segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A ALTERNATIVA PARA A SAFENA

Um novo enxerto é utilizado nas cirurgias do coração

Em cirurgias cardíacas, sempre que uma artéria é obstruída, geralmente são utilizados três vasos sanguíneos para fazer pontes: a safena, a mamária e a veia radial. Recentemente incorporou-se aos procedimentos médicos uma nova alternativa trazida pela experiência dos cirurgiões plásticos: a artéria circunflexa lateral da coxa.
Por se tratar de uma artéria e não de veia, como no caso da safena, existem algumas vantagens: segundo o médico cirurgião do InCor – Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, Miguel Antonio Moretti, a veia safena tem uma longevidade variável, entre 10 e 18 anos, e a mamária dura cerca de 15 a 20 anos. “Ainda faltam estudos para determinar essa duração, já que esse procedimento é relativamente recente. Mas, por se tratar de uma artéria, o implante de uma ponte com a circunflexa lateral da coxa deve durar quase tanto quanto a mamária ou outra artéria, como a radial”, explica.
Segundo o especialista, a grande vantagem está na capacidade que essa artéria teria de aumentar sua atividade e função, se estimulada). “Este evento poderia ser desencadeado quando do implante no coração, o que reverteria, teoricamente, em melhores resultados de potência com consequente redução de morbimortalidade”, diz Moretti.
As veias e artérias são utilizadas em cirurgias cardíacas sempre que uma artéria é obstruída. Elas serviriam de ponte dentro do coração, cumprindo a missão de levar o sangue de um ponto a outro. Após a inter venção, o sangue volta a fluir normalmente. Assim, a artéria circunflexa se apresenta como uma alternativa a mais, o que se torna particularmente importante, já que temos apenas pare s de safenas, mamárias e radiais. Fábio Gaiotto, cirurgião pesquisador do InCor, acrescenta que, “por ser um enxerto arterial, a perviabilidade a longo prazo deve ser maior. O procedimento é de fácil execução e seguro”.
Segundo o médico, a artéria é retirada através de uma incisão na face lateral da coxa, porção proximal. “O resultado estético é muito satisfatório. No restante, a técnica de utilização no coração obedece a preceitos clássicos para o emprego de enxertos arteriais de segunda escolha (os de primeira escolha são as duas mamárias).” 
A cirurgia já foi aprovada e vem sendo utilizada no InCor. Apesar de recente, possui um embasamento sólido na literatura médica. “Havendo indicação, emprego o enxerto rotineiramente”, diz o cirurgião Gaiotto.
De fato, com os estudos concluídos e a coleta de dados completa, a operação foi realizada em 32 pacientes, nos quais 26 com resultados positivos. Entre esses houve a ocorrência de oclusão, após sete dias, e em apenas um caso a oclusão tardia (após três meses), mas sem eventos adversos decorrentes, pois o enxerto é considerado de segunda escolha e aplicado em ramos coronarianos secundários. “Nos seis pacientes restantes, a artéria era muito fina e não pôde ser utilizada, o que é muito comum em cirurgias de revascularização do miocárdio com enxertos arteriais, pois ocorrem variações anatômicas.”
De acordo com Gaiotto, as melhores artérias são retiradas de homens jovens e longilíneos. Já Moretti acredita que, apesar de utilizada como ponte alternativa, pode-se pensar em substituir o implante de safena por essa artéria, se os estudos confirmarem todas as vantagens.
O diretor da Divisão Cirúrgica Torácica e Cardiovascular do Instituto do Coração, Noedir Stolf, afirma que os resultados estão próximos dos obtidos com as mamárias – consideradas as melhores até hoje para esse tipo de operação. Apesar de não haver ainda estatísticas de dados a respeito do tempo de resistência às obstruções nas veias circunflexas laterais da coxa, alguns exames mostraram que, após um ano ou dois, o calibre da artéria, em pacientes estudados, chegou até a aumentar.
Os pacientes idosos e diabéticos são grandes beneficiados pela nova opção, pois não têm boa aceitação da retirada de vasos do tórax, de acordo com Stolf. “A questão é que cada pessoa tem só duas artérias mamárias e pode precisar de mais vasos, tanto para substituir pontes anteriores como novas”, lembra. 
Além disso, uma cirurgia pode exigir mais de cinco pontes. O tipo de ponte a ser utilizado pelo cirurgião vai depender da localização da obstrução coronariana, do número de artérias obstruídas, do tamanho das artérias, das condições e idade do paciente.
Apesar da incidência crescente de coronariopatia em jovens adultos, houve um melhor controle do espasmo em enxertos arteriais e ampliou-se o emprego de artérias nas revascularizações.
 Se o médico optar por fazer um enxerto arterial, ele pode escolher a artéria radial, que irriga o braço e tem representado uma ótima opção cirúrgica; as artérias mamárias, que irrigam as mamas e estão consagradas pelo uso, tendo demonstrado superior idade em per viabilidade (facilidade de f luxo sanguíneo) a longo prazo sobre as safenas; ou a epigástrica, do estômago. 
O conhecimento prático adquirido em salas de cirurgias do InCor com a utilização da artéria circunflexa é também uma importante contribuição brasileira para a cirurgia de revascularização do miocárdio.


