopausa, quando o ciclo reprodutivo feminino se encerra.
Para quem busca efeito imediato, sem contraindicações, há dois anos já estão disponíveis no mercado pomadas de uso tópico. A medicação age de forma similar aos medicamentos para impotência masculina, pois aumenta a irrigação sanguínea e a sensibilidade do órgão sexual, além de melhorar a lubrificação vaginal, que se reduz a partir do climatério.
Uma nova substância – a flibanserina –, em fase de testes na Europa e nos Estados Unidos, pode se tornar a primeira droga a atuar diretamente na libido feminina. Testes descritos em um artigo publicado pela revista científica Journal of Sex Research indicam aumento médio mensal de 96% nos “eventos sexuais satisfatórios” entre cerca de 800 voluntárias que se submeteram ao tratamento durante 24 semanas. Mas, como se trata de um medicamento ainda em estudo, não há previsão para a sua comercialização.


Por: Eli Serenza
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº2. Abril/Maio/Junho – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

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