Por: Neusa Pinheiro
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº2. Abril/Maio/Junho – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ADEUS SORRISO AMARELO

O tratamento estético odontológico ainda desperta dúvidas
© Gvictoria | Dreamstime.com
Ter dentes brancos e perfeitos, como aqueles que aparecem nos comerciais, novelas e filmes, tornou-se o sonho de muitas pessoas e, por que não, a mais nova moda. O tratamento que promete proporcionar esse sorriso é o clareamento dental. Com o passar do tempo, os dentes sofrem alterações fisiológicas, ficando mais amarelados por conta da deposição de minerais na dentina. Além disso, outros fatores também podem colaborar para o escurecimento dos dentes, como alimentação e ingestão de bebidas e comidas com muito corante, tais como café, vinho tinto, molhos e condimentos, fora o cigarro, que contém corantes amarelos capazes de pigmentar a superfície dental. Segundo Marco Masioli, cirurgião-dentista e consultor em estética da ABO – Associação Brasileira de Odontologia, o clareamento dental age na “intimidade” do dente. Os materiais clareadores penetram no esmalte e, na dentina, liberam oxigênio que, por sua vez, “quebra” as moléculas dos pigmentos causadores das manchas, deixando as moléculas menores e mais claras. Há dois métodos de clareamento, o caseiro e o a laser, como explica Sidnei Goldman, especialista em implantes dentários: “No tratamento caseiro o paciente leva um gel, à base de peróxido, e uma moldeirinha para casa. O tratamento consiste na aplicação do gel na moldeira que será utilizada todas as noites, até que os dentes fiquem brancos. Já o clareamento a laser é feito no consultório e com um resultado imediato. Essa técnica é mais moderna e utiliza um gel, também à base de peróxido, sobre a superfície externa dos dentes e a aplicação do laser sobre eles, ativando a liberação de moléculas de oxigênio, que penetram na estrutura dentária, eliminando as manchas”.
A especialista em clareamento dental Bianca Vimercati explica que ambos os métodos são eficazes, podendo variar o tempo de tratamento e o custo. “O clareamento caseiro supervisionado dura, em média, de três a quatro semanas e o a laser leva de três a quatro sessões, sendo uma por semana, realizadas no consultório. Com relação ao custo, o primeiro é geralmente mais barato, pois o tempo clínico gasto pelo dentista é reduzido e a maior parte do tratamento é feita em casa. Demora um pouco mais para se obter o resultado desejado, mas não perde para nenhum outro em termos de durabilidade.”
O clareamento dental é contraindicado para pacientes alérgicos ao peróxido de hidrogênio ou a qualquer outro componente do produto. Além disso, não é capaz de clarear de forma satisfatória dentes manchados por tetraciclina, substância encontrada em antibióticos; por fluorose severa, que é o escurecimento causado por excesso de flúor; e manchas nas cores azul, marrom ou cinza. “Outro fator importante é que as restaurações ou próteses já existentes não mudam de cor com o tratamento clareador, assim, o paciente poderá ter dentes com cores diferentes, o que se torna esteticamente desagradável”, esclarece Masioli.
Além de o clareamento dentário não ser uma solução milagrosa capaz de deixar qualquer dente mais branco, é preciso também ressaltar que ele não é um tratamento definitivo. Segundo Vimercati, clarear os dentes não significa ficar livre de manchas, pois, com o passar do tempo, isso acontece, independentemente de tê-los clareados ou não.
O clareamento dental tem se tornado cada vez mais popular e, com isso, muitas pessoas acabam usando produtos clareadores sem a orientação e supervisão de um profissional. Estes tratamentos caseiros não funcionam bem, pois as moldeiras não são personalizadas e, por isso, não se adaptam aos dentes do paciente. Consequentemente, o gel clareador não entra em contato com as superfícies que devem ser clareadas, não chegando ao resultado esperado. Além disso, esse método pode ser prejudicial.
De acordo com Masioli, o gel pode escorrer para áreas de tecido mole, isto é, gengiva e língua, causando feridas, além de ter grande chance de acarretar sensibilidade dental. Por isso, todo clareamento dental necessita de acompanhamento e supervisão, e só o dentista pode fazer um diagnóstico correto do tipo de manchamento.

Por: Camila Pupo
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº1. Jan./Fev/Mar – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br


terça-feira, 21 de setembro de 2010

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

Organizações apostam em ações preventivas de saúde para o bem-estar dos colaboradores
Fotos: Divulgação
Os seres humanos estão vivendo neste planeta há aproximadamente 250 mil anos, mas só recentemente se começou a discutir o que fazer para viver melhor. A perspectiva é de que a geração do terceiro milênio atinja facilmente os 115 anos, em média, com as vacinas e medicamentos cada vez mais eficazes e com a consciência de que devemos procurar dar qualidade a nossa vida como um todo.
Há uma forte demanda para melhorar a qualidade de vida e a promoção da saúde no mundo inteiro, não somente no sentido de assistência médica (medicina curativa), mas também no sentido de prevenir doenças (medicina preventiva). Hoje, a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) faz parte da estratégia das organizações. Um número cada vez maior de empresas demonstra sua preocupação quanto ao comportamento e aos hábitos de saúde de seu profissional ao ser contratado, tais como: fumo, álcool, dietas inadequadas, sobrepeso, prática de atividades físicas e de lazer, entre outros. São hábitos que estão diretamente ligados ao adoecimento e à baixa produtividade, podendo causar estresse e doenças crônicas em seus funcionários e, secundariamente, levar ao absenteísmo.
Sabemos que nossa capacidade de trabalho é mediada pelo nosso estado de saúde. Então, quanto mais saudável e em boa forma estivermos, mais chances teremos de aumentar nossa idade produtiva e desenvolver uma carreira profissional melhor.
Há algum tempo as pessoas estão relacionando boa saúde com uma carreira positiva. Em todo o planeta programas de promoção à saúde estão crescendo com vigor merecido, pois têm mostrado resultados animadores em termos de produtividade, solução de problemas, redução de estresse e de doenças crônicas. Promover mudanças no estilo de vida dos indivíduos de uma sociedade como um todo é um desafio. Isto é extremamente difícil pela natural resistência do ser humano a mudanças. Sair da “zona de conforto”, para muitas pessoas, é penoso.
Como convencer as pessoas a alterar hábitos já estabelecidos e prejudiciais à sua saúde e depois mantêlos pelo resto da vida? Uma política de encorajamento contínua e vigorosa, com campanhas educativas e comprometimento dos líderes, é que vai determinar o sucesso desta empreitada.
Para muitas empresas que arcam com “doenças e afastamentos”, a prevenção significa um gasto equivalente a 1,5% a 2% do custo com a assistência curativa. Temos visto crescer em ambulatórios médicos de empresas as queixas de estresse, insônia, distúrbios alimentares (sobrepeso e obesidade, anorexia e bulimia) e dores nas costas, entre outras, que podem estar relacionadas com hábitos de vida e organizadas do trabalho e no trabalho. 
Como é muito difícil trabalhar com estes dados e fechar o quebra-cabeça, os indivíduos têm sido acompanhados isoladamente. Um bom programa de prevenção e QVT, mesmo inicialmente tímido, pode colocar a todos sob um mesmo bojo, trabalhando de maneira global todas as causas de adoecimento e absenteísmo relacionadas com estes fatores.
Campanhas que estimulem hábitos saudáveis, como exercícios físicos regulares, reduzem a ansiedade e a depressão e têm um impacto positivo sobre outras características psicológicas, tanto em pessoas normais, quanto naquelas com patologias clínicas como hipertensão e diabetes. O exercício físico regular reduz a idade biológica, retarda o processo de envelhecimento e diminui o tempo de dependência das pessoas idosas.
A atividade física no lazer tem grande importância para a promoção da saúde porque, geralmente, é acompanhada por outros hábitos saudáveis, como redução ou interrupção do fumo, menos consumo de álcool, melhora dos relacionamentos interpessoais e, consequentemente, do clima no trabalho e menos fadiga nas atividades do dia a dia. O mundo segue no rumo da Qualidade Total, o que vai exigir indivíduos bem preparados, com criatividade para trazer novas ideias e sugestões para melhorar a saúde, a empresa e a sociedade.

Por: Dr. Alexandre Diamante
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº1. Jan./Fev/Mar – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ENTRE O SILÊNCIO E A PALAVRA

Informação é o mais importante para a pessoa que gagueja
Minha vida se divide em duas: antes e depois de entender melhor o que é a gagueira. Até perceber que não existia culpa por gaguejar, que a gagueira era involuntária e não tinha cura, vivia uma vida de vergonha e culpa. Tinha medo de situações que precisasse me expor. As coisas mais simples me marcavam. Atender telefone, marcar uma consulta, pedir um lanche. Teve época em que deixei de usar relógio por medo de que alguém me perguntasse as horas.”
O depoimento é de Paulo Amaro Martins, auditor fiscal de 45 anos, de Campinas (SP). Com histórico na família – uma tia, primos e um sobrinho –, Paulo gagueja desde a infância. Ele conta que, somente após buscar um especialista e entender o tema, conseguiu lidar com o receio que o afligia. “Com a maturidade e o acesso à informação minha vida mudou. Continuo gaguejando, mas não deixo de fazer nada por causa dela. Se tenho de fazer, faço, se tenho de falar, falo, e as pessoas têm que me ouvir”, enfatiza.
A história de Paulo é uma entre quase dois milhões de pessoas que gaguejam no Brasil. A proporção é de quatro homens para uma mulher, segundo dados do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF). Vale lembrar que gaguejar difere de outro problema que incide na fala: a disfluência. “Disfluência ocorre entre os 2 e os 4 anos, dura algumas poucas semanas e, se bem trabalhada, vai embora. Gagueira é um distúrbio na fluência da fala. A fluência é uma das propriedades da linguagem. Por isso, gagueira é um distúrbio de linguagem e deve ser tratada pelo profissional legalmente habilitado, que é o fonoaudiólogo”, explicam as fonoaudiólogas Ignês Maia Ribeiro e Anelise Junqueira Bohnen, respectivamente presidente e diretora educacional do IBF. “A maior incidência de gagueira é ao redor dos 3 anos, justamente quando o processo de aquisição de linguagem está em andamento”, completam.
“Há diferentes tipos e graus de gagueira. Ninguém é cem porcento fluente: nós apresentamos algumas hesitações (é, hum...), utilizamos interjeições (né, tá...) e fazemos pausas durante a fala. No entanto, essas disfluências são consideradas comuns a todos os falantes. As pessoas que gaguejam costumam apresentar outros tipos de disfluência, como repetições de sons, sílabas, palavras, prolongamentos, bloqueios etc.”, acrescenta Érica Ferraz, fonoaudióloga do Grupo Microsom.
A genética é relevante para o problema, que não tem causa específica. Diferentemente do que se imagina, estresse e movimentos involuntários – corporais (tiques) ou vocais –, por exemplo, não provocam a gagueira crônica. “Em geral, as pessoas que gaguejam têm histórico familiar positivo e, na ausência deste, pode haver uma história perinatal importante. Já sabemos o que não causa gagueira: sustos, traumas, tombos... A tendência de as pessoas pensarem que gagueira é desencadeada por algum fator psicológico não tem fundamentação científica. Ela pode ser classificada como leve, moderada e severa. Mas é importante saber que a gagueira, além de involuntária, é intermitente, ou seja, em certos dias a criança pode gaguejar bastante em alguns momentos e gaguejar nada em outros. Por isso, um processo de avaliação vai permitir saber a frequência da gagueira”, esclarecem Ignês e Anelise.
Segundo as especialistas, a gagueira resulta de uma falha no sincronismo da ativação nas áreas da fala no cérebro, “sugerindo uma maior atividade do hemisfério direito como um mecanismo compensatório”. Isso pode dificultar a organização sequencial dos movimentos da fala, conforme cada indivíduo. Esta é também a chave para o seu tratamento.
Érica Ferraz, do Grupo Microsom, destaca que a descoberta precoce ajuda no sucesso terapêutico. “Existem diferentes graus de gagueira e o tratamento varia de acordo com a gravidade do quadro. Nem todas as pessoas que gaguejam procuram ajuda. Se a gagueira for diagnosticada logo na infância, o tratamento é essencial e as possibilidades de melhora são grandes. No entanto, na fase adulta, essa opção depende do quanto a dificuldade de fala incomoda e incapacita a pessoa a realizar suas atividades diárias”, diz.
Além da terapia, aquele que gagueja encontra barreira em uma infinidade de situações que o leva a “ter” sua fala compreendida. Para o bate-papo não se tornar um martírio, é importante que o ouvinte não interrompa ou mesmo “complete” o que o interlocutor tenta dizer. “Expressões como ‘para’, ‘respira’ e ‘calma’ só exacerbam a dificuldade da fluência. Afinal, a pessoa que gagueja tem as palavras ‘na ponta da língua’ e apenas quer a oportunidade de expressá-las”, aconselham as fonoaudiólogas. Paulo sabe bem disso. “O maior ganho que se pode obter em um tratamento é a aceitação. A consolidação interna de que nós somos gagos e não estamos gagos. Ao aceitar a gagueira, pude perceber o real tamanho que ela tem em minha vida, e é muito menor do que eu imaginava. Eu sou muito maior que ela”.

Por: Keli Vasconcelos
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº1. Jan./Fev/Mar – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

MAL DAS PERNAS

Longos períodos em pé e o sedentarismo podem agravar o problema
Fazer atividades que demandam períodos em pé sem movimento, ou cultivar os velhos e péssimos hábitos do sedentarismo, do fumo e da obesidade acendem o sinal de alerta: você corre sério risco de ter varizes, problema que atinge aproximadamente 38% da população brasileira.
O sexo feminino é o principal alvo, com incidência 2,5 vezes maior que nos homens. A hereditariedade é um forte indicativo, mas não é fator único. Do mesmo modo, há dúvidas se o salto alto também pode desencadear as varizes. Segundo os especialistas, sabe-se que esse tipo de calçado isoladamente não provoca a disfunção.
As varizes, também, podem aparecer em outros segmentos do corpo, como no esôfago, embora não tenha nada a ver com as populares varizes nos membros inferiores. 
Alterações anormais no calibre e no comprimento das veias superficiais, que auxiliam na circulação e retorno do fluxo sanguíneo ao coração, formam as varizes nas pernas. “Quando as veias superficiais dos membros inferiores ficam dilatadas e com refluxo, passam a ser denominadas veias varicosas”, explica o cirurgião vascular Ivan Casella, diretor de publicações da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular – Regional São Paulo – SBACV-SP.
“Estima-se que 24% das pessoas com mais de 40 anos tenham doença varicosa em algum grau. Em geral, surgem na idade adulta; mas há quem tenha varizes já na adolescência”, acrescenta o médico. “De acordo com a Classificação da Doença Venosa Crônica (CEAP), as veias alteradas em membros inferiores são basicamente de dois calibres: telangiectasias ou veias reticulares (vasinhos), cujo tratamento pode ser feito basicamente com escleroterapia; e a variz propriamente dita, quando a veia está dilatada e tortuosa, demandando normalmente terapia operatória”, pontua o também o cirurgião vascular Gilberto Narchi Rabahie, do Hospital do Coração – HCor, em São Paulo.
Se não forem avaliadas e tratadas, as varizes geram agravantes que comprometem seriamente a qualidade de vida e a saúde dos pacientes. As complicações vão desde a pigmentação (escurecimento) da pele, passando pela inflamação das veias – a conhecida flebite –, até as temidas úlceras varicosas, que são aquelas de difícil cicatrização. No consultório, o diagnóstico clínico consiste em exames físicos, além de recursos como o Doppler ultrassom, método de imagem mais utilizado para complementar as informações anatômicas necessárias.
Inchaço, dores e o grande desconforto estético são alguns dos dilemas enfrentados pela pessoa com varizes. Um exemplo é o de Cecília Gonçalves da Silva. “Varizes? Tenho e como! Há mais de 30 anos. Várias pessoas da minha família têm varizes, minha filha inclusive”, conta a aposentada de 84 anos. Cecília queixa-se de dores, principalmente quando permanece muito tempo em pé, e já houve episódios em que ficou “com as pernas pretas” por conta da má circulação.
A aposentada usou meias elásticas recomendadas pelo cirurgião vascular, porém recorre atualmente mais à medicação. “Para as dores eu tomo um remédio que o médico já havia me passado. Assim, melhora a dor e o inchaço, que aumenta à tarde e quando está muito quente”, comenta.
E os remédios existentes no mercado resolvem? O cirurgião vascular Ivan Casella responde: “Os medicamentos que chamamos de flebotônicos têm a função de aliviar os sintomas da doença varicosa, como a dor e o desconforto, mas não diminuem o tamanho das veias”, alerta.
No caso das meias elásticas, completa Gilberto Rabahie, do HCor,“devem ser utilizadas conjuntamente com os medicamentos, sendo um tratamento paliativo até o momento da correção cirúrgica. Em condições normais, o tratamento mais adequado é o cirúrgico, devendo ser sempre a primeira opção terapêutica”.
“Outra técnica é a cirurgia a laser, em que é introduzida uma fibra ótica na veia safena para ocluir a veia varicosa”, destaca Ivan Casella. “É importante ressaltar que a cirurgia pelo método laser não é superior à cirurgia convencional”, acrescenta. Casella explica que, no tratamento cirúrgico de varizes, o cirurgião vascular remove as veias dilatadas e insuficientes, deixando as sadias intactas. “No entanto, em alguns indivíduos, essas veias saudáveis podem vir a se dilatar ao longo dos anos, com regressão da doença”, completa.
No caso das microvarizes (telangiectasias), a terapia utilizada é a escleroterapia, na qual é aplicado um líquido concentrado esclerosante na veia por meio de agulha fina, “secando” o vaso afetado. Vale lembrar que os “vasinhos inconvenientes” não evoluem para varizes mais graves. “A tendência é o aumento da extensão do vaso e não do calibre”, esclarece Gilberto Narchi Rabahie, do Hospital do Coração. Portanto, aos primeiros sinais, o passo é buscar ajuda médica, para que a pessoa não acabe “mal das pernas”, literalmente.

Por: Keli Vasconcelos
Fonte: + Saúde Magazine. Ano 1, nº 2. Abril/Maio/Junho – 2010
Contato: maissaudemagazine@portoalegreclinicas.com.